"De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto."
Rui Barbosa
Como o cara faz para se encaixar no sistema?
Cidade grande, novo no emprego, e no mercado de trabalho, vindo não apenas do interior, porém do interior do interior, lá da colônia, da área rural onde todos, até ontem, se tratavam por “compadre” e a diversão maior era o futebol descalço no sábado à tarde. No máximo até a hora de tirar leite. Ou aquele baile quase anual aguardado por toda a pequena comunidade.
Nos domingos!?! Missa, almoço em família e uma visita aqui e outra ali, quase sempre só as mulheres, aos parentes próximos; os compadres se reuniam no salão paroquial para disputar o tão aguardado dominózinho, outra das escassas distrações de fim de semana.
Chega assim nosso desavisado personagem, acostumado aos valores rígidos e enérgicos, porém jamais imposto a força e sim assimilado através dos exemplos familiares advindos desde sempre, não pregado, mas interpretado depois de lido o sermão dominical pela autoridade mais respeitada na região em assuntos do conduzir-se adequadamente.
Os estudos na escola agrícola lhe deram um diploma, - o segundo passo em direção a tão sonhada “liberdade” - e o parentesco com o primo que prematuramente já havia desistido da roça conduziu-o a um emprego respeitado, porém nos primeiros relatórios foi avisado de que existem situações que nem todos “querem”, ou “precisam” saber o que realmente está acontecendo, e outras que a “maioria” sabe que é assim que funciona.
O que fazer quando tão de repente o que lhe foi ensinado como sagrado e jamais poderia ser adjetivado de outra forma, ou mesmo possui sinônimos bastante adversos ao pregado pelo Santo Padre lhe é colocado como uma clausula invisível para se manter empregado?
Abandona o tão promissor emprego?
Joga o jogo sujo; dando continuidade na partida em andamento?
Como mudar a forma já assimilada por todos?
Sai fora?
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História do papelão.
Conheço esta história já há alguns anos.
Diz-se, que é norma entre todos aqueles que juntam papelão para sobreviver, molhar a carga antes de passar pela balança da empresa. E sempre que um catador, desavisado, inicia-se no esquema, e questiona sobre esta ação que é prática comum entre todos, - onde, inclusive o dono sabe que ela existe - recebe como resposta sempre a mesma explicação.
Que o proprietário da empresa fixa um preço adequado e inferior já sabendo da manobra dos catadores que costumam molhar a carga tendo assim aumentado o seu peso devido à água.
É um efeito cascata, então, aquele que não umedece a carga, automaticamente estará perdendo dinheiro.
Ou seja; eles molham o papelão porque sabem que o patrão sabe que eles molham o papelão.
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Já postei aqui, e não faz muito, que no Filme “A Grande Ilusão”, um ex juiz livre e muitíssimo conceituado, devido ao seu poder de membro respeitado na comunidade, porém preso ao passado condenável que o mantém ali; solta: “A única forma de não saber é não querer saber”.
Tenho comigo que deve ser extremamente difícil para alguns indivíduos, - nem todos, existem aqueles que convivem e bem com o mal que carregam – pensar que a qualquer momento podem ser questionados sobre o que sabiam; sobre a podridão que já há muito sabiam existir, porém foram obrigados, para manter seus postos sem sentido, suportar o gatilho retesado da verdade escondida; que, como um torniquete que acocha a cada dia mais, deixa claro que a pressão do medo de esconder, do camuflar, é quase maior que o outro: o inegociável estrago que lhe seria causado, – principalmente - caso sua real fraqueza fosse revelada juntamente com a verdade.
Tenho comigo que deve ser extremamente difícil para alguns indivíduos, - nem todos, existem aqueles que convivem e bem com o mal que carregam – pensar que a qualquer momento podem ser questionados sobre o que sabiam; sobre a podridão que já há muito sabiam existir, porém foram obrigados, para manter seus postos sem sentido, suportar o gatilho retesado da verdade escondida; que, como um torniquete que acocha a cada dia mais, deixa claro que a pressão do medo de esconder, do camuflar, é quase maior que o outro: o inegociável estrago que lhe seria causado, – principalmente - caso sua real fraqueza fosse revelada juntamente com a verdade.
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