Ao final, restam também, os
alienistas
Podemos “afirmar” que superamos
alguma deficiência ao tê-la assistido em outrem; mas isso sempre será uma
mentira.
Esta afirmativa se mostra muitíssimo
difícil devido as nuances singulares do assunto. Primeiramente porque ao
olharmos um terceiro cometendo o que entendemos ser suas condenáveis insanidades,
é muito provável que em nossa auto-análise não acreditemos, ou não admitamos
fazer nada parecido, quando quase sem exceção, ao agirmos, fazemos exatamente
igual se não pior. Devemos ter em mente sempre, que apenas não tivemos a
oportunidade de demonstrar nossa incapacidade de não fazer o que sempre
acreditávamos não ser capazes – em se tratando de ações condenáveis que
aleatoriamente assistimos.
E, se ao contrario, fazemos parte de
algum grupo exclusivíssimo, daqueles onde os membros, como exercício: buscam
enxergar-se na falha alheia; existe o crédito, mas ainda não é possível
afirmá-lo, depois de anos de observações, que está curado.
Não é fácil admitir, na íntegra, o
descrédito assistido. Mesmo para alguém que pratica a auto-vigilância. Curar-se
através dessa hipótese não é para o vigilante comum, portanto, ao trilhar esse
caminho a ponte é bastante frágil em direção ao caos da redenção, afinal, desanimem
todos, por que, este processo de superação acaba se mostrando praticamente
impossível.
Existem os especialistas, mas isso é
um capítulo delicado e de expectativas sombrias e muitas vezes espetaculosas,
onde os pecados permanecerão escondidos e intocáveis no que se refere ao
doutor.
Generalizando e aprofundando o tema;
temos também àquele que vivencia as experiências sem se dar conta, - que sofre
a esmo (o réu, o carrasco, a vítima, ou seja; todos) - sem prestar atenção, sem
saber ou entender as razões de experiências tidas como negativas; acredite:
também assim não se aprende nada, - está apenas pagando, como diria certo
colega.
Finalmente, sem a mínima intenção de
assustar, existe uma constatação mais complexa e perversa que traz escondida
seguramente o motivo de todo sofrimento intocável, e que está diretamente
atrelada a nossa falta de coragem em prosseguir quando frente ao perigo
eminente: somente é seguro afirmar que superaremos nossas fraquezas quando as
vivenciarmos com consciência; é difícil admitir – ou antes –; acreditar, afinal
é justamente este momento tão escuro e decisivo, quando todos os caminhantes que inequivocamente passarão por ele, e onde a maioria retorna ao ponto inicial por
não entender o porquê dessa “desventura”, julgando-o manifestamente desnecessário,
que permitirá, ou melhor, que será seu salvo-conduto ao degrau próximo.
Oxalá não nos enganemos jamais e conquistemos a coragem necessária para enfrentar nossos medos, entendendo que é
somente a partir da escuridão atroz que vislumbraremos algo novo.
086.h
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