O cordelista é o filósofo da vida e o
único genuinamente brasileiro.
A senhora, feirante (Dona Josefa Maria Santos – Artesã), com a pureza que suplanta toda sabedoria, todo o pensamento quadrado, enquadrado e métrico, se refere a um chapéu de couro que confecciona e vende; informando que o artigo inferior custa “mais menos”. Todo o rigor da maioria de intelectuais e acadêmicos intelectualóides que insistem em seus regramentos obtusos, em momento algum chegarão a originalidade desta senhora trabalhadora humilde que aqui está representando o saber puro e ingênuo e irreconhecidamente ígneo da cultura popular não apenas nosso, mas de todos os lugares do planeta.
Feira do Couro em Santa Rosa de Lima - Homenagem aos
vaqueiros do Sertão da Bahia, aos Cordelistas e a todo o homem sertanejo que
vive a simplicidade como seu maior bem.
"Cordeslizando"
Em sua matutice agrega ao couro duro
A arte ancestral adquirida do divino
Fala simples e rápido encantando o que
passa
Sentado em seu banquinho arrodeando a praça
Parecendo nada entender salta do claro
ao escuro
Faz rimas ingênuas lembrando um menino
Quem passa e não entende olha e acha
graça
Não se avexando jamais mesmo esse ele
traça
Na casa simples desprovida de cerca e
muro
Desprevenido há muito que largou o
ensino
Mas nem por isso se embaraça
E dentro da memória as palavras
ele caça
A arribaçã na caatinga se apresenta
num sussurro
Ele a ouve e de improviso logo ajeita
mais um hino
Juntando duas ou três rimas outro
verso ele traça
Cordelista que se preze sabe que nada
o ameaça
Quem o vê com presteza reconhece que é puro
Pois é da sua pureza que nasce o seu
tino
Seguro das palavras rima bode com
cachaça
Cordelista nossa joia este verso te
abraça
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