sábado, 8 de setembro de 2012

Nietzsche & Paulo de Tarso

O expressar exclusivo, diferenciado, pode fazer com que a colocação de algumas palavras leve o próprio autor às lágrimas, embora seja difícil afirmar que todo o analista singular carregue em seu peito, qual seu pensar, um coração de proporções diferenciadas, afinal nem sempre é possível dizer que se trate ele de alguém especial também em sentimentos – embora seja justo registrar que no mais das vezes assim o é: sua sensibilidade é igualmente privilegiada.
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Esta observação inicial tem como intuito chamar a atenção para a disparidade do comportamento, e na consequência: o julgar comum que leva a secção, ao analisar comodista que separa e assim mantém por anos ou mesmo séculos até que uma nova observação sobre algo que sempre foi observado e determinado como possibilidade de via única, - como é o caso aqui, do que parece ser (e o mundo tem como) dois opostos: o apóstolo Paulo de Tarso e o filósofo Friedrich W. Nietzsche - mereça então um ensaio que ouse a união do jamais pensado, e que particularmente nesta situação, que a ousadia busca postulá-los próximos, classificá-los para um mesmo escaninho, ao menos no que diz respeito ao aqui proposto.
Não podemos afirmar a existência de algum grau de ineditismo nestas observações, também pelo fato dá impossibilidade de pesquisar o material disponível a respeito, porém a possibilidade não pode ser descartada; agora também é possível afirmar que, se existir um local (in)adequado para este registro, é aqui; uma página de internet onde é lugar comum, ao menos o anseio democrático à ideias.
Não se pode também culpar estudiosos passados, por situações onde convencionou-se, ficou “determinado” como: “assim é para todo o sempre”, por razoes e motivos históricos, muitas vezes pontual apenas à época, porém que as camadas do tempo acabaram por sedimentar tais determinações agora – ou seria há tanto(?) – inoportunas. Acordos que jamais deveriam passar para séculos seguintes ou acompanhar a transformação histórica que se quer positiva, sem uma avaliação mais criteriosa, tendo ignorado assim o fator básico de que o homem, geração após geração, participa também de um evoluir natural; porém, é fato: sempre que este mecanismo não for respeitado toda a evolução humana está comprometida.
O princípio do entendimento que devemos buscar é simples; uma filosofia das mais práticas possível, – ou ao menos que deveria ser - o propósito, sempre, deve ser: não eliminar o velho, nem mesmo esquecê-lo, porém par e passo a este pensamento, - como se buscasse o equilibrar da balança – não esquecer que: o velho precisa constantemente ser contextualizado, o que não deve acontecer, jamais, é que o velho ensinamento seja eternamente aceito como irrefutável, como uma causa naturalmente vitalícia e (im)posta radicalmente ao longo de um período descabido: continuado e administrado como atual; ainda possível. Como uma lei irrevogável. Isto não serve como opção aceitável ou mesmo viável.
As populações sucedem-se naturalmente superiores, isto é científico, porém este evoluir é achatado devido a ensinamentos arcaicos ou exclusivamente interesseiros, por exemplo. É preciso que as velhas leis sejam adequadas, recicladas constantemente quando assistimos um avolumar-se de falta de opções para os novos caminhos que se descortinam para o existir humano, é preciso então que se estabeleça, que seja formado algum tipo de organização séria e enérgica – não necessariamente adversa, mas aberta ao que vem sendo assistido ao longo de determinado período - para que todo o velho aprendizado sofra a contextualização devida.   
Como repetem sempre aqueles mais centrados a respeito do que foi legado com propriedades à humanidade: era preciso simplesmente, que se atentasse para o fato de que há uma continuidade de vida acontecendo também com o volume deixado, e que à muitos parece estanque, mas ao contrário, trata-se o volume de verdadeiro organismo vivo, independente se estes tantos consideram este material apenas como pertencente à posteridade; tratando-o como um rastro de cometa fadado ao desaparecimento após a partida de seu autor para outro plano. Assim, cabe aos seus contemporâneos vindouros fazer com que, contrariamente as partículas que se dissiparão após a passagem do astro espacial; a obra deixada pelo astro humano permaneça eternamente contextualizável, formando então um rastro de estudiosos de seu caso, e são estes que tornarão o material aparentemente estático, posto, pronto, em um organismo vivo que se transformará ainda mais à medida que outros seres de mesmo naipe aqui aporte.
Seria impossível enumerar a quantidade de autores que tentaram através de defesas verbais ou textuais, credenciar a diversidade existente entre os iluminados Nietzsche e Paulo de Tarso. Este, por sua vez, não vai ingenuamente, ou desavisadamente apontar outra vez a obviedade, mas sim, chamar a atenção para que se atente para as sutilezas destas diversidades. O que está oculto em milenares discussões controversas? Pode que elas não sejam totalmente contrárias, ou tão diversas entre aqueles que assim agem ou parecem sempre discordar.
O que nos é apresentado é o comum manifesto; divergências, o repetir eterno é até bem vindo. Aquele que primeiramente ocorre entre os autores afins e imediatamente ganha força, - mesmo quando estes ainda vivos – da assistência que tanto para o bem quanto para o mal manterão a obra viva - é bom que assim seja, diga-se de passagem, afinal foram as dúvidas e discórdias históricas que geraram parte das expedições, das buscas e descobertas mínimas para um caminhar humano avançado.
É a partir então, desse divergir, deste não encaixe de ideias que, onde temos dois ou três escritores de boa pena não os encontramos todos no mesmo partido político, não os encontramos executando iguais defesas ideológicas, ou então se os compararmos: são tão diversos entre si, tanto em ideias quanto a libertação dos homens, quanto em seguir modismos e esquisitices tão normal a estes tipos. Assim também acontece com pensadores, renomados pesquisadores, religiosos diferenciados, ou velhos estadistas até que se dobrem; vencidos pelo tempo, onde finalmente acabam por depor tolas ideologias e se voltam para coligações para eles impossíveis no calor da juventude, dando lugar a um comportamento mais voltado a conciliação.   
Por alguma razão que não estudei ainda o porquê, as grandes personalidades que tentaram realmente ou ao menos trouxeram para esta existência um querer diferenciado em relação à busca de um acertar-o-passo-humano, sempre divergiram, - não raro, em demasia - em questões próximas, parecida ou comum a ambos; não conseguindo, mesmo sendo pares contemporâneos, ajustar então ideias afins, a fim de equalizar este pensar, transformando o seu pensar singular, porém individual, em um pensar plural; somado, entendendo que a partir desta soma evidenciar-se-ia o ganho qualitativo óbvio. Por outro lado isto já foi posto em outros textos; mas a oportunidade manda repetir.
De alguma maneira, é fato, sempre, com ou sem intenção – afinal não sabemos a que tipo de sorte estavam ou foram regidas – o pensado foi exposto sem que o autor se preocupasse com a mente – agora – comprovadamente menor, inferior, mesquinha, maldosa, perversa, pequena, do leitor/decodificador, ou simplesmente, da massa que de posse também de todas estas (des)qualidades estariam totalmente desamparadas, tanto quanto a obra que ficou a deriva, a mercê destes decodificadores, - atuais, proprietários autorizados e autoridades máximas, eleitos por senhores muitas vezes tão ignóbeis quanto seus leitores – é preciso que se registre que se este foi ou não um ato envolto em algum tipo de aureola de vaidade do autor, menor problema tem ele que seus decifradores caso os resultados não tenham sido “positivos”.
Quando não são contemporâneos, como é o caso que motivou esta construção de ideias; que motivou este texto. Sempre o que nos vem é que a dificuldade de se conseguir resultados que adicione, deve-se ao fato de autores de pensamento contrário estarem carregados, talvez, de orgulhos e sentimentos descabidos ou desproporcionais, bem como, devido a um observar apenas nuclear; nada holístico – pois inteligentes e conhecedores, todos o foram.
Não é possível saber se o segundo autor, aquele que contesta ou que não concorda, entende o que, ao decodificar, dissecar as ideias, buscou exatamente; quais eram os quereres do primeiro. Talvez se isto se desse, pudesse aprender (ou apreender) as colocações “observatícias”, contestadoras, não cerrando então as portas ao pioneiro, por não obter total fundamento, esquecendo que provavelmente, aquele fora prejudicado por estar adiantado ao tempo e sem as devidas ferramentas ou fontes agora disponíveis ao contestador (e o que fazer então?).
Mesmo quando existe uma cultura aproximada, por exemplo, por parte dos novos autores em relação ao conjunto em discussão, a força destes gera uma espécie de bloqueio, entendido muitas vezes como natural por uma unanime plateia, mais por esta não possuir conhecimento suficiente a respeito para fazer uma defesa eficiente, ou contestar algo em defesa do impotente autor. Há aqui então, como resumo, um desperdício de energias; o resultado fica muito aquém das forças envolvidas no processo, pois acaba por não se finalizar acordos que provavelmente catapultariam a consciência, o desenvolvimento humano à esferas de entendimento muitíssimo adiantadas, acertando ou ao menos direcionando o passo humano rumo à níveis que não nos pareceria hoje tão minguados; à índices tão vergonhosos.
Mas é certo que em algumas situações não se pode fazer nada – se não ocorresse como ocorreu não seria maravilhoso; e então voltamos ao marco zero, onde mais uma vez nos damos por vencidos, e esperando - como é prática de nosso gênero. Esperando que sejamos compensado de outra forma, afinal nada pode ser feito quando a humanidade se depara com gigantes alinhados na rinha da existência, cada qual defendendo sua posição; quando nos parece que uma vez mais estes soberbos senhores desenharam na eternidade um quadro também de desperdício como o acima exposto e que nada mostra; onde nada é diferente de outras tantas situações, que muito mais lembram capricho de seres especiais que vieram para expor o que sabiam, independentemente dos resultados ou dos absurdos que cresceriam a partir de suas obras.
Talvez este conjunto de ideias aqui descritas esteja mais voltado para o senso comum, a continuação, ao entendimento deste desentendimento entre os grandes, aqui apontado, - afirmando o: está certo como está - do que remeter a uma questão de cunho discutível. Porém a busca, a intenção maior é expor uma opinião com relação a dois humanos verdadeiramente notáveis; dois exemplos de coragem humana, que fizeram o que fizeram simplesmente porque entendiam, estavam plenamente conscientes, carregados de certezas; as suas certezas - e embora assim sendo, continuaram.
Isto que aqui defendemos de alguma forma é bastante perigoso, porque devemos compreender que mais de nós durante estas centenas de anos assim agimos – e nem todos são modelos a ser seguido, mas esta é outra questão - o fato é que se fossemos um tipo de juiz dando um veredito sobre algo que muitos autores ainda condenam com as mais decididas paixões, precisamos aceitar que ambos devem ser homenageados; jamais tachados de culpados, ou qualquer outro epíteto depreciativo.
Temos aqui Nietzsche e Paulo de Tarso. O primeiro, se buscarmos o registro dos especuladores de plantão veremos em todas as suas observações com relação ao trabalho do segundo uma negativa veemente. E para quem não está acostumado ou não é dado ao pensar proporcional, para Nietzsche, Paulo é o próprio anticristo, ou ao menos o primeiro cristão indicado a vestir este epíteto, e, portanto, um dos disseminadores das piores atrocidades que assolam a humanidade desde então, e o coloca, o classifica, ou o transforma; tirando-o de um semeador do entendimento, de Esperança – A VERDADEIRA – de Vida, de Amor, de Compaixão, Paz... em um promulgador da dor, da morte, da destruição, do desentendimento, mas principalmente: do atraso humano.
O que Paulo queria? Fazer com que o povo entendesse como Ele entendeu a Mensagem do Cristo; só. O que há de errado nisso? Nada. Por que não deu certo? Aí, - neste mesmo ponto, ou este é o ponto em comum que há entre os dois - Nietzsche se engana com relação a Paulo e o mundo se engana com relação a Nietzsche.
Aqui, então, reafirmamos, é o ponto inicial, talvez o único possível até então, onde os dois podem ser emparelhados. É claro que algo assim só pode ser explicitado por alguém partidário dos dois, afinal quando assim é, o que se busca entre os afins é a união, o entendimento a reconciliação, e no caso possível hoje, uma ousada união mesmo que esta se dê de forma atemporal.
Embora de pureza igual, ambos fizeram o que dita esta: seja; aja! E então, foi o que fizeram; apenas agiram.
Paulo, conta a história, abandonou o orgulho político e se lançou no deserto atrás de mudar o comportamento, infundir o Amor na cabeça de homens que as possuíam tão áridas, tão estéreis quanto à própria terra habitada. Ele não se preocupou, e nem deveria, com o resultado, afinal ele viu qua falando em nome do Amor do Cristo por alguns anos, se por um lado entendeu ser o mínimo, a contribuição menor de servo dedicado a fazer, de outro, devia acreditar que, com um avalista do porte de um Santo, nada poderia dar errado, e também se ele, um político, foi modificado, tornando-se uma ovelha, o que as Leis de Deus, anunciadas com Fé não fariam àqueles que ainda mantinham-se puros – e quantos destes não encontraria!?! Pessoas que jamais poderiam imaginar, por exemplo - devido à pureza de espírito ainda manifesta que carregavam - que poder tem um político para fazer o mal. Não poderia dar errado. Não era possível que isto acontecesse, - dada a crença que ele havia testemunhado. Ele afinal, era a prova de que precisava, ninguém precisava dizer-lhe mais nada – mas é claro que Paulo nem mesmo cogitou uma mínima parte disso, Ele deve ter apenas feito, é isto que aconteceu; é isso que pessoas decididas fazem – é preciso que Nietzsche seja avisado – se ainda não o foi - que existe algo de inconsciente na crença cega também daqueles que se tornaram os escolhidos, assim como no orgulho de se estar certo; estar com a razão – embora “razão” e “certeza” são sempre pontos onde todas as assertivas são questionáveis.
Por sua vez, então, Nietzsche fez a mesma coisa com relação ao seu pensar analítico totalmente fora do comum, ou como ele mesmo diz, “pensamentos que já nasceram póstumos”, ele apenas agia, é fato que quem o ler de forma mais apurada entenderá, afora os maus pensamentos de leitor, um orgulho do tamanho da sua obra, porém se pensarmos como humanos comuns: qualquer um o faria. Quem em sã consciência, e partidário do seu pensar não se orgulha apenas de entendê-lo parcamente, como então não se orgulhar sendo o autor, o divulgador ao mundo de tal erupção vulcânica de pensar. E é preciso entender melhor isto. Podemos até negligenciar sua obra, podemos até condená-la ao pior desejo, do pior dos seus detratores, porém algo não pode ser negado jamais: a partir de Nietzsche: que poderes de pensar têm; carrega dentro o homem!?! Isto é inegável, e isto é só dele, e quem sabe de uma meia dúzia de privilegiados.
Agora é preciso entender que o orgulho do Filósofo de Röcken fez toda a diferença, afinal se não fosse ele um apartado do rebanho, jamais daria continuidade a seu pensar nem mesmo durante seus anos de professor.
Ao final, deveríamos entender que não podemos condenar ninguém que de posse de um querer indomável teve a coragem de manter-se firme em seu propósito, muito embora eles – nos parece - não tiveram escolha, partindo do princípio que é inequívoca a existência, em casos específicos, de um Poder Maior ainda a nós desconhecido, ou a poucos revelado, agindo, ou ao menos contribuindo; observando.
Quando algo assim é proposto, o nosso cérebro é fraco demais para comandar uma negação; o processo todo é muitíssimo superior ao poder humano já alcançado. Nosso cérebro nestas situações é fraco, está aquém das necessidades para que sejam realizadas tarefas de tão significante monta, o cérebro então é trabalhado de forma exclusiva, que conexões, falando toscamente, jamais sonhada por especialistas, são ajustadas, de maneira também singular; são alcançados ajustes finíssimos, e essas modulações somente são possíveis em seres especiais, e estão afinadas para que estes homens distintos consigam um mínimo de adaptação quando de sua movimentação entre seus iguais – não é raro que sejam condenados a imundos abrigos como loucos, porém este é outro assunto.
O importante é que em algum momento se aprenda sobre a grandiosidade de todo o trabalho, - mesmo que tardiamente; o fato de nascermos ainda em meio ao atraso cobra o ônus devido de voltas e voltas em tordo do desconhecido; ou o de não se ter petulância nenhuma ou adequada para acessar considerável monumento de ideias - e quanto mais há se observado o processo em toda a sua amplitude, afinal estamos falando de um mísero acesso a um todo minimamente desvendado. Para ilustrar isto, basta que pensemos em um almoço elaborado de algum tipo de bodas qualquer - aquele que passou por isto sabe do que estamos falando – voltando então ao fator “proporção”, é fácil entender que volume, que grau de comprometimento e complexidade precisa ser atingida para que seja depositado no planeta seres da envergadura a que se relaciona este texto.
Nosso cérebro então não foi constituído; nem de longe está pronto para aceitar pressão tão díspar, ele é fraco, este é o ponto, para comandar uma negação a algo de natureza totalmente incompreensível ou adversa. É fato também que pode haver aqui um tipo de discrepância, (normal e perfeitamente aceitável devido à indestrinçabilidade do assunto) mas era preciso entender que, se Paulo tentou levar um pouco além do tempo curtíssimo do Cristo a Mensagem do Amor; Nietzsche por sua vez, tendo observado que a população dorme, encontrou a “sua” forma de “acordá-la”. E só Deus sabe com ele tentou.
Ele cutucou, - como um chato insistente, e de todas as maneiras. E devemos agradecer, antes de tudo, a este benfeitor humano, ao seu espírito generoso. Parece-nos que ele não guardou nada para si, distribuiu sua chatice - como dizem alguns de pensamento mesquinho - de todas as formas possíveis. O que nos resta; é extasiar-nos, - mesmo que em algumas situações nem saibamos o porquê, somos ótimos nisto; o fazemos porque mais de nós estão a fazer - afinal sem saber(!?!), ele estava sendo condescendente com a humanidade.
Ao final, em algum ponto é possível entender que poderemos, ainda, cada um de nós, ser surpreendido pela existência afora. A partir de Nietzsche, Paulo de Tarso e tantos outros; portais insondáveis são abertos à visitação, e de posse deste entendimento podemos ter a certeza, aqui valendo-se, pegando carona em uma das defesas símbolo do filósofo, o Eterno Retorno, que o homem tem em algum lugar dentro de si espaço e poder suficiente para suplantar o comum.
Obrigado Paulo, obrigado Nietzsche.
067.e cqe