Quem poderá dizer que não? O não e o sim são reais para os dois agentes. O livro aberto para o “não”, o livro fechado para o “sim”. Como não ser? Se tudo é, não há o não ser. O homem que obra pode ser radical, unilateral ou isento, e tender tanto para o sim quanto para o não sobre a infindas representações a que se defronta; e seus traços e sulcos podem significar o que se vê sob o prisma do livro aberto ou sob a metalinguagem do livro fechado. Enquanto alheio é tão somente uma ferramenta, então sua obra diz pouco ao próprio e muito ao ser amplo, onde, em suma, se seus movimentos engatinham no desconhecido, pode se tratar ele de uma ponte importante e mesmo estratégica para aqueles que observam e procuram as páginas ocultas do livro que permanece ávido à ser aberto.
O que se vê não é apenas o que se quer ver, porém, o que se pode, ou, filtrando a níveis desconhecidos: o que lhe é permitido enxergar. E essa realidade é limitada ou expandida a medida que as tendências do observador foram exploradas sob as vontades mais pungentes. O visualizado, a princípio, diz pouco à muitos e muito à poucos e, sob o efeito da imaginação que não possui limites, o universo, sob a égide inominável das perspectivas age com a possibilidade de, em um estalar de dedos, revolucionar toda a percepção do ser que busca com seriedade, mostrando o que ao primeiro é simples, é prematuramente absorvido como fantástico ao observador atento — e como assim não perceber? Portanto o obreiro, ainda que conduzido por forças estranhas a seu trabalho, sob sua própria vontade entendeu, se permitiu ousar ao ornamentar originalmente a obra, jamais imaginando que o feito pudesse despertar em um que outro, vontades que abrem portas; que permanecerão por eternidades invisíveis ao temporal.
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“No centro do enorme portal, aos pés de uma estátua de Cristo, uma imagem circular mostrava uma mulher sentada em um trono. Ela segurava dois livros, um aberto, outro fechado, Fulcanelli dizia que esses eram símbolos do conhecimento aberto e do conhecimento fechado. Bem olhou rapidamente para as outras esculturas no Portal do Julgamento. Uma melhor segurando um caduceu, o antigo símbolo de cura, uma serpente enrolada em um cajado. Uma salamandra. Um cavaleiro com uma espada e um escudo onde havia a figura de um leão. Um emblema circular com um corvo. Aparentemente, tudo ali transmitia uma mensagem velada. No portal norte, o Portal da Virgem, o livro de Fulcanelli o guiava para um sarcófago esculpido na cornija central, a representação de um episódio na vida do Cristo. A decoração nas laterais do sarcófago era descrita no livro como símbolos alquímicos para ouro, mercúrio, chumbo e outras substâncias.”
“Mas eram mesmo? Para Ben, elas pareciam ser apenas motivos florais. Onde estava a evidência de que os escultores medievais haviam inserido deliberadamente mensagens esotéricas em seu trabalho? Podia captar beleza e arte naquelas esculturas. Mas elas continham alguma coisa para ensinar? Podiam ter alguma utilidade para uma criança à beira da morte? O problema com esse tipo de simbologia, ele refletiu, era que toda imagem poderia ser interpretada como desejava o intérprete. Um corvo podia ser apenas um corvo, mas alguém em busca de um significado oculto poderia facilmente encontra-lo, mesmo que ele nunca houvesse sido posto ali intencionalmente. Era muito fácil projetar significados, crenças ou desejos em uma escultura de pedra com séculos de existência, uma obra cujo criador não estava mais vivo para dizer que não era nada disso. Esse era o material das teorias da conspiração e cultos em torno do “conhecimento oculto.”
O segredo do Alquimista
de Scott Mariani
editora Fundamento
Nossa amiga, Betina Tokarski Krzesinsky, deu-nos de presente este livro cujo texto em epígrafe inspirou o tópico que — sempre, sob os auspícios de boas energias —, entendemos ser de bom tom destaca-los; tanto àquela quanto o assunto que a originou.
Beijos querida Betina, nós te amaremos para sempre.
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