sábado, 20 de julho de 2019

Responsabilidade política*




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Somos uma mentira como pessoas; como seres responsáveis. Somos uma comédia; uma piada.







Expomos nosso acreditar saltando de uma “verdade” que se revelou uma mentira a outra “verdade”. Que se mostrará mais forçada por nosso querer que forjada por interessados de toda ordem que buscaram a substituição do que não serve mais por conta das bases até então fomentadas terem expirado seu tempo de validade, então, temos uma nova – de igual valor e ainda mais perniciosa; e daí? Afinal, aqueles a quem confiamos nossas existências sempre têm uma solução pretensa a sacar de seus sacos mágicos de verdades fabricadas a nos manter sustentados por um amontoado de entulhos que nós e eles sabemos não podem ser confrontadas com Responsabilidades Reais, com Verdades outras que destoam por necessitarem de uma base nivelada pra uma construção Real, pois, para um contraponto sério, era preciso remover toda a caliça que entendemos por sociedade para um aterro até que a base esteja preparada para fundações que suportem algo Verdadeiro a ser erigido.






Nossa cultura é baseada no que nos vem sendo apresentado há milênios, não é culpa nossa, mas cada um por si é culpado se assim mantê-la.







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Em meio ao todo que pertencemos eles elegem um que outro que se destaca; um em cem milhões. Uma representação. Na intenção de dar provas, de convencer – é preciso manter latente a ilusão de que é possível. Ter essa possibilidade vendida amarra a todos a uma ilusão, outra ilusão, outra de tantas ilusões. Fazendo com que a atenção destes seja focada em algo que será descoberto ser outra mentira somente muito tarde, quando já não se têm mais forças para lutar.



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Não nos permitem senso nem mesmo para assumirmos a nossa condição de passividade, da filosofia risível das hienas. Chafurdando sobras entre alegrias compradas. Assumimos, apreendemos, assimilamos tão somente, que não devemos olhar para o próprio umbigo na situação de miserabilidade de ser em que sobrevivemos. Nada; antes, devemos olhar para o outro, não o outro que está bem, mas o outro que está mal. Aquele que está pior que a gente. Destarte, no desespero, ficamos procurando alguém que esteja em pior condição para avalizar a nossa condição de mendicância e, da angústia insolvível, acabamos auto aplaudindo nosso estado de comiseração - vivemos aos solavancos, de mágicas, de milagres extraordinários, para o bem e para o mal; inexplicáveis em um universo razoável. Em contrapartida, a gente olha, somos treinados a olhar para um que está bem no sentido a entender que também podemos chegar lá. Somos instruídos a olhar para alguém distante que está bem – um “vencedor” - no sentido de que a gente pode se espelhar neste, que podemos chegar ao mesmo nível, mas no momento precisamos compreender que estamos em uma situação complicada e a sociedade insiste, com doutores, especialistas, amigos, parentes, psicólogos: que era interessante que entendêssemos isso apenas como um processo, logo tudo será diferente – mas nunca será; ao menos para a imensa maioria de nós – e paulatinamente aceitamos isso como uma condição de tranquilidade, quando não é a condição ideal. É uma filosofia plantada que, uma vez aceita; confundidos, somos conformados com um estar bem anódino, um estar igualado a todos, que é assim – por enquanto, contentemo-nos; quantos outros estão em situação ainda pior que a minha - este é o processo... mas, se é natural ou apenas vinculamos como natural, isso exige graus outros de entendimento.

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Se não pudemos ser hedonistas puros; mudamos as regras do hedonismo - Não nos movemos mais observando filosofias onde os valores, dignidade, razão e justiça, por exemplo, mereçam ser trabalhados – nem mesmo tocados. A única coisa hoje que avalia – e avaliza -; o cânon, a condição de indivíduo presente: é a situação monetária, econômica, este é o pré-requisito abre-alas para sua aceitação.










Possuir uma casa, um carro, vez ou outra um churrasco com os colegas sempre com muita bebida, poder ir às férias até uma praia próxima, se não desta vez; a velha cachoeira que viemos poluindo ainda serve. Condicionou-se isso a uma filosofia de estar bem; não precisamos de mais, esse é nosso modelo de hedonismo. 





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Trabalha-se voltado ao plano físico. Toda nossa estrutura vem se desmantelando: estrutura passada de irmandade, o sagrado, a religiosidade, a família; pra que a atenção se volte ao plano físico. Ao aqui agora material – urgência míope. Não existe mais uma preocupação com o depois, com o vir a ser. A ocupação agora é a sobrevivência cômoda – “estar existindo”. O estar bem materialmente, vencer agora, ou pelo menos sobreviver monetariamente vestindo camisas Lacoste, mesmo que sejam produzidas pelo trabalho escravo da China, da Indonésia, das Filipinas e contrabandeadas através do Paraguai.













“Um dia me disseram, quem eram os donos da situação, sem querer eles me deram as chaves que abrem esta prisão.”



“Quem ocupa o trono, tem culpa; quem oculta o crime, também. Quem duvida da vida, tem culpa, quem evita a dúvida, também tem.”

Engenheiros do Hawaii











*Responsabilidade política aqui representa e abrange toda ação de um ser sobre o outro que teve a chance de obter instrução, mesmo que exemplar, antes de agir – pais, religiosos, políticos, empresários, agenciadores e todos aqueles que em algum momento lideraram ou mesmo liderou um único que fosse -; sendo ele um representante assumido ou não, ciente ou não do senso, do juízo de comprometimento, mas, e, principalmente, a todo o ser pensante que, sob a desculpa de não ter provocado o estado vigente se enfronha nos meandros sociais e se entende alheio ao imbróglio herdado sendo ainda mais responsável por qualquer desvio a um terceiro se, ao perceber a impossibilidade de qualquer ação altruísta, ainda assim continuou, agora, mimetizado a escória.








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