“Nos fale
sobre o poema”. A princípio tentei desconversar, mas a insistência era
respeitável e não havia como fugir; e após a tentativa frustrada ao buscar em
vão dizer algo sensível e significativo deixei tudo ainda mais distante do
momento que antecedia a ânsia da audiência. O que dissertar sobre um poema se
não for a verdade – quando a verdade é uma quimera na poesia? Largado da
vaidade que cerca todo o intelectual que não ama sua obra, mas as pessoas que lhe
chegam por interesse?!? Aqui já foi dito que o autor do poema são todos que se
ocupam dele. Portanto, cada qual o compreende e o autoriza à sua maneira e à
revelia daquele que o ditou. Como instrumento, reconheço minha afinação maior
ao traço em detrimento ao dissertar. Talvez por isso penso que me entendem
adverso.
*
Amor em Verso
Ouço a música
que canta o amor em verso
Enquanto a
letra insiste no amor inverso
Penso, será o
meu senso crítico perverso
Não, se
entendo que todo o amor é
diverso
Por que ele é
ou parece então controverso
E quantas sensações o tornaram reverso
Digo que meu
amor é tão quanto o universo
Poderia
acrescentar inclusive ser transverso
Mas por
enquanto o mantenho submerso
E muito por
isso sobre ele não converso
Assim prefiro
ao todo parecer disperso
Contrariamente
me entendem adverso
Ah! Se
soubessem como me mantenho imerso
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