Fiat veritas, pereat vita* |
“O que importa é a vitalidade eterna, não a vida eterna” - Nietzsche
“Pois
sofrer, no sentido nietzschiano, é apenas uma margem obscura da doença. A outra
brilha em uma luz indizível que se chama cura, e só se chega a ela a partir da
margem do sofrimento. Curar-se, tornar-se saudável, no entanto, é mais do que
atingir um estado de vida normal, é mais do que transformação – significa muito
mais, é potencialização, elevação e sofisticação. Sai-se da doença ‘com uma
pele nova, mais delicada, com um gosto mais refinado para o prazer, com uma
língua mais sensível para todas as coisas boas, com mais alegria e uma segunda
e mais perigosa inocência na felicidade’, ao mesmo tempo infantil e cem vezes
mais sofisticado. Essa segunda saúde por trás da doença, essa saúde que não se
aceita cegamente, mas pela qual se anseia, que é adquirida às custas de
centenas de suspiros, gritos e misérias, essa saúde ‘conquistada, sofrida’, é
mil vezes mais viva do que o bruto bem-setar daqueles que estão sempre bem de
saúde. E quem já saboreou alguma vez a sua doçura, a embriaguez de tal cura,
arde de desejos de sempre voltar a experimentar essa maravilhosa sensação de
estar se curando, essa dourada embriaguez que, para Nietzsche, substitui mil
vezes e até supera todos os estimulantes comuns do álcool e da nicotina. Mas,
mal Nietzsche descobre para si o sentido do sofrimento e o prazer da cura, já
quer transformá-la em um apostolado, no sentido do mundo.” p42
No livro Nietzsche por Stefen Zweig
Editora Nova Fronteira
*Faça-se
a verdade, pereça a vida
009.z cqe