Sempre estou em busca do princípio lógico das ações, dos acontecimentos, do movimentar-se humano, da evolução. E apesar de a minha crítica vencer todos os outros competidores internos, penso as vezes que ela, em mim, é ainda mais rápida que o próprio instinto, o movimentar-se primeiro da crítica, do contra, do não acreditar nos fatores terceiros, que fatalmente me levam a desistência, acabarão, um a um, cruzando a linha de chagada, porém, depois que estes, ou esta renca de curiosos agitadores pessimistas ou até mesmo realistas, emitem seus palpites, seus pareceres “precipitados”, um dos retardados, ou seria retardatários, acaba chegando, não é sempre, porque os primeiros fazem tanta algazarra que a minha fraca mente acaba nem sempre estudando todas as possibilidades, mesmo sendo eu um partidário sólido com relação a motivação universal, seja ela física, química ou matemática, independentemente de pertencerem a área de exatas, humanas ou erradas.
Afora a brincadeira, minha idéia aqui é explicar a percepção que adquiri com relação às ações que aparentemente parecem apenas dignas de minha crítica, ou seja, foram dominadas pelos vencedores da corrida, como se estivesse minha mente, meu pensar sido abafado pelo oba-oba da vitória, demonstrando que até agora, a minha sensatez, na maioria das vezes, acabou prevalecendo.
Ilustrando este pensar com um exemplo, imagino um voluntário, real, uma pessoa, geralmente eles aparecem como alguém pobre, e o são, embora também apenas apareçam, se mostrem, devido a necessidade da formação de grupo, pouco podem sozinhos, e também não é porque os mais abastados não o façam, o que acontece é que estes o fazem calados, por poderem assim manter-se, devido as possibilidades alcançadas, e quando se mostram, é uma outra situação. Falo então daquela pessoa que dedica uma parte do seu tempo com seriedade, independente de acreditar ou não se seu ato resultará em algo a mais além de beneficiar o carente em si. Partindo deste princípio é possível observar que para um destes, existem um sem número de outros, envolvidos no mesmo ato de doar-se, - embora para estes outros esta não seria a palavra exata – que não participam do mesmo pensamento puro daquele único ser.
Se formos fazer algum tipo de classificação entenderíamos ou descobriríamos que na instituição carente existem varias conjugações ou combinações: da Maria-vai-com-as-outras, pessoa que pratica a caridade apenas para parecer caridosa, a pessoas que recebem algum tipo de pagamento pela assistência “dada”; de doadores que o fazem por entender que o governo os reembolsará a praticantes de crimes que trocaram suas penas por assistência social, enfim, esta lista é enorme; e qual é o resultado desta miscelânea: muitos serão realmente assistidos. Mal, porcamente, bem, ou até muito bem, mas aquele local existe.
Portanto, não foi uma nem duas vezes que ouvi pessoas olhando – digo que em alguns casos fiz coro com elas – com desdém para estes quadros que se multiplicam, repetindo de maneira impensada: “De que adianta?”, o fato é que adianta, quer queiram estes, ou não, isto está acontecendo muito mais que possamos imaginar, e um número incontável destes que por necessidade, interesse, dinheiro, querer aparecer, por medo de que um dia possa estar na mesma situação, carregado de pecados, ou mesmo compaixão pura e simples; estão proporcionando um trabalho invisível, porém extremamente essencial para a sociedade, mas principalmente, com um valor extraordinário – difícil para nós, sãos, imaginarmos - para o assistido.
E o que tem isso a ver com tudo aquilo?
Acontece que de uma maneira também invisível, sorrateira, discreta, estas pessoas que formam-se em camadas ao lado daquela única que possui a força e a energia necessária à doação, um pequeno universo está se moldando; e assim é sempre. Este é o princípio lógico de tudo, parece extremamente ilógico como é a vida, como é o existir. E, mesmo que pessoas como eu fiquem insistindo com suas críticas que está tudo errado, não está, o universo, a sua maneira está sendo construído, de alguma forma ou de outra tudo acaba por se ajeitar, afinal o que estamos sempre esquecendo é que tudo isso é imensurável, por ser atemporal.