(...)
Essas são verdades irrefutáveis e evidentes, que ninguém pode negar. Por que
nos empenhamos, então — negando essa realidade —, em conservar o estado de
coisas?
Porque o egoísmo e a indiferença são características dos cegos às evidências
dos satisfeitos com suas próprias vantagens, que negam a desvantagem dos
demais.
Não querem ver o que está à vista de todos, para assim manterem seus
privilégios em todos os campos.
O
que fazer diante dessa situação? A quem cabe agir?
E claro que o dever de agir é dos prejudicados. Mas eles, em meio às suas
necessidades, angústias e tragédias, dificilmente têm consciência dessa situação
objetiva, não a interiorizam, não a tornam subjetiva.
Por mais paradoxal que pareça — mas a história mostra que tem sido assim —,
cabe a alguns daqueles que a vida pôs em melhores condições despertar os
oprimidos e explorados para que reajam e tentem mudar as injustas condições que
os prejudicam.
Foi assim que ocorreram as mais importantes mudanças nas condições de vida dos
habitantes de muitos países, e estamos sem dúvida vivendo uma etapa histórica
em que, por todo o mundo, há grupos de pessoas eticamente superiores que não
aceitam como um fato natural a perpetuação da desigualdade e da injustiça.
Sua luta contra o establishment é uma luta dura e arriscada. Têm de enfrentar a
resistência e a ira dos grupos política e economicamente mais poderosos. Têm de
enfrentar consequências, com o prejuízo de sua própria tranquilidade com seus
interesses individuais, abdicando de alcançar o chamado “sucesso” na sociedade
estabelecida.
Hector Abad
Talvez
devido a minha situação geográfica, sempre trabalhei a ideia de que deveria
manter-me da forma mais independente possível, dentro da lei, sem atacar o
estado vigente e assim sobreviver sem maiores dissabores de preferência apenas observando
o que está acontecendo a minha volta; mais para uma melhor adequação ao último
item, ao invés de usar isso como uma paixão ou transformar em ânsia de
movimentar-me contra o sistema.
A
organização sócio política do estado é superior a tudo e a todos, mas ainda que
venhamos tentando uma união pragmática, enquanto o homem não entender o significado
real de fraternidade não será possível que esta convivência transcenda o estado
prisional lamentável em que coexistimos - ainda que ela insista na pregação de
que somos livres e estamos por ela protegidos.
No
contexto de Hector Abad, exatamente agora qualquer boa análise trás em seu bojo
a impressão convicta de que alguns governos se estabeleceram – talvez por
razões a nós nada precisas - como milícias oficialmente disfarçadas de
democracia e que, se utilizam dos mais sórdidos argumentos tanto hipócritas
quanto demagogos, tornados necessários, em extorsões sob os mais variados
nomes: impostos, taxas, juros, e uma desavergonhada pitada de corrupção e mais
leis para, sob o manto da obrigatoriedade da (sua) necessidade de manter-se
assim atuando – aparelhada - afirmar que o achaque escamoteado é tão somente
para defender interesses comum a todos.
016.n
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