O ataque de
um pensamento digno de registro, invariavelmente, não se estende além de um
fragmento; nada superior a um flash. E assemelha-se ao momento único; o
instante em que o artista vislumbra matizes possíveis, disponível apenas sob precisa
luz momentânea - o milagre que se mostra apenas ao que percebe... ao que
persegue. Perfeita. E, como captá-la?
Como é possível captar a transitoriedade; toda a natureza representada na força
concentrada da volatilidade – a beleza que se dá no efêmero. Toda a energia da fugacidade
possível de ser representada num agora
está passando, imperceptível; o poder do movimento que não se pode cessar; que esforço
algum domina o que quer que seja que a movimente; que faz pensar: se há o igual
oposto, onde se esconde o colosso com tal poder?
Ele, amante
de todos os homens, quer doar este instante à vida, dar à luz essa luz – matar a luz; prendê-la,
somente assim poderá repassar o milagre.
Desesperado,
procura vencer o atropelo da oportunidade, invariavelmente, precisando sufocar
o êxtase e esquecer-se totalmente de saborear o momento – para ser de todos ele
não pode ser seu.
Desvairado
– estágio comum àqueles que contemplam o êxtase - pincela um esboço indiviso, -
não explicável; indecifrável ao sempre atropelado alheio - com a rapidez de um
possuído. Com movimentos insanos observa a gradação sutil que busca captar se desfazendo diante de sua mistura
alucinada que, a sua maneira, eternizará o flagrante, para então, mais tarde
finalizar a obra, preenchendo os espaços vazios com os resquícios do rescaldo
de lembranças do vislumbre, somando agora ao que conhece da arte – hora do
desânimo; quantos aqui enlouquecem.
Aqui, procurei
materializar a ideia do meu proceder com os bons pensamentos, com as boas
intuições: entendo esse processo como se uma janela se abrisse – um momento incomum,
um alinhamento difícil e raro de ser computado – em determinado – tão alheio
quanto exíguo - instante, deixando a mostra uma ideia nova ou no mais das vezes:
uma forma nova de ver uma observação existente que, uma vez captada, em um
lapso, através do registro, uma porção coerente daquele universo não mensurável
é às pressas rabiscada no intuito de “prendê-la”, pois, por pertencer a um
estado alheio, na forma que se dá, foge a compreensão do
“autor” a estranha, - singular, diversa, original - formatação empregada –
porém pronta – para mais tarde torná-la pública, quase sempre com a intervenção
do autor-instrumento - seria um desafio, se não fosse impossível, trazer isso a
uma realidade comum a todos; ainda que aqui tenha tentado.
...não é
fácil traduzir o pensado.
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