sábado, 3 de fevereiro de 2024

Das visões que desperta atenção

 























































































“Nietzsche não quer seguidores, detesta rebanhos e o espírito gregário. Na medida em que o homem opta por ser rebanho, recusa o entendimento profundo de sua própria vida e acredita na ficção de que a máquina do mundo pode ser explicada pela lógica e pela retórica. Nietzsche quer leitores que possam traí-lo, que possam seguir seu próprio caminho, como diz Zaratustra: “Retribui-se mal um mestre quando se permanece sempre e somente discípulo. [...] Agora, vos mando perder-vos e achar-vos a vós mesmos [...]”. Ao se recusar a tutorar o leitor, o autor aguarda que de sua reação venha uma resposta criativa, inédita. De fato, o que temos aqui é um ódio ao senso comum, à leitura rasa do mundo. Mas por que afinal Nietzsche se furta a oferecer coerência e se esconde em suas máscaras, em seus personagens? Por que se nega a comunicar-se com precisão com o seu leitor? Ora, a comunicação é o império do consenso, o acordo imediato e óbvio, a interpretação rasa que enxerga tudo pelo canal mais corriqueiro. O enigma garante uma reserva, uma obliquidade, obriga o pensamento a levantar voo. O leitor, ao mesmo tempo em que se irrita por se ver contrariado, sem ter a reta razão ofertada pelas linhas de Nietzsche, sabe que as ideias que encontra são convites ao pensamento autônomo e pode sentir que, de fato, trata-se de uma filosofia que o respeita.”

Rafael de Paula Aguiar Araujo



035.aa cqe