“Os
assassinos estão livres, nós não estamos.”, canta Renato Russo. Dirijo-me as poucas mentes sãs –
e que, a despeito da escandalosa torrente de ofertas ao dolo, assim pretendem
continuar – capazes de compreender essa linguagem. Nosso estado atual tem
presos a vontade - demais e livres. Ortodoxamente não há o que ser feito. Os
comandantes “evoluíram” diametralmente na direção oposta aos comandados – se
não pessoalmente, obrigatoriamente.
A partir desta premissa imperiosa (a liberdade alcançada à custa do poder sob o
subterfugio de sociedade organizada) tudo o que acontece - tudo mesmo - pode ser
usado a favor do grupo que evoluiu no sentido ou na ação de subjugar. Como
paliativo: a passividade em nome do bem estar e da segurança sob os “auspícios”
da famigerada e assumida justificativa de escolhas – onde é assumida a condição
por conta de uma desculpa absurda qualquer que se não engana ninguém serve para
manter-se prostrado. Talvez a posição mais correta resida na ciência
individualíssima – não resignada negativamente, mas assumidamente - de um que outro
avesso ou cansado do desconforto continuado, do segundo grupo, decididos a não
sofrer duplamente: por conta da carga normal a que está submetido e à situação
fisiológica da ânsia de assistir prevendo um futuro melhor que não virá. Achaques
proporcionais; este é o futuro para aquele que não se moldar a nova (ainda e
por muito camuflada) velha (há tanto estabelecida) onda que pode também
considerar acertadamente o governo – por razões diversas - como uma milícia
enrustida. E a partir daí, cultivada a conscientização deste claustro nada psicológico;
reconhecida a tão urgente quanto necessária compreensão desta liberdade
prisional: a criação de um Plano Exclusivo* onde se possa viver a própria e sã
realidade individual assim que executadas todas as obediências burocráticas
obrigatoriamente inventadas para manter o “estado de direito”. Tão infeliz
quando prudente (a prudência é irmã da sobrevivência não da felicidade), esta é
a acomodação mais acertada à viver sua liberdade vigiada e então finalmente
sair da solitária imagem de eterno desconfortável que anseia ao disputado naco
prometido e assumir a nova condição acatada, e só assim, ter direito ao banho
de sol com algum grau de sossego. Vislumbrando as paredes invisíveis, porém
seguro de que ao ser abordado as humilhações serão apenas as de praxe se
estiver quite com as prerrogativas que lhe
facilitam a manutenção deste “privilégio”. Por que, ao contrário do que
entendemos por prisão no nosso dia-a-dia: não podemos nem mesmo conjeturar uma
rebelião, um motim. Ao contrário da literalidade do assunto, não nos valemos
nem mesmo de uma única bala na agulha para
barganhar. E não apenas por conta da nossa pureza de pensamento – ajustados ao
entendimento posto; quando no mais das vezes temos a firme “convicção”, por nos
entendermos parte do processo, e crentes –, e mais adequado: as manjadas, mas
recorrentes e ordinariamente implantadas, esperanças; que nos fazem “compreender”
e (a cereja do bolo) aceitar o que vem sendo anunciado. Portanto, ainda que não
percebendo a saída, caso houvesse a possibilidade de uma única melhor, a
brutalidade de antigas escolas não deixam dúvidas que, se causarmos distúrbios
à ordem sem o consentimento (há uma gama de possibilidades enorme aqui) armado
e arranjado da Milícia Governo, é certo que aí sim, seremos realmente presos;
presos literalmente por conta do sacrilégio de não entender a liberdade conquistada
à custa de muito sangue de nossos heróis condecoradíssimos. E não há nada que
possa ser considerado mais infame; mais degradante, que não honrar aqueles que politicamente
lutaram[1] por um
futuro de igualdade.
Not chains around my feet, but i´m not free - BM |
Invisibilidade
conquistada – “1984” e suas câmeras vão longe; um pensamento tornado obsoleto
para um governo que não precisa coagir, agredir, maltratar e confinar para
obter a obediência; eles sim, finalmente adquiriam experiência, sabedoria e
inteligência. Jorge e tantos outros tão somente lhes deram material;
visionários, os muniram com suas inteligentes alusões extemporâneas demostrando
que se não se pode nascer inteligente, nada impede que se adquira conhecimento
para entender a mecânica de quem a possui, e por fim, não sem antes sofrerem
aos borbotões, estão indo à forra em como não fazer, e afinal, fazer bem feito,
ainda que, primeiramente[2], em
benefício próprio. A partir destes arremedos de perspicácia, tudo vem sendo
rearranjado e daí foi delineado um novo caminho onde não existe o "Grande Irmão";
todos somos “irmãos” fraternos e buscando um novo futuro, ainda que ninguém
saiba que a separação jamais foi tão evidente. Por sua vez, ponto ao sistema
político que aprendeu que há mais desafogo em se preservar pequeno. O mega
estado das conquistas imperiais era um sonho utópico de anômalos conquistadores
do passado que não terá mais lugar no futuro – aprenderam também, que dividir o
butim traz menos riscos a todos eles. Compreendeu-se que em um estado de fácil
dirigibilidade, uma vez instaurada a política cooperativamente amarrada. Há que
se lidar tão somente com pequenos grupos que destoam do pensar unificado do
contingente público, estancando as destoadas células ulcerosas que podem chegar no máximo
a dois desvairados (não detectados por conceituadíssimos profissionais do
Ministério da Psicologia) por ano que resistem de forma mais contundente, ao
espalhar alguma desordem (possivelmente letal – furúnculos sociais - Alguns
deles nascido do próprio meio doente, ou ainda, pode ser classificado como
insano, por não passar de outro desnorteado que percebeu alguma realidade
escondida). Sempre, prontamente abafada. Porém no mais das vezes, a um grupo preparado
é fácil contê-los quando toda a prole esta bem suprida com água e pasto, ou
simpaticamente falando, quando em seu ambiente passivo buscam a continuidade do
ajuste, ou ainda, entende um que outro que, como fez referência o Pernalonga:
aqui, “só estamos de passagem”.
As
observações aqui anotadas não vislumbram em nenhuma hipótese, revoltas
particulares, nem mesmo aludem a alguma solução utópica, muito menos o sempre
desesperador e incompreendido niilismo é uma proposta de saída – afinal ele não
existe enquanto não for exaustivamente meditado. Este é tão somente um
exercício de escrita, nada aqui é sério o suficiente para uma tomada de
decisão, no entanto, assumida a posição de miserabilidade, observado a inegável
falta de poder de negociação, é certo que o menos inteligente é a revolta; onde
sofremos, na melhor das hipóteses, em dobro. Assumir a precária condição com equilíbrio
e lucidez é sempre a solução mais saudável.
*Plano
Exclusivo – Pode ser entendido como um consciencioso estado individual
adquirido. Resumidamente explicado: é entender e buscar conquistar parcial (nossas
ações e conquistas individuais, precisamos entender, sempre estarão sujeitas a
algum governo maior) porém, paulatinamente, a posição o mais próximo possível
de uma condição autossuficiente de coexistência; permitindo que apenas às
influências e interferências positivas acessem o espaço delineado e
subjetivamente esquadrinhado e, através de um conhecimento razoável, não
permitir que o externo negativo – ainda que compreendido e respeitado -
interfira no equilíbrio desse estado conquistado.
Em
tempo: Plano = Esfera, domínio, área, universo.
"Ter
que ir embora, Querendo ficar.
Que
vida é essa que não podemos escolher onde queremos estar?!
Seria
medo ou correntes?
Se
for só medo, não alimente.
Se
for correntes, argumente!”
Estabilidade
financeira pra viver só depois dos 70?
Mas
que vidinha mais azarenta!
Eu
quero é um lugar quente pra morar
Quero
água bem pertinho pra mergulhar.
Quero
florescer.
Renascer.
Ser.
Me
devolver!
E
se esse medo não me engolir, vou escolher viver com pouco
Quebrar
as correntes desse mundo louco.
Só
que viver com pouco
É
pedir muito.
Porque
o intuito é sair desse circuito!
É
ter uma terrinha pra plantar
Cultivar
e sem veneno cozinhar
Ter
a natureza imponente pra contemplar.
Olhar
nos olhos.
Trocar
sorrisos
Escolher
amar.
Mas
essa vida diferente
Não
é o que esperam da gente!
E
a exploração latente?
E
o lucro permanente?
Realmente
seria muito imprudente
Se
libertar das correntes!".
O Poema final é uma contribuição de Jasi
Machado