sábado, 19 de setembro de 2020

Oportunidades

 



Mantenha-se sóbrio. Defendo a filosofia da ação na sobriedade – do agir uma vez acordado.







Entre os porres, êxtases e fissuras, o viciado tem seu tempo de lucidez ou algo parecido com a recobrada de alguma consciência 
mínima. Alguns se arrependem, outros se envergonham, outros ainda atacam com seu mau humor de pessoas atormentadas, no entanto o retorno é quase sempre inevitável. Caso clássico na família para ilustrar, temos o tio Ique. Inveterado beberrão, ele vai à clínica de reabilitação por conta; depois de uma presepada homérica ele some. A família já sabe, deve ter ido se internar. Esse modus operandi iniciou-se aos quarenta anos. Na casa dos setenta, a última, foi há alguns meses.





No nosso cotidiano somos apresentados a uma frase, uma notícia, uma preleção, um vídeo, uma nota lida, uma palavra amiga, oportunizados em um exíguo estado de lucidez, nos entendendo sãos, e então um lapso de consciência instiga a realidades outras, possíveis; um gancho, um gatilho que, mal utilizado finalizaremos como o comportamento do tio Ique há décadas: alguns dias depois, retorna a bebida.



Somos acossados com todos os tipos de drogas lícitas, vídeos, sexo, seitas, distrações, clubes, times, tribos, jogos, salões, informações, correrias, competições, vícios, aquisições, conveniências e tudo mais que leva a todos de algum modo a se enfurnarem em cantos exíguos a limitar vontades e quereres saudáveis - eus verdadeiros soterrando as mais belas realidades internas.






De repente uma frase faz com que algo diferente ilumine uma única conexão não viciada do cérebro, e neste pequeno espaço temos a oportunidade de vislumbrar a possibilidade instantânea da sobriedade da vida; como oportuniza-la?



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