Em determinado momento cobrei sua mudança. Disse que havia
notado seu distanciamento ao longo dos anos, e que, embora entendesse que isto
faz parte de um processo natural, com ele isto havia se dado de forma mais
radical que com os demais companheiros – talvez houvesse ali uma espécie de
curiosidade da minha parte, afinal, estamos sempre remexendo a nossa volta para
testar até onde fomos ou ainda podemos ir, isto tem um motivo: não queremos ser
mal queridos ou julgados culpados quando do rompimento de uma amizade.
Falou-me
então uma série de coisas, todas bastante comoventes. Tanto, assim entendi, que
resolvi pontuar o principal.
...
“Por
tudo isso já não quero mais ninguém ao lado, revirando o passado, por outro
lado, quando ligam me procurando ou aleatoriamente me encontram, querem que eu
diga coisas. Dizer o quê, se o que quero dizer ninguém quer ouvir. As pessoas
se acostumaram a falar fácil, do cotidiano, do simples, do corriqueiro, da
novela, do futebol, dos lançamento dos novos modelos de automóveis. De coisas
que não precisam ser pensadas, que já foram pensadas pelos outros; da vida
alheia, de lamúrias onde um pensa estar auxiliando o outro ou imaginando ser. Onde
na verdade estão se escorando; ninguém quer realmente ouvir sobre a sua felicidade.”
...
057.f cqe