sábado, 26 de setembro de 2020

Herdar hereditário

 


Dia destes deparei-me com essa clássica; determinada e desavisada fiel – portanto, desculpável - postou também a esgarçada ladainha: “aqueles fora da minha religião não herdarão a Terra”.




Coincidentemente, esta semana, no grupo dos colegas do trabalho, alguém postou algo bastante providencial, insinuando que, devido às dificuldades em que o planeta está envolvido, o verdadeiro motivo é que já houve o arrebatamento até 2012, e nós somos o rescaldo e estaríamos sofrendo as agruras da nossa concupiscência - uma pilhéria é claro, porém foi uma boa sacada de alguém espirituoso. 

Voltando; penso que aqueles que buscam herdar a Terra continuarão assim limitados para sempre; aqui retornando.





Talvez fosse mais prudente contextualizar algumas partes do Sermão da Montanha; quem sabe Cristo superestimou os humanos, entendendo que eles seguiriam seus exemplos, porém isto não aconteceu e muitos de nós continuamos entendendo que se trata “desta terra” devastada, na esperança de alguma recuperação; sei lá, não é fácil jogar o jogo.




Até onde o processo de morrer, ver parte do que nos fará retornar, comprometermo-nos em manter uma mínima consciência sobre o novo contrato e então errar neste plano por mais algumas gerações, retornar e começar tudo novamente está diretamente conectado a história de Sísifo que na terra dos mortos é condenado a carregar uma pedra montanha acima e, uma vez lá, ela rola morro abaixo?

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Assim que a obrigação se torna habito e a consciência se apossa de o porquê o processo precisa caminhar entre trilhos - (con)vencido - dá-se a desnecessidade de seguir com ele. Seremos arrebatados do tabuleiro sempre que as preocupações egoístas e prescindíveis incômodos derem lugar à mínima compreensão do existir e à escassa valoração da vida.




 

Bem-aventurados os mansos,

porque eles herdarão a terra.

Mateus 5:3–16

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