Avaliando
algumas ações, particular ou não, ao longo de um cotidiano extenso, ocorreu-me
que uma das constatações mais inapropriada, que se transforma em um estado de tristeza
ainda mais visceral por chegar tardiamente e que, definitivamente se alojará, -
por mais ocupada que esteja nossa cabeça - em nosso cérebro pelo resto dos dias
acaso recuperemos a consciência após entendermos o que realmente se deu; está
intimamente ligado a um encontro que pode ter ocorrido durante um longo período
da vida da gente, e tem a ver com aquele ser mais próximo que por este espaço
de tempo conosco esteve: nosso companheiro ou mesmo um ou vários amigos nosso
em particular.
Devemos estender, devemos abranger aqui, um
número maior de pessoas amigas; o rol de nossas amizades durante uma vida
inteira, porque existirão sempre aqueles indivíduos que necessitam de mais
amigos, primos, irmãos e tias para que o suportem ou o auxiliem em sua
caminhada.
O número de amigos que cada um tem durante sua
curta existência está relacionado claramente a determinadas fases da vida, e
mesmo que um ou outro com uma maior “química” extrapole fases diferente,
poderão existir outros em paralelo – amizade e companheirismo nem sempre está
ligado a exclusividade.
Além
das fases pelas quais nossa vida evolui ou apenas circula em relação às
amizades (adolescência, parentes, colégio, trabalho, associação, arte) - afinal
pode aparecer um bom companheiro em qualquer esquina - o ato em si da
aproximação ou sedimentação também se dá em processos, e então temos os
primeiros contatos, o “reconhecimento do terreno”, – embora este se dê automaticamente;
está implícito, afinal um companheiro não é escolhido, ele acontece e pronto - da aceitação mutua devido as poucas divergências
ou do aceitar das diferenças, do ficar junto devido a algum fator externo, e o
processo vai evoluindo e pode passar até mesmo pelo ciúmes, um bocado de inveja
que se não cuidado pode acabar atacando prematuramente ou não o processo, e,
mesmo que isto aconteça muitas vezes em detrimento também do fator externo, é
certo que uma das partes sempre é mais forte no suportar, no ponderar, no
equilíbrio da amizade.
Devemos admitir que entre nós, existe uma
série de casos onde a amizade suplantou todos estes dissabores externos, –
talvez este seja mesmo o nosso caso – mas não é sempre que as amizades resistem
a este conviver turbulento. A convivência a dois, onde os companheiros dos mais
diversos tipos trocam cumplicidade, depende, volto a repetir, mais da força de
um deles, geralmente – embora muitos tenham morrido sem ao menos pensar a este
respeito e finalmente admitir esta verdade. Ou quando não é o caso de carência
afetiva ou necessidade direta daquele que, por ser mais esclarecido, mais
sensível, invariavelmente suporta – sempre sem cobrança - os revezes normais ou
possíveis de toda a amizade, porém nem sempre sem um custo, o custo do desgaste
que pode até levar, com o passar dos anos, ao rompimento, isto quando essa ruptura
não se dá prematuramente.
E para o último capítulo deste episódio que é
um dos mais sem sentido entre nós, mesmo que alguns entendam que este “quebrar-se”
nunca é um fim definitivo, afinal é certo que para sempre existirá o que houve de
especial em uma boa amizade; - isto permanecerá como uma chama eterna - há um
último episódio que evidencia ainda mais a tristeza deste avolumar de contas de
cumplicidade, pois, geralmente é tarde demais que a parte mais fraca da dupla é
esclarecida e levada a entender o quanto ainda mais especial era o seu
companheiro - e isto pode se dar não apenas ao constatar o quanto foi ele
tolerante em relação a você.
-0-
Nunca
é demais entender nosso amigo “antes de qualquer julgamento” como um ser especial, e
sempre que formos avaliá-lo, usarmos a razão e procurar observar se é ou não
importante a ação que está nos levando a apontá-lo como réu, pode que ele o
seja, porém, devemos sempre levar em consideração também, que há algo especial ao
menos entre aqueles que assim se entendem, e afinal, como sempre disse um velho amigo – é bom
que aqui se acrescente: “devemos falar mais constantemente para nossos amigos:
isto não tem importância”.
“Vamos
prorrogar a existência dos sentimentos”
Bhonachinho
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