O pensar
sobre o não pensado.
Definitivamente
estamos em movimento; apenas parecemos estáticos, “só que não”. Ansiosos,
pessoas em ebulição, “indivíduos a beira de um ataque de nervos”, literalmente. Não entendemos nada do que é estacionar e meditar, daí: a construção que não para,
obviamente, precisa avançar. Somos como a lava do vulcão escorrendo em direção
ao vale, sempre fervendo, fervilhando. Se encontrar um obstáculo, destrói. Acumula-se
até sufocá-lo. Ao chocar-se com o mar, deposita-se nas margens ainda que nelas
se auxilie; segurando, apoiando-se de qualquer forma. E, de caso não pensado,
de alguma maneira historiadores contam que o mar “recolheu-se”, quem sabe se
isto não se dará novamente, então, o que teremos à tona? A lava secular
petrificada, tornada rocha, úmida, fria, no entanto, viva – nossa existência
vem se tornando paulatinamente uma aposta futura.
Assim é o
homem que não pensa; a sua maneira: existirá para todo o sempre. Tudo ao seu
lado tende a ser modificado, porém, externamente determinado, resiste e o fará
independentemente do que aconteça: continuará fazendo, existindo, agindo, e,
pensando? Depende – se não; perigosamente: alguém o fará por ambos, em singular
benefício. Com a atenção devida para que o serviçal não se extinga totalmente.
Todo homem
pensa o que pensa, mas o que pensa; o pensado: é único em cada um. Para onde
este pensamento o conduz é uma incógnita a todos, muito embora, ainda que
pensem em centenas de respostas, todas dependem do pensamento individualíssimo
a que temos livre direito, e seu uso ainda que diga respeito única e
exclusivamente a si, é desequilibrado por conta de um número incontável de
mentes pensantes que sobrevivem permitindo passivamente que assim não seja por
não pensar sobre. Tornando-as presas fáceis daqueles que pensam servir-se
enquanto possível através de seus macros pensamentos egocêntricos.
As
tribulações obrigatórias a que estão submetidos os indivíduos nascidos nas
últimas duas gerações não permite que se tornem sujeitos pensantes. Ao nascer
cada um recebe as recomendações necessárias ao seu desenvolvimento. Sejam elas
religiosas, políticas, de entretenimento, baseado na condição social vigente ao
estado escolhido; não há como escapar, está tudo redondinho, melhor,
quadradinho e, invariavelmente, estas significativas convenções há muito não
são contextualizadas.
Impossível
então pensar por si. Algo pode ser observado, alguns rompantes abusados podem
ser assistidos até certa altura da adolescência, uma espécie de revolta –
natural; os especialistas avalizam. Prenúncio ainda tolo que, observado com
sérios e profissionais critérios, poderia se manter até algum tipo de
discernimento mínimo quando então deve haver a transição para o homem maduro
onde naturalmente se daria à escolha a sempre obrigatória consciência crítica
inteligente. Porém é raro que isto – ambos – aconteça. O corrente estado social
precisa alienar a todos para as obrigatoriedades. E fazer a diferença não
combina em nada com fazer diferente. Até pode fazer a diferença, se ela se adéqua – é autorizável - ao quadradinho em que está sendo executada – e este
diminutivo pode ser bastante elástico.
Nossa
movimentação estática/ansiosa, então, – sempre incentivada a ser amainada nas
academias e com bastante sexo – cunhou outra máxima, um verbete para designar
todo este estado de coisas: “pós-verdade”. Não seria ela o prenúncio de um
catastrófico epitáfio?
Originalmente
esta expressão é direcionada ao público que deve fazer a diferença; mudar ou
manter o plano em andamento, que, uma vez em campanha, e com falta de tempo
para buscar as informações devidas sobre o que realmente está acontecendo. Por
não mais saber interpretar; não entender o contexto do que está “rolando” e por
esta forjada escassez de tempo ter sido criada por conta do executar e do
entreter-se e não para pensar. Toda a massa votante observa o que é mais
rápido. Precisa basear-se no “flashe”,
na “chamada”, no “start”. Voltados
tão somente ao alarde da inauguração. Não é mais possível enfronhar-se em tudo,
decifrando os acontecimentos. A vida cotidiana transformou-se numa enciclopédia
de “selfies”. Não da selfie
fotográfica, imagética, mas da selfie da ação, tudo é apenas fundamentado na
“chamada”, no furor momentâneo da campanha, sem que se observe como se chegou
ali, muito menos, - e a cada dia com maior intensidade - impossível imaginar
como será o depois.
Finalmente
vivemos no agora. Um agora criado, forjado, subjetivo, desprovido de histórico
e de perspectiva. Ao invés de vivermos a Liberdade Filosófica do Agora,
conseguimos, obrigatoriamente afinal, convertê-lo em prisão definitiva.
Se não
tínhamos capacidade de interpretar os fatos, de conectá-los, muito menos de contextualizá-los,
hoje estamos obrigados apenas às chamadas, e como fazer uma leitura de mundo
apenas recorrendo aos “selfies da notícia”; à perfis falsos e “fakes” cuidadosamente arranjados!
“Pós-verdade”
é na realidade uma mostra que, inserida ao lado da palavra ”campanha”, (uma
adequação educada de quem assim a projetou) parece intencional a não intimar os
críticos verdadeiros ou pensadores responsáveis ainda de plantão a emitirem uma
saraivada de impropérios contra o que nada mais é que o “selfie”; o perfil
atual escancarado da humanidade geradora ou mantenedora da máquina.
Emojis;
finalmente achamos ou estamos dando início ao fim do sentimento como o
conhecemos, onde partimos da emoção constituída para ditar o que deverá ser a
tendência a provocar mais emoção, e por aí vai.
Quem sabe
chegará a humanidade ao estapafúrdio instante em que “emoção” tornar-se-á moda,
a palavra do ano a ser relembrada, ou até se institua “o dia do sentimento”.
Apenas não será possível resgatá-lo verdadeiramente, quando renomados pesquisadores
insistem que aplicativos futuros serão capazes de apontar não apenas qual a
melhor direção a tomar na vida, mas também pressionar botões emocionais manipulando
o indivíduo numa extensão muito superior a externa assistida hoje.
Da Série; vamos prorrogar a existência dos sentimentos
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