sexta-feira, 18 de abril de 2014

Ignoras? Então serás aceito



Às vezes não fazemos as perguntas para não parecermos idiotas quando o somos justamente por isso.

Sabemos muito do que pouco conta e muito pouco do essencial, por nos pretendermos espertos no que nada soma ao nosso existir quando nada sabemos sobre aquilo que deveria ser indispensável.

         Talvez venha daí nossa insegurança em parecermos idiotas sobre nossos questionamentos mais íntimos – inquestionavelmente reais e propositados; quando é somente nos assumindo como tal que poderemos entender que tudo o que nos imprimiram até então como verdade é deveras transitório, e excepcionalmente superficial.

Toda verdade humana é volátil, porém sua ignorância como um todo insiste em conservá-las. A falta de prática, isso é fato, mantém-nos em um processo minimamente ajustável, já o questionar e a inovação, a ânsia ao novo; a procura: gera desconforto obviamente, porque todo aquele que se sobrepõe ao desconhecimento, ou seja, em seu aviltamento supera em grau o desconhecer comum, - preferindo habitar o breu da alma, pendendo à perversidade - na sua ignomínia, busca transportar a sociedade para uma espécie de zona de conforto social. Astuto, em meio aos seus ardis, sabe que os caminhos do questionamento contribuirão ainda mais para o arrastamento, para a não concretização do aceitar calado; para que este estado sórdido de letargia geral não se solidifique, pois é certo que, devido, principalmente, a sua capacidade reduzida, ignora também que isso seja impossível, ou ao menos, jamais se complete na sua totalidade, pois, ainda que seja acertado afirmar que o ser humano se mantém inerte; anelado à sua consciência presa, em seu imo, ele tende a ser um perscrutador, e se este estado não é manifesto, isso se deve somente por desconhecer o gênero humano que entre tudo o que lhe é mostrado: o essencial ainda não encontra asilo; o indispensável lhe é apresentado como espetacular - e o espetacular para nós é tido como não tangível; como não digno de crédito.

E o que nos falta?

Precisamos apenas despertar, primeiramente, para o fato de que somos questionadores; e que: idiota, não é aquele que não pergunta, e sim, aquele que entende-se idiota ao fazê-lo, e então... continua não fazendo.


Da série:
Decifro-te,
através das perguntas que fazes. 

085.g cqe