Em
sociedade, é bastante natural que as pessoas se permitam caladas; e onde muitos
imaginam que esse frágil equilíbrio advém apenas da educação, águas mais
profundas entregam a bonomia covarde, semente da classe da não evolução.
Par e passo
a política da industrialização, viemos caminhando e afunilando para uma espécie
de comportamento conveniente e pernicioso à nossa convivência. Atitude essa,
que ganhou força, estabelecendo-se, na mesma proporção que, anula, deteriorando
a nós como indivíduos nestes tempos que orgulhosamente propagandeamos como era
moderna. Nos suportando sob a máscara do, “vou te enganar; porque alcançamos o
estado onde não temos mais vergonha
de nos auto propor isso, de nos permitir pelo simples fato de que estamos
juntos e atolados nessa filosofia de conveniência hipócrita” – e nessa cadeia
nos permitimos às mais pérfidas liberdades. Porém, imaginando e confessando
para nós mesmos que devemos; que precisamos aceitar e concordar por entender
que chegará a nossa hora de “cobrar o favor”; necessitaremos da troca; da
cobrança, - até do revide - onde o outro, antes algoz, pode (agora obrigado)
fazer o papel de refém por ter batido à porta e nos submetido ao que nem sempre
passa de um capricho seu, um abuso, uma invasão; de sua fraqueza no que quer
que seja, por não avaliar sua necessidade camuflada então em velado –
desconhecido ou infame - “desrespeito”, transformada em conivência, agora, mimetizada
na imperceptibilidade convenientemente ajustada – aceita – entre ambos.
Nos acostumamos
a isso; incorporamos à nossa natureza fraca esse aconchegar-se enjoado – essa negociada
“harmonia de ocasião”. Nem podemos afirmar que aceitamos, por ser essa a nova
forma – tendência - social; pois
somado a nossa histórica falta de raciocínio aceitamos essa mecânica como alternativa
outra de convivência social, onde nos queremos queridos, amáveis, envoltos em
uma película extremamente fina que, quando rompida, caso alguém não concorde
com nossas necessidades podres, mostraremos toda a revolta da não aceitação
represada, todo o nosso ódio, o nosso enjoo até então escondido, porque, um dos
pilares desse verniz nojento é não receber um não como resposta; portanto, não
pode haver aqueles que assim não pensam – dissidentes que possam viver bem fora
desse ambiente pesado.
Estes
poucos então, por raciocinar e cientes de todo esse processo, tentam viver
reclusos, - não porque são especiais, ou porque não os amam, (até o fazem mais) - mas porque entendem que para haver uma sociedade justa deve antes haver o
respeito espacial, hoje, totalmente esquecido - porém esses precisam ficar longe
do todo costumeiro a essa cultura, porque do contrario, não serão poupados,
simplesmente por não concordar com esse sistema invasivo e desrespeitoso –
tornado mesquinho em alguns casos; então escolhem a reclusão. Mas essa também é
uma escolha difícil, porque o grupo maior não aceita ou não quer entender que
pode alguns poucos pensar melhor, ou diferente do todo maior; como pode ser?
Questionam. Como podem existir alguns pacatos vizinhos que não aceitam ser obrigados
a concordar com sua nova e vencedora forma mentirosa de sociedade!
E assim
continuamos, e nos parece que tão logo, também esse pensar equivocado não será
abandonado, dando lugar enfim a uma conscientização de que essa cultura confusa não será possível para sempre; é certo que não vingará; além de seus próprios
muros ilusórios, essa forma de convivência de alguns nichos sociais que
precisam, devido ao seu estado econômico, viverem como vizinhos. Aliás, é mais
do que certo que isso não poderá nos levar a uma convivência harmoniosa, porque
antes de tudo deve haver a educação e então o respeito, não podemos chegar para
o nosso vizinho e impor – de forma dissimulada, por saber que não dirá não, que
aceitará a proposta desavergonhada por polidez – uma vontade, um capricho nosso
imaginando que também o faremos (pior
ainda quando sabe que não o faremos) na nossa vez, como se ambos assinassem
e trocassem promissórias invisíveis, compromissos negociáveis ainda que
existente apenas no comprometimento invisível, tornado obrigatório por conta de velados ardis. É preciso conversar e dizer
sim ou não com clareza, e é preciso também que, em havendo o consenso, dentro
da sensatez necessária, que não seja negligenciado o respeito; mas principalmente
respeitar a vontade do outro, sem rusga, como adultos civilizados e conscientes,
entendendo todos que comunidade alguma cresce sobre o pilar apenas do favor, ou
pior, do favor ao que se prevalece à sociedade.
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