Talvez
fosse possível alcançar ainda aqui o mundo perfeito, porém, essas paragens, o agora
como morada física, não foram construídas para esse fim. Seria quem sabe, por
conta dessa observação que não nascemos dotados da “inércia” [i] para o depois;
para o devir; para a transcendência – seres seguros e autoconscientes de que a
paciência quando atingida, muda, transforma-se inequivocamente em segurança e
confiança insuspeita, filhas do conhecimento. A paciência por si só, despertada
sua importância: é ainda uma doutrina, uma espécie de exercício àquele que a
busca, mas inexiste; é incorporada e torna-se invisível[ii] uma vez
assimilada.
Fomos
tornados afoitos para o agora; qual o motivo real da consciência ou, traduzindo
na nossa linguagem, a existência do aqui/agora? – Ou fazemos demais e ainda que
não seja um tempo perdido, pouco é aproveitado ou, partidários da indolência, fazemos
de menos e então encalhamos duas vezes; quando a perfeição reside no existir;
no fazer consciente.
Uma das
respostas é: para que fossem adquiridas habilidades, desenvolvimentos únicos enquanto
habitantes da Terra, portanto, presos a um corpo físico – apenas uma resposta,
mas suficiente o bastante (ou mais que suficiente) para jamais questionarmos
nosso coexistir temporal com a matéria.
De posse
dessa inconsciência ou, não adquirida essa ciência, nós percorremos existências,
voltados tão somente à observação da posse material, influenciados por sociedades que nos desvirtuaram da essência ou do que era para ser essencial aqui.
Pregando,
legislando, afirmando; incubaram na mente humana que não há motivos para a
introspecção, ou, que voltar-se antes para a interiorização e daí para a
sociedade, (sempre essencial aqui) não existirá a evolução do homem como
homem-material-econômico-possuidor, algo tornado valor e diga-se, também
importante. Porém não poderíamos ter relegado a interiorização - o
desenvolvimento do ser humano altruísta, possuidor consciente dos mínimos
valores - em detrimento à transformação do bem exterior em valores que superam
o que será sempre essencial ao indivíduo: ele como essência. Algo então foi
invertido; quando não mais a família vem antes da sociedade. O trinômio
Família>Indivíduo>Sociedade jamais deveria ter sido desrespeitado; por
conta da continuada observação à importância e à individualidade (buscando a
evolução una e individual conjunta) de cada um desses grupos à custa de
fortalece-los individualmente quando a resposta da soma de seu pares jamais
seria a dispersão hoje assistida.
*
Os
defensores do humano-material-econômico insistem que uma vez partidário da
introspecção, ou de, apenas como exemplo, filosofias que remetem ao ascetismo, ao
epicurismo e a vida contemplativa; em suma, um existir mais voltado à teoria: “a
vida humana se tornaria tão vazia de sentido que as pessoas teriam que ser redesenhadas
biológica ou psicologicamente, e, cedo ou tarde, haveria a necessidade de lhes
implantar a necessidade de afirmação pessoal ou mesmo sugestioná-las à importância
do poder, quando suas existências não passaria de um passatempo inocente e superficial.
Voltadas apenas ao desenvolvimento de habilidades manuais ou intelectuais;
psicologicamente frágeis, treinadas, fiéis, conformistas e dóceis”. No entanto,
é preciso que pensemos – justamente o que inúmeros detratores fingem ignorar –
é: no que a grande maioria da população difere dessa descrição hoje – e para
sempre assim aqui será! Justamente no ponto onde, transformadas algumas das
expressões anteriores: desvirtuou-se, totalmente, o humano de sua essência.
[i]
Encontrei dia destes mais um
de tantos textos que questionam a vida perfeita neste plano, que também fazia
(de forma confusa ou desavisadamente) referência ao fato de o ser humano, uma
vez voltado ao estado de contemplação, obrigatoriamente entrar no estado da
conhecida inércia nociva, natural a todo aquele que encontra, sem o devido
preparo, um regime de sossego - o oposto da estabilidade física, moral e
psicológica; condição natural ao indivíduo que alia paciência e sabedoria a
passagem terrena - e faz dela, desavisadamente, uma nefasta zona de conforto. Não
necessariamente devido ao conforto propriamente dito, - isso se dá, em
condições normais, por conta do despreparo aliado ao comodismo e a indolência
nascida da inobservância do conjunto como um todo. Nem sempre são confortáveis
as posições que nos encontramos neste plano, mesmo àquelas que assim nos parece
quando olhadas a partir do externo, independentemente da distância.
[ii] Tudo o que é assimilado; alcançado:
é tornado o que é e então deixa de existir.
(nesse
caso o texto faz referência à paciência que ao ser inserida no ser como
essencial torna-se parte da doutrina desenvolvê-la, e uma vez feito, ela
desaparece por ser uma condição normal ao ser, exercê-la. Não mais a
percebendo, o ser paciente apenas segue, sem ânsias, mesmo a ânsia faz parte
desse não existir, ele apenas segue sem essas necessidades porque nem mesmo a
necessidade existe)
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