Não é Raul Seixas o Senhor, não é Raul Seixas Sir, é Ser, de ente, entidade.
Ente tem a ver com existir, com ser. É justamente neste ponto, a partir da idéia de existir, que parte a idéia da criação deste marcador.
Chamar a atenção, ou melhor, mudar o foco do louco Raulzito para o ser a entidade que trabalhava; que agia, nos bastidores, nas coxias; porém somente é possível que o visualizemos, quando retiramos os véus propositadamente inseridos para que o ser real não fosse revelado.
Raul Seixas, o louco, era o homem transado de rato para assim poder copular com as ratazanas que corroem incessantemente as gorduras, as sobras, ou mesmo, quando esfomeadas, acabam fartando-se de matéria nobre, que poderia ter um destino também nobre.
Através da fachada de louco ele pôde então orbitar de maneira menos traumática os três mundos. O mundo Arte, onde ele, ao seu modo criava, distorcia, invertia, traduzia o seu pensar para que então suas idéias fossem transformadas e desta forma então, aceitas pelo mundo sério, controlador e acima de tudo censor, para finalmente poder ser assimilada pelo mundo a que era destinada; o povo.
Agora, aqui, a minha homenagem tem a ver com um quarto mundo, o mundo sério do Raul Seixas ser; comprometido.
Na definição “ser”, na filosofia aristotélica, é aplicada a lógica da construção, da formação, onde um apanhado de matéria pode formar ou se transformar em objetos dispares, ou seja, dependendo do manuseio ou da adição de um número maior ou menor de determinados elementos, combinação ou adição de outros, teremos logicamente objetos únicos, distintos. Disto temos que a matéria separada é matéria, e pode continuar sendo matéria, porém transformada é qualificada e classificada em gêneros diversos. Por exemplo, a farinha, o sal, o açúcar e o fermento separados ainda não constituem o pão.
O ser humano, a construção do ser humano parte do mesmo princípio, muito mais complexo, mas é a mesma coisa.
Aqui entra a minha idéia com relação a modificar nosso pensar com relação ao Raul.
Como não se corromper e mesmo assim fazem com que seu pensar atinja o objetivo principal.
Ao perceber que existia uma única forma de comunicar ao mundo suas idéias, sobreviver fazendo, não apenas o que gostava, mas entendendo que tudo aquilo não poderia ficar guardado apenas para o seu grupo restrito, optou (fez um acordo com ele mesmo) em mostrar-se com uma caricatura alucinada, extrovertida, entendendo que somente assim conseguiria mostrar ao mundo suas idéias revolucionárias, e aqueles incomodados, mesmo contrários, acabariam aceitando seus desaforos, mesmo porque possuíam instrumentos para, de uma hora para outra intervir. Por sua vez sabia que o povo, embora o amasse, a qualquer momento poderia ser lembrado – caso houvesse qualquer avanço sobre a linha divisória - de que seu ídolo panfletário era quase um louco completo.
Ele, até o final, foi o termômetro dele mesmo, sabia que se extrapolasse teria que parar; se mudasse o repertório, a forma de comunicar, se tentasse desvestir a máscara de louco ele estaria fora. Aí temos a maior prova de sua inteligência e de como foi duríssimo manter-se firme em seu propósito, arrisco um palpite de que, continuar a caminhada mantendo-se dentro de um propósito que não lhe abriam portas sérias para contextualizar suas idéias, fazendo com que finalmente estas, fossem analisadas de outro prisma, – o verdadeiro - e assistindo que o povo, objetivo principal de seu pensar continuava apenas rindo de sua arte de seu espectro, sem olhar para a prancheta onde a letra fora depositada, tornou-se seu pior tormento. Não havia conseguido.
Digo que eu vi. Digo que eu vejo.
A idéia então desta homenagem é resgatar este Raul Seixas Ser.
Este ser que, feito do mesmo material que nós, pensou o que ninguém pensou, por outro lado, de uma maneira das mais inteligentes que já vi, passou para o povo este pensar. É verdade que superestimou este povo, imaginou que o povo poderia de forma mágica modificar-se apenas ouvindo a música. Sofreu esta derrota e acredito que descobriu isto muito antes de sua morte, porém não abandonou sua feição burlesca, pois àquela altura, o povo já amava o Raul Seixas caricato.
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Abaixo uma idéia deste trabalho.
Resgatar trechos, citações; das mais contundentes, das mais significativas e, descontruindo-os das músicas, comentando ou não, levantar questão, com a idéia única de que a síntese, o sentido real seja destacado.
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