sábado, 5 de novembro de 2022

Do sofrimento como êxtase

 



Fiat veritas, pereat vita*








“O que importa é a vitalidade eterna, não a vida eterna” - Nietzsche

 







“Pois sofrer, no sentido nietzschiano, é apenas uma margem obscura da doença. A outra brilha em uma luz indizível que se chama cura, e só se chega a ela a partir da margem do sofrimento. Curar-se, tornar-se saudável, no entanto, é mais do que atingir um estado de vida normal, é mais do que transformação – significa muito mais, é potencialização, elevação e sofisticação. Sai-se da doença ‘com uma pele nova, mais delicada, com um gosto mais refinado para o prazer, com uma língua mais sensível para todas as coisas boas, com mais alegria e uma segunda e mais perigosa inocência na felicidade’, ao mesmo tempo infantil e cem vezes mais sofisticado. Essa segunda saúde por trás da doença, essa saúde que não se aceita cegamente, mas pela qual se anseia, que é adquirida às custas de centenas de suspiros, gritos e misérias, essa saúde ‘conquistada, sofrida’, é mil vezes mais viva do que o bruto bem-setar daqueles que estão sempre bem de saúde. E quem já saboreou alguma vez a sua doçura, a embriaguez de tal cura, arde de desejos de sempre voltar a experimentar essa maravilhosa sensação de estar se curando, essa dourada embriaguez que, para Nietzsche, substitui mil vezes e até supera todos os estimulantes comuns do álcool e da nicotina. Mas, mal Nietzsche descobre para si o sentido do sofrimento e o prazer da cura, já quer transformá-la em um apostolado, no sentido do mundo.” p42

No livro Nietzsche por Stefen Zweig

Editora Nova Fronteira

 

*Faça-se a verdade, pereça a vida





 

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