Ao final da versão de Anna
Karenina 2012, filme baseado no romance de Liev Tolstoi, dois pontos
particulares vieram-me a mente durante as inegociáveis discussões que travamos
sempre após um filme, ou de uma história significativa.
Uma diz respeito a um determinado amigo inconveniente que
insiste na pergunta “como continuam as histórias de amor depois que elas acabam?”. Defende ele a tese de que todas
as histórias de final feliz somente assim o são porque é somente até ali que
são contadas – é um sujeito intragável.
Questiona o seu continuar; questiona o:
“felizes para sempre”. É claro que é uma brincadeira sem maior importância, mas
é de se perguntar: que tipo de pessoa triste, mal amada, amarga, levanta um
questionar tão impertinente? Será ele também resultado ou outro
personagem de uma história sem final feliz?
E no segundo momento, lembrei também de uma amiga, esta, já
mais estudada, ligada a turma dos especialistas que quase garante, embora
somente não o faça porque não dou o braço a torcer de perguntar incisivamente
sobre a questão, mas, afirma com veemência, que a paixonite aguda, em sua maioria
esmagadora, não passa de dois anos, diz ela: “coisa de cerebelo”. Vai saber!?!
Independentemente de estas questões
colocadas serem descabidas ou não, fato é que a história de Anna é especial
para que uma série de perguntas surja e polemize este, ou o entorno deste que é
o moto condutor principal do ser humano, diria eu (contrariando até algumas
pirâmides científicas que existem por aí), após a luta pela sobrevivência: o
amor.
Da minha parte, a questão visceral após
estas duas colocações externas inicial: tem mais a ver com a tristeza, as
tragédias, as grandes tragédias. É só assistir Shakespeare (que me perdoe o
Liev), por exemplo – a que precipício é lançado todos aqueles que optam pelo
ímpeto da escolha desarrazoada do amor ao invés de abdicar deste momentâneo
instinto que no mais das vezes – é inegável - é carnal. Por ter sido untado em
nossos trabalhados humores sociais humanos: orgulho, vaidade e competição
(conquista).
É de um impulso também, que anoto a
expressão: desarrazoado. Porque todo o apreciador destas historietas entende
que não é fácil que os protagonistas esperem algum tempo até que encontrem um
caminho, lógico, legal, digno, aceito pela sociedade; – este é quase impossível
– para que aí, os ofendidos ou contrariados na, ou à situação, entendam e
aceitem o amor até então impossível ou adormecido ou, finalmente sobrepujado e
levado então as somente (como se vê na película) iniciais e não raro: fugazes,
inflamantes e impensadas entregas.
Quero dizer que no mais das vezes, a
felicidade momentânea; de súbito, não superará o peso, digo, o amor exacerbado,
voluptuoso, torrencial. Parece-nos, num primeiro momento: similar a um gozo,
uma ejaculação, ou seja, tem início e fim e o fim é fátuo por eminência, e
também como se faz ao escolher furtivamente a primeira cama assim que os
amantes se entendam donos da situação, enquanto o sangue aumenta a pressão
arterial, quando, é bastante comum; cessada a ardente seção, já durante o
cigarro, ao pé da cama: um sentimento estranho de que parecia ser melhor (ao
olhar para trás onde a já não mais tão bela assim relaxa) que naquele instante
estivesse só ao dar a última tragada. É mais ou menos isto que acontece, - ou
nos parece que é esta a sensação que alguns autores tentam nos passar - após tomada
a escolha de raptar a amada de sua vida infeliz ao lado do escolhido anterior.
Somado a isso, temos a minha amiga que
garante (no início deste) que o cerebelo está por trás de tudo, incentivando o
que é certo, ou seja, o que é certo para ele, que tudo já está programado para
ter um fim; que a contagem dos dois anos é iniciada após o primeiro encontro.
Digo que não é fácil.
O romance de Tolstoi é provocador
justamente porque ele embaralha – e é assim que uma boa história deve ser – a
razão e o sentimento. O sentir nos joga na correnteza da ação mais ou menos
pensada – mais pra menos. Enquanto a razão, em meio ao pensamento que sofre a
privação, pondera e age como uma trava, como uma porta cerrada que prende a
ação impetuosa, a ação impensada, e, provocativamente, desmentindo isto tudo,
já no início da história, ele deixa claro que nem todos estão preocupados com
as etiquetas do certo e errado convencionado pela sociedade vigente. E cutuca
quando alguém diz a Anna que prefere sofrer pelo feito a chorar um desejo
abortado.
Para alguém dado ao pensar é
bastante fácil, ao deparar-se com esta história, deixar-se levar pela razão e
chegar a conclusão de que o amor verdadeiro é raro ou mesmo não é para nós,
meros mortais de pensar atrofiado. E que ele, habitualmente, leva à tristeza e
a infelicidade.
Mas, não sejamos como o amigo do
exemplo primeiro e, é claro, que todos nós temos o direito ao nosso naco de
felicidade, é só aprender como agir – ou não!?!
008.g
cqe