Não
é fácil que decifremos algumas reflexões mesmo que aparentemente pareçam de
aspecto simples. Por exemplo; como seria percebido se colocássemos que toda a
boa liberdade deve nascer de uma prisão séria e enérgica! Vamos, é claro,
desconsiderar aqui a obviedade simplória da observação, afinal, qualquer um com
mínima instrução detém esse conhecimento, ou consegue fazer ou ligar tais
analogias de que quando se perde é que se dá realmente valor, porém este não é
o caso aqui.
Tão
obvio isto, quanto o entendimento de que apenas ao fato de mencionarmos a
palavra "prisão", ao seu significado obscuro na psicologia humana, é
que observaremos um menear incômodo por parte da maioria.
Mas
é assim que é. Então, como exemplo, a despeito do sofrimento do cavalo, e
apenas como uma ilustração infeliz, mas de fácil entendimento – afinal devemos
adquirir a consciência total, tão necessária quanto urgente do não sofrimento
de qualquer animal/ser vivo. E mesmo que façamos apenas uma alusão a esta
abominável necessidade, e em algumas situações uma vergonhosa mania humana de
subjugar os animais, ainda assim não nos sentimos bem. E, se por ventura couber
a questão de: o porquê deste registro então? Isto serve mais e também, para
demonstrar nossa posição firme quanto a contrariedade com relação a questões
absurdas como esta.
Nosso
amigo que uma vez livre e de beleza rara e incomparável na natureza selvagem
seria praticamente indomável se não se provasse mais tarde tão dócil e
praticamente mudo para gritar sua dor. Assim, era preciso que ele passasse pela
doma, pela prisão do seu algoz para que então pudesse ser novamente
"libertado".
Especificando
mais a fundo, para quem não sabe - em era tecnológica. Não é possível que um
cavalo seja "solto" em um cercado simples e da altura de seu dorso
sem que ele tenha passado por uma verdadeira e torturante prisão até que seja
condicionado a assim agir – respeitar aquela mísera cerca. Em suma, o cavalo só
pode ser livre após ter passado pela prisão.
Isso procede também conosco. E de
alguma maneira não se sabe até quando ou até onde, - isto é resolvido de
maneira particularíssima de indivíduo a indivíduo - estamos também limitados à
altura do dorso, com um cerca invisível, porém ainda necessária. Está é nossa
prisão. O que o homem julga liberdade
hoje, nada mais é que uma falsa liberdade – vide o texto “A era da impotência”,
por exemplo. E continuará levando o homem a desfrutar conquistas inócuas de
posse de um sentimento de poder inexistente e até, em incontáveis situações,
subjetivo, porém, tido como real. E por que esta é uma necessidade
imperceptível? Por que, ao contrário do nosso amigo Equus, que não possui o
discernimento do gênero humano e precisa para sempre estar com algum anteparo
visível entre ele e o mundo livre, uma corda, um cabresto, um buçal, a nós isto
é possível sem a matéria. Nós observamos leis e necessidades de convívio, sendo
eles absurdo ou não.
Mas o homem poderá um dia livrar-se
desses instrumentos sem jamais desrespeitar lei alguma. E isto acontece
exatamente no momento em que ele se dá conta; quando ele adquirir a consciência
devida, exata, de que se em algum momento não foi totalmente livre era porque ele
ainda não havia adquirido a exatidão necessária para livrar-se do jugo
invisível quase imperceptível, porém, tão necessário.
Esta
liberdade, este imaginar-se livre, desvinculado de assumir uma postura de
responsabilidade, ou mesmo de buscar entender se realmente há um significado
maior para a sua existência, para sua estada aqui; faz com que suas ações e
conquistas lhe sirvam mais para atrasá-lo, ao invés de lhe proporcionar algum
tipo de salvo conduto para um futuro com menos aparelhos de coerção ou ao menos
que, se não lhe trouxerem a paz necessária, causam menos dor ao espírito.
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