Era importante observar que, apenas
questionando sempre
conseguiremos a excelência também no
questionar,
e então,
não será mais qualquer resposta a
nos convencer,
por já estarmos escolados ou níveis acima do
lugar comum.
Rabiscando
alheio, algumas palavras ontem à noite sobre um assunto qualquer que chamou
atenção no filme “Boyhood”, antes mesmo de deitar; na intenção de retomá-las no
exercício matinal diário. Entre as palavras, uma fazia referência às nossas
desculpas para continuar a vida que a princípio é desprovida de sentido,
justamente, ou também, por não faltar opções de escolha, quando nem mesmo assim
a percebemos – um dos pontos implícitos no filme. Porém a falta de conhecimento
ou de pessoas que deem as respostas certas faz com que deixemos pra outro
momento essa espécie de questionamento.
Parece-nos
que as únicas encontradas – até então e para sempre – respondem com seu
conhecimento amador, formatado de “achismos”, pesquisas ineficientes ou
conselhos tipo remédio caseiro, aquele que vem sendo há anos macerado e se
encaixa em todas as dores. Todos com palavras mais ou menos sedutoras a nos
manter caminhando sem a solução definitiva, - ou mais definitiva ou provida de
algum sentido -, e então se encaixa aqui o que entendi como absurdo, ainda que,
aos olhos do expectador, - dentro ou fora da sala de cinema– não há
eventualmente, motivo algum para essa discussão extra película, onde o pai do
rapaz responde a um filho calado, porém questionador, inserido em uma aura de
normalidade impensada; que o momento do questionamento irá passar. Ou seja;
quando não há resposta, espere que a vida encarregar-se-á de apagar sua ânsia.
Esta é uma verdade crucial, porém, desanimadora.
O
cotidiano que lhe caiu à cabeça irá abafar suas dúvidas mais sérias e então,
você se espelhará no todo ao seu redor devido à agressividade do momento, - a
velha máxima da falta de tempo - no seu entorno, no entorno da novela, do
filme, das notícias e mais uma vez será convencido – autoconvendido – de que o
mundo é isso aí, mas eu digo que não. Que apesar de ser assim que tudo funciona;
algo é inquestionável: não é assim que devemos agir.
Se
por ventura, questões de foro mais profundo lhe invadem o espírito, a consciência,
você jamais deve abafá-las, deveria fazer uma espécie de anotação – “lembrete”
-, como aquela que amarrávamos uma fita no dedo, quando criança, um lembrete,
para que não nos esqueçamos de algo. Esse exercício pode muito bem ser
continuado nos questionamentos que não são fáceis de serem abordados. Não
devemos negligenciá-los ou deixar que amadores respondam. Muito menos se contentar
com qualquer resposta que o site de pesquisa aponta – caso você chegue até esta
fase.
O
que não podemos fazer é esconder, abafar, dar como respondido, como resolvido,
precipitadamente, algum caso apontado como: “não esquecer” – para qualquer dúvida
que ainda carcome, ardendo, sem dar trégua à mente. É claro que aqui está um
pouco forçado; mas é evidente a necessidade de que assim fosse. A mínima dúvida pode ser o
portal para uma descoberta revolucionária, porém essa brasa precisa manter-se
acesa.
Durante
a longa caminhada, um número significativo de pessoas a que acessamos afirmam
ter as respostas, porém vivemos em uma época onde o fato de termos várias
possibilidades de encaixá-las torna fácil banalizar todas as questões, e é muito
comum que uma resposta mal aceita anula precipitadamente outra. Essa é uma
armadilha na qual caímos por comodismo, usando uma delas como desculpa (muleta)
para continuar uma vida que geralmente não se quer encarar como problemática, a
qual, ainda assim, estamos convenientemente acostumados. Por sua vez,
encaixamos as peças e “ticamos” a “anotação” como “respondida”; “solucionada”,
mas não é tão simples assim. Não se você quer mais.
Fica
fácil então entender porque, quando explicam os psicanalistas: que existem
muitas frentes trabalhando nossas mentes, afirmando como a vida se mantém e
porque devemos acreditar nelas. Mas aceitar essas meias verdades não pode
resultar no encerramento de questão alguma tida como essencial.
É
óbvio que essa conversa não serve para um evolucionista materialista
inveterado, porém começando com eles; a ciência afirma suas convicções em
milhões de compêndios, muitos sem elos – incansavelmente procurados - entre elas
que se sustentam. E o que isso significa? Que eles também não têm as respostas.
Por sua vez as religiões, todas; garantem ser a resposta, mas nenhuma delas, -
aqui, apenas aquelas dotadas de um mínimo de bom senso - consegue convencer a
todos indistintamente que estão certas. E esse é um ponto que mantém ou
deveriam manter muitas “anotações” em aberto.
Em
seguida temos as tradições, as seitas ou costumes a que pertence cada povo, e
finalmente e o mais importante, nossa consciência que mantém firme todo um
emaranhado, um amontoado de convicções distintas e próprias – algumas,
absurdamente particulares -, porém, como disse o filósofo, convicção nada mais
é que uma prisão. Não digo que concorde com ele, porém devemos pensar que as
convicções nossas de cada dia devem ter um tempo de validade, ou, no mínimo,
estarem constantemente em reciclagem ou passando por alguma espécie de
contextualização. Nada é totalmente estanque hoje se você se quer ativo ou
ainda pretende concretizar algumas mudanças interior.
Fato
é; que as respostas não estão a mostra em qualquer vitrine, ou disponíveis no
mercado a qualquer um, e, digo aqui uma espécie de segredo, uma espécie de pulo
do gato, que não tem nada de mistério. É apenas uma observação daquelas,
pertinente impertinente: a resposta não vem para o acomodado, ela existe, mas é
necessário não dar um delete no “lembrete” assim que a primeira resposta
efusiva convencer sua mente de que encontrou a solução ou o caminho para uma
possível. E agora um clichê para não perder o costume; também aqui, o fácil
serve mais para que você continue mastigando, ruminando ao sol e sob as
intempéries árduas do existir: uma vida que, provavelmente aqueles que o
convenceram de que é assim que funciona não estarão por perto na hora do
desespero, ou, se por ventura foram obrigados também a ficar; com certeza não terão
tempo pra você neste momento.
Caminhamos
às cegas; esta é a única certeza. Ainda não entendemos o propósito maior,
aceitando qualquer um momentâneo, artificial ou convenientemente escolhido ou
imposto (fruto de uma imposição não percebida). Ao menos àqueles envoltos às
convicções que lhes chegaram envelopadas. E também aos colegas que não prestam
atenção a ânsia maior de que o algo faltando ou que não se encaixa: não surgiu
por acaso; onde, por mais que não queira dobrar-se a isso: para tudo há um
propósito outro, geralmente bastante diferente daquele escolhido. O que falta é
coragem para encarar essa pequena verdade cotidiana.
Ou
também ainda e mais uma vez, a ideia que se tornou lugar comum nas nossas
observações: aqueles que entendem que está tudo bem, que é assim mesmo e que
não devemos nos envolver com coisas da nossa imaginação quando tantos outros
afirmam e milhares de outros os ceguem, digo “seguem”, por eles sim terem
trabalhado “por nós” respostas que diziam respeito apenas a nós; em suma,
pessoas que encontraram pessoas que possuíam as respostas convenientes as suas
necessidades prementes; sufocando assim o sentido da busca.
Então,
como diz o pai do garoto no filme, fazendo uma alusão de que o momento vai
passar, bem como seus questionamentos e talvez – é o final do filme – sufocando
para sempre a ânsia do rapaz por buscar um sentido; contradigo contrariado e
provocando: questione, seja um questionador, insista nas suas questões, não se
dê por vencido. São somente esses; aqueles que não se acostumam com a forma que
todos conduzem a vida, aos quais as primeiras Respostas Verdadeiras virão.
Da série; pertinente impertinente.
*
Boy – Então
de que adianta?
Dad – O
que?
Boy – Tudo!
Dad – De
que adianta? Não faço ideia. Ninguém sabe. Estamos só vivendo, sabe? Pelo menos
está sentido algo. Aproveite, isso passa. Você envelhece, não sente tanto, você
cria resistência.
(Boyhood,2014)
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