Somos dados
ao falar, e não falamos apenas com nossas bocas enormes. Descobrimos que
podemos falar com o corpo, com as roupas, carros, casas, empregos. Mandamos
nosso recado de várias maneiras. Se questionarmos um legista forense, ele dirá
que o morto fala; dependendo das circunstâncias da morte, bons profissionais
podem descobrir pistas e a partir de então desvendar mistérios que envolvem
todo o conjunto que ocasionou a ação principal se este for o caso, o que no
caso é bom; não é incrível que chegamos ao ponto de que é mais importante falar
quando morto? Que o diga o vivíssimo pessoal que vive da arte exprimida em
vida.
Há vários
bons motivos para que falemos; para repassar informações e esclarecer dúvidas
pertinentes, para acariciar com palavras alguém realmente necessitado, para
agradecer, para ensinar, para que possam formar boas opiniões a nosso respeito,
estes são os principais, porém, se não questionáveis, adquiriram uma
“elasticidade” em suas interpretações e importância; o que nos leva ao
questionamento e desabono em alto grau deste valioso recurso.
Então,
falar, hoje, cansa; caso seja você alguém desconfortável com os rumos da
humanidade. Quanto mais é feliz aquele que evoluiu, descobriu-se ilhado
desfazendo-se em prolongados silêncios; soturno, para o repassar palavras,
quaisquer que sejam, além da comunicação naturalmente exigida no dia-a-dia!
Falar; comunicar imaginando mudança tornou-se mais pretensão que vontade de
corrigir algo. Desculpe; quem é que pensou em correção? Ninguém quer saber de
correção, e estou eu aqui, atropelando e autoproduzindo provas, falando demais.
Se tivesse
condições, se fosse possível, andaria sempre com minha mulher ao lado. Ela tem
um discernimento todo especial, quase alheia ao nosso mundo, e, ainda que se
expresse normalmente quando raramente estamos juntos em companhia de terceiros,
ela não tenta passar mensagem alguma, sempre bem humorada, boa
desconversadeira, retém-se a amenidades; informada a contento, traça
comentários do cotidiano se perguntada, porém, no mais das vezes apenas
interage, mas principalmente, quando estamos a sós, me questiona sobre minha
verborragia desperdiçada; meu gasto de energia a toa quando estava claro que
fora inútil, que não havia o contexto apenas imaginado na minha cabeça para a
exposição que ouviram apenas por respeito a minha idade; ah! ela me faz
falta lá fora onde apenas pratico mentalmente, como um desejo querido, o
mutismo perseguido.
Contribuição da Minha Sempre Bem Amada
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