Em um filme
estarrecedor sobre a voracidade desmedida de economistas, apostadores yuppies e banqueiros que jogam com as
dificuldades dos mortais comuns prestes a perder economias de toda uma vida e
casas hipotecadas um dos personagens que observa a derrocada eminente, ao
telefone com sua mulher, enquanto atravessa ruas de NYC, a meca do universo
econômico, observa que ninguém está prestando atenção em nada. Ele não acredita
que todos ali estão conduzindo suas vidas sem ao menos imaginar o que lhes aguarda;
“parece que vivem no Clip da Enya”, espanta-se; em outro momento, leio no
jornal que artistas de todo o mundo criaram e reúnem essas obras em um evento
na Alemanha, inspiradas no medo e paranoia geral.
Imagino
então que o medo que eles registram é tão somente o medo psicopatológico – é
claro, excetuando o pavor real daqueles que estão vivendo in loco os horrores jamais imaginados.
Observando
sob o contexto do filme, não há realmente a preocupação com o momento atual,
são apenas aqueles desequilibrados emocionalmente que precisam de especialistas
para curar suas fobias e voltar novamente ao “Clip”. Da nossa parte entendemos
que nem mesmo estes, então em pleno surto, conseguem prever o que de verdade
deveria dar medo se conseguisse observar o que não é percebido.
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Não sabemos o que é distopia e muito
menos que seus efeitos podem ser reais, e isto é bom, ainda que em algum
momento teremos que passar por seus infinitos e ainda inimagináveis portais.
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