sábado, 15 de outubro de 2011

Prazeres limitados


Partindo do princípio que em algumas situações a vida não passa de um lapso, é possível afirmar que diante da impossibilidade de viver uma vida abastada, de prazeres e sensações únicas proporcionadas àqueles detentores de posses e comendas, vale muito mais; tira-se muito mais o suprassumo de tais regalos, ou pelo menos de alguns, apenas imaginando como é a vida e como vivem estes que foram premiados com a tão sonhada celebridade, com o tão ambicionado toque de midas, com o tão sonhado prazer de figurar como um destaque, e, por sua vez, como seria viver um momento apenas com suas posses e poder tomar um café em Paris em uma manhã ensolarada, ou um sorvete em Milão, ou ainda um passeio ao final de tarde em Palma de Mallorca.

Imaginar, quando se sabe o valor do prazer e se é capaz de construí-lo, mesmo que seja de modo empírico, devido a algum tipo de experiência, e não simplesmente pelo ato gratuito da inveja de não estar a fazê-lo, embora muito o deseje; em alguns casos raros então, a experiência das sensações vividas apenas em mente, imaginando como seria vivê-las em lugar daqueles abastados, é mais rica do que o próprio ato em si, se levado em conta, também, alguns dos autores beneficiados.

Da série: Outras formas de acomodar-se na pobreza.

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