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Somos uma mentira como pessoas; como seres
responsáveis. Somos uma comédia; uma piada.
Nossa cultura é baseada no que nos
vem sendo apresentado há milênios, não é culpa nossa, mas cada um por si é
culpado se assim mantê-la.
*
Em meio ao todo que pertencemos eles elegem um
que outro que se destaca; um em cem milhões. Uma representação. Na intenção de
dar provas, de convencer – é preciso manter latente a ilusão de que é possível.
Ter essa possibilidade vendida amarra a todos a uma ilusão, outra ilusão, outra
de tantas ilusões. Fazendo com que a atenção destes seja focada em algo que
será descoberto ser outra mentira somente muito tarde, quando já não se têm
mais forças para lutar.
Possuir uma casa, um carro, vez ou outra um churrasco
com os colegas sempre com muita bebida, poder ir às férias até uma praia
próxima, se não desta vez; a velha cachoeira que viemos poluindo ainda serve.
Condicionou-se isso a uma filosofia de estar bem; não precisamos de mais, esse
é nosso modelo de hedonismo.
*
Não
nos permitem senso nem mesmo para assumirmos a nossa condição de passividade,
da filosofia risível das hienas. Chafurdando sobras entre alegrias compradas.
Assumimos, apreendemos, assimilamos tão somente, que não devemos olhar para o
próprio umbigo na situação de miserabilidade de ser em que sobrevivemos. Nada;
antes, devemos olhar para o outro, não o outro que está bem, mas o outro que
está mal. Aquele que está pior que a gente. Destarte, no desespero, ficamos
procurando alguém que esteja em pior condição para avalizar a nossa condição de
mendicância e, da angústia insolvível, acabamos auto aplaudindo nosso estado de
comiseração - vivemos aos solavancos, de mágicas, de milagres extraordinários,
para o bem e para o mal; inexplicáveis em um universo razoável. Em
contrapartida, a gente olha, somos treinados a olhar para um que está bem no
sentido a entender que também podemos chegar lá. Somos instruídos a olhar para
alguém distante que está bem – um “vencedor” - no sentido de que a gente pode
se espelhar neste, que podemos chegar ao mesmo nível, mas no momento precisamos
compreender que estamos em uma situação complicada e a sociedade insiste, com
doutores, especialistas, amigos, parentes, psicólogos: que era interessante que
entendêssemos isso apenas como um processo, logo tudo será diferente – mas
nunca será; ao menos para a imensa maioria de nós – e paulatinamente aceitamos
isso como uma condição de tranquilidade, quando não é a condição ideal. É uma
filosofia plantada que, uma vez aceita; confundidos, somos conformados com um
estar bem anódino, um estar igualado a todos, que é assim – por enquanto,
contentemo-nos; quantos outros estão em situação ainda pior que a minha - este
é o processo... mas, se é natural ou apenas vinculamos como natural, isso exige
graus outros de entendimento.
*
Se não pudemos ser hedonistas puros; mudamos as regras
do hedonismo - Não nos movemos mais observando filosofias onde os valores,
dignidade, razão e justiça, por exemplo, mereçam ser trabalhados – nem mesmo
tocados. A única coisa hoje que avalia – e avaliza -; o cânon, a condição de
indivíduo presente: é a situação monetária, econômica, este é o pré-requisito
abre-alas para sua aceitação.
*
Trabalha-se
voltado ao plano físico. Toda nossa estrutura vem se desmantelando: estrutura
passada de irmandade, o sagrado, a religiosidade, a família; pra que a atenção
se volte ao plano físico. Ao aqui agora material – urgência míope. Não existe
mais uma preocupação com o depois, com o vir a ser. A ocupação agora é a
sobrevivência cômoda – “estar existindo”. O estar bem materialmente, vencer
agora, ou pelo menos sobreviver monetariamente vestindo camisas Lacoste, mesmo
que sejam produzidas pelo trabalho escravo da China, da Indonésia, das
Filipinas e contrabandeadas através do Paraguai.
“Um dia me
disseram, quem eram os donos da situação, sem querer eles me deram as chaves
que abrem esta prisão.”
“Quem ocupa
o trono, tem culpa; quem oculta o crime, também. Quem duvida da vida, tem culpa,
quem evita a dúvida, também tem.”
Engenheiros do Hawaii
*Responsabilidade
política aqui representa e abrange toda ação de um ser sobre o outro que teve a
chance de obter instrução, mesmo que exemplar, antes de agir – pais,
religiosos, políticos, empresários, agenciadores e todos aqueles que em algum
momento lideraram ou mesmo liderou um único que fosse -; sendo ele um
representante assumido ou não, ciente ou não do senso, do juízo de
comprometimento, mas, e, principalmente, a todo o ser pensante que, sob a
desculpa de não ter provocado o estado vigente se enfronha nos meandros sociais
e se entende alheio ao imbróglio herdado sendo ainda mais responsável por
qualquer desvio a um terceiro se, ao perceber a impossibilidade de qualquer ação
altruísta, ainda assim continuou, agora, mimetizado a escória.
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