sábado, 23 de outubro de 2010

E como um último golpe: o amor


O quanto certo está o singular (neste caso) poeta Nietzsche, quando indaga com uma convicção única e própria, e por ser uma constante na sua escrita é também uma de suas marcas mais forte - a colocação aguda, o questionar contundente, incisivo e acintoso, onde pouco deixa espaço para a réplica.
Aventa então ele sobre o tão lembrado “amor universal”.
E se não pudéssemos afinal fugir do assédio do amor desmedido e a tanto almejado?
Se fossemos então finalmente atingidos/recompensados com este querer milenar o sempre propagado amor verdadeiro entre os homens; seriamos premiados ou amaldiçoados?
O quanto mais peganhentos ainda seria nossos aliados, que mesmo na condição de carentes patológicos poderiam vivenciar um fastiar-se de afagos?
Onde residiria a solidão?
Ou ao contrário, para conseguir-se a solidão seria necessário nascer com algum problema congênito diferente de tudo o que conhecemos, onde mesmo inundados então do mais puro amor ao próximo, o moribundo estaria condenado ao esquecimento.
Inversamente, aos poetas, sobraria apenas questionar o contrário; a necessidade do afastamento; a dificuldade de encontrar alguém que se gostasse de verdade em meio a um amar generalizado e comum.
Não perderíamos para sempre então a mágica do flerte, e talvez até a arriscada e difícil busca pelo ser amado e único?
Não seria entediante se o amor defendido por aqueles tidos por nós como grandes, reinasse enfim?
Ou então, conhecedores do que são ou não são capazes os humanos portadores dos mais variados humores, viram a necessidade da declaração insistente da busca eterna por este tão difícil sentimento, por entenderem o quão contrário a ele parecemos ser?

004.c cqe

Não evolução


Se a pregação maior é amor ao próximo,
o não ao egoísmo.
Significa que em todas as ações devemos pensar antes em como nossos iguais
serão atingidos negativamente com a nossa nova tomada de ação,
ética,
e moralmente falando.
Não estará aí a raiz do nosso atraso?
Talvez não sejamos tão egoístas assim!

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Analogias


“De alguma forma existe uma correlação parecida, contrária e triste entre o amor e a política, nesta uma série de cidadãos insistem em serem os eleitos onde é certo que apenas o fazem por ser esta uma opção certa de ganhos fáceis, embora sempre tentem esconder ao máximo de que seus eleitores lembrem-se desse gigantesco detalhe, bem ao contrário está o amor, onde sabemos que este é o caminho mais correto que pode existir, porém insistimos em desviá-lo pregando exatamente o contrário.”

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domingo, 17 de outubro de 2010

Cães acuados


Cães acuados
As leis são ainda mais severas com aqueles que atrevem-se a ousar
A vontade de ser mais cobra o preço
Mas ah! Como é longo o barbante invisível preso a coleira.
Erram por anos
Engana-se
Enganados aventuram-se imaginando que pensam
Agem com algo que imaginam ser audácia
É pura insolência.
Nada mais que desrespeito.
Atrevem-se erguendo a voz
Não produzem nada além de seus ouvidos
E continuam
Enganados nem mesmo justificam-se
Porém Autoabonam-se, sempre
“Tenha dó de seu despreparo”, aconselha Um
Compadecido e por enxergar além, Outro, insiste, “esqueça”
Mas estamos falando de Leis
Esqueço então; o Universo não
Tão violentos quanto covardes agigantam-se
Pouca coisa os diverte
Mas divertem-se com pouco
E reclamam
Mesmo enganado sobre seu poder
Não foi o suficiente
Como o acéfalo que nocauteia
Ainda um último coice não é perdido
Arrastar-se-ão, espojando-se em seus iguais na matilha
Abundam hienas que riem enquanto devoram fezes
Acoando para nada seguem num inflar mútuo
Nenhuma lágrima daqueles tidos como fracos ficará impune
Multiplicar-se-á em um cêntuplo por cada gota provocada
A dureza então finalmente será forjada
Muito tarde talvez
A dureza forjada é volátil
Apenas aquele que é fraco, força
Vira-se com acochambres oportunistas
Aquele que possui a força não usa os músculos
Usa o cérebro

001.c qe

terça-feira, 12 de outubro de 2010

João Cabral de Melo Neto


Sempre evitei falar de mim,
falar-me.
Quis falar de coisas.
Mas na seleção dessas coisas
não haverá um falar de mim?


João Cabral de Melo Neto
100b.cqé