Quando desejamos muito estar próximo de uma pessoa, existe uma paixão sedenta, uma aura que se faz presente assim que ela chega, assim que nos aproximamos. Ficar muito é pouco. Tudo não é o bastante. Há o abandono insano das relevâncias ordinárias. Pode haver inclusive o abandono de si mesmo.
Como
conservar esse torpor em meio a rotina quando interesses que pouco agregam e
utilidades comezinhas se apresenta cobrando atenção?
Uma
vontade nunca antes pronunciada se mostrou, mudando ou tirando tudo do lugar –
o caos que sempre desejei. Nem mesmo me belisco para saber se é real; já não
penso em mais nada. “Estamos juntos para sempre e é somente isso que importa”,
diria se pensasse em algo além de nós dois finalmente juntos.
No
entanto, a partir da segurança de tê-la sempre ao lado, o clima, a química, a
aura, a energia; a exemplo do mar, infelizmente, também são amainados,
esquecidos até - em momentos que o mundo prático cobra nosso comparecimento.
Ainda que as lembranças manter-se-ão suficientemente fortes e felizes.
Mas.
O encanto inicial! Que castigo. Não o sinto mais; não como no princípio. Será
uma vingança? Um desmerecimento? Uma falha minha? O clima bom permanece, o
amor, o carinho, o querer, no entanto, a paixão paulatinamente é mimetizada ao
ambiente corriqueiro, à monotonia sempre normal a convivência em comum, então
recordo de quando vejo o mar, e ainda que entristece contentar-me apenas com a
lembrança do que é, e, lúcido, experienciar a dor de não mais acessar; aqui; a
origem; sinto a força do que foi e do que É, enquanto Meu Amor recupera
mentalmente o que apenas não está presente.
A arte, a sapiência, o entendimento;
mostra o sábio que não se deve deixar abater, pois a paixão não morre, a paixão
persiste, a aura do mar continua a mesma, você apenas e momentaneamente não a sente,
mas ela está lá, é importante manter isso; não esquecer. Saber e, portanto,
conscientizar-se dessa existência. Trazer isso para a vida, para a convivência
em comum, muda completamente a perspectiva em relação a negação do que parecia
não mais existir.
Homenagem à Jorge Luis Borges
*
O
Amor e a Paixão no início dos tempos não pertenciam à Terra, porém o clima
frio, destemperado do existir consternou alguns anjos que imploraram a Deus uma
solução. Deus em Sua Magnitude insistiu na impossibilidade destes sentimentos
aos homens, porém os anjos seguidamente importunavam ao Todo Poderoso com esse
assunto. “Como os homens podem evoluir sem saber da existência do Amor e da
Paixão, que motivação além daquelas egoístas inventadas por alguns os motivará
às buscas à ascender a um plano maior se não conhecem nada além do que eles
mesmos, pautados em seus egos, acreditam ser o que de mais maravilhoso existe
no universo?”. Deus, a despeito de Seus Planos, Cedeu. Poucos conhecem esta
lenda contada por descendentes antigos dos Aborígenes Australianos e é por desconheces essa realidade que a maioria de nós faz do amor algo inerente a nossa caminhada, mas isso não
é verdade. O Amor e a Paixão são apenas um vislumbre para despertar em nós a
ânsia de buscar uma morada onde eles sejam genuínos e vividos todo dia como se
fosse a primeira vez que você olhou para o ser amado.
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