Normal aos bons textos, durante a
leitura de Homo Deus, varias observações foram pontuando as interpretações;
algumas poucas tive por capricho anotar e aqui registrá-las.
Estatística falha – Até onde são confiáveis as estatísticas – não menos sinistras e sem motivo algum de comemoração - ao registrarem, segundo o autor de Homo Deus, que as mortes por excesso de comida já superam as ainda absurdas perdas por conta da fome? Precisamos nos inteirar se isso não se dá tão somente porque a população considerada aumentou desproporcionalmente, camuflando os dados que devem ser observados separadamente, afinal, pode não ser os esfomeados que pararam de morrer, porém os outros, que, por desconhecimento, inflaram o débito por conta da conveniência do consumo.
Ao que parece, o governo ou a
iniciativa privada precisará inventar uma espécie de gororoba universal
industrializada, um mingau de fácil obtenção, minimamente energético, para
abastecer a legião faminta do futuro. Uma ração barata que supra a necessidade ilógica
de alimento da camada inoperante separada pelo abismo entre a elite e os
super-humanos dessa imensidão, agora “inútil”, que ainda sobrevive no futuro tecnoeletronicizado
e artificializado.
A política
econômica – tão autofágica quanto retroalimentadora - por contra própria ou por
atavismo ou algo do tipo, cria a dependência e incentiva a geração do senso de obrigada
obediência abastando e cumulando a fatia dominante.
Este estado fabrica o sentido
ilusório; do contrário: que soldado lutará por nada, ou quanto mais terão que trabalhá-lo
ante a eminência da morte prematura? Quão mais ávido é aquele que se entende
dono de algo e nem de longe que é apenas hipoteticamente livre?
E sobre a pg.235 – Se o intuito das
criações da tecnologia é servir e tornar cômoda a existência humana, como
resolver que ela poderá cedo ou tarde torna-lo obsoleto aumentando assim,
exponencialmente, o contingente de humanos supérfluos descartáveis, invertendo
desastrosamente (contra ele, é claro) o processo natural que valida a vida em
detrimento à coisa!?!
E sobre a pg.243
“Conhecimento =
Experiências x Sensibilidade”
Da assimilação do conhecimento ético
à conexão de experiências - Há tempos possuímos o aval não apenas em registros
sérios; de que podemos confiar em nossa sensibilidade observando um tipo de
consciência coletiva e sensações e sentimentos propriamente ditos, porém ainda
não buscamos trabalhar minimamente nossos interesses, vontades e
responsabilidades para otimizar todo este indissociável, monumental e intocável
estado de coisas a nos acompanhar silenciosamente, uma vez que, aprender a nos
valer desta verdadeira usina energética faria com que o humano saltasse da
inércia da confiança grupal para a ação da força individual unificada. Era
preciso não somente perceber, mas considerar o uso desta assimilação e
ultrapassar de uma vez por todas a simples camada individualista, da
digladiante ou beligerante e degradante barreira do competir, ou seja, ir além
do hoje limitado uso em benefício próprio ou de grupos sectários – para a
verdadeira cooperação “univérsica”.
Deveríamos iniciar admitindo,
assumindo e promulgando algumas novas leis universais dissociadas de doutrinas
e calcadas em vontades históricas e percepções que vem aflorando por séculos no
gênero humano em indivíduos dos mais variados matizes, em formas de arte;
espiritualmente intelectualizados, através das mais diversas e criativas formas
de registros e anotações.
E sobre a pg.272 – Com vontade
própria e ingovernável - Primeiro a obrigatória necessidade de leis sociais e
então o medo causado por tanta barbaridade a manter o primeiro ponto nos
trouxeram de encruzilhada a encruzilhada a amadoras ou prematuras tomadas de
ações. Intempestivas frente a necessidades ou garantias obrigadas ao extremismo
do momento; destas pequenas derrotas ou não, desembocamos no intrigante estado
vigente. A necessidade daí nascida; faz com que os sistemas, os padrões, sejam blindados
de tal forma: algo muitíssimo bem intrincado para a não violação salvadora* que
se transformou em uma via de mão única. Não há retorno, (obrigados) ou se
admite, (engole) aceita o corporativismo exclusivo político econômico vigente
instaurado ou ele mesmo ameaça intrinsicamente com o colapso total; é como está
que precisa continuar, ou nada. Não há uma saída fácil, mesmo que minimamente
falando; simplesmente porque não (“é permitido”, a estrutura organizada superou
o humano ) há saída.
Pg.324 - O que “pensa” um robô
quando percebe as limitações de quem o está construindo - que somente não é
ainda por conta disso? Estará ele limitado ao seu criador, ou seja, seria ele
ainda superior se suas mentes fossem realmente insuperáveis; e se fossem elas
os criariam?
Pg.322 – Iremos viver mais e nos
tornarmos menos capacitados, ou seja, com que precocidade o planeta acumulará
volumes cada vez maiores de seres supérfluos, ainda em plena capacidade física?
Como o estado nada proativo resolverá a equação da manutenção desse obsceno
contingente improdutivo?
Pg.332 – Quem sabe com algoritmos
que de uma vez por todas nivele consciente/artificialmente a nós próprios por
nos conhecerem muito além de nós mesmos, e diante de inteligências artificiais
inimaginavelmente superiores, criadas muito além da sua imagem e semelhança; possa
o homem finalmente se recolher a inegável insignificância que, proibida e
intocável, não pode negar lhe ter sido impressa originalmente e arduamente
trabalhada para que assim (continue) permaneça.
Pg.333 - Longo caminho – Iremos ainda, muitos de nós, para a
invenção de outra prisão; de impensáveis e necessários novos algoritmos a nos
afundar no universo artificial tecnoeletrônico, (tecnoeletronicizado) antes de
nos entendermos “presos” as linhas do invisível, então que regem conformando
necessidades reais “possíveis”, que escapam a “nossa” razão ou lógica relapsa,
ou defeituosa, ou cerceada, ou preguiçosa, ou conveniente, ou...
Pg.378 - O poder que não dá sossego –
Se bem observado, o poder invariavelmente transmite uma ideia falsa de poder
ainda que internamente isso não seja percebido antes da vontade de possuí-lo. Todo
poder se sustenta, esta é a lei, em uma pirâmide de poderes de menor
importância, ainda que essenciais à manutenção arranjada, ou seja, não há,
nunca, a sustentação por si, isso significa que não há sossego, portanto, manter
o poder comum exige dinamismos exaustivos e constantes atualizações, afinal,
não raro existem ameaças que fogem ao controle, mesmo os mais policialescos.
Pg.398 - Das dificuldades ainda não
percebidas (Em seu tempo?) – Paradoxalmente podemos entender que, por conta de
um mundo padronizado: as dificuldades pelas quais lamentamos são ainda
inferiores aquelas não dado conta por nem se imaginar previsíveis. Uma ou
outra; mínima ou intimidadora, aqui e ali são pinceladas por autores
visionários como o Yuval, ou romanceada por ficcionistas, por exemplo. No
entanto estamos tão arrolados às perceptíveis que não é possível prever mesmo a
mais assustadora delas.
Ou
Em seu tempo? – As dificuldades
pelas quais nos ocupamos são inferiores ainda aquelas não captadas nos
obsoletos radares humanos; novidade alguma aqui, esta é uma situação recorrente
à espécie – não temos tempo a dedicar a prevenção. Quando menos se espera
percebe-se que a metástase está instalada sem que nem ao menos nos déssemos
conta por, obviamente, nem sequer imaginarmos sua existência (embora estivesse
camuflada sob nossos narizes como uma superbactéria que não é detectada sob
pretextos mais negados que desconhecidos), algo, mínimo, sempre é pincelado;
como prova, temos este historiador, Yuval, precoce em observações, - precocidade
invalidada por sua natureza extemporânea - muito além do entendimento comum. E
a partir de que estado patológico servirão suas observações, afinal, quando
estes visionários aparecem, de qualquer modo, estamos tão arrolados as
perceptíveis que não é possível notar ou pressentir o que temos a frente.
Sobre a afirmação do autor de que “a
morte é um problema técnico” e que “o açúcar é mais letal que o terrorismo”;
podemos afirmar que: mais vitimas faz a Coca-Cola que o terrorismo?
Lendo Yuval é fácil concluir que o
terrorismo não tem as mesmas necessidades da Coca-Cola no entanto, com seu
veneno doce, está em todos os cantos do mundo e que, sob essa sórdida
filosofia, tudo o mais que é pernicioso desde que viável ao aquecimento
econômico é inadvertidamente infiltrado sob as mais diversas nuances na
sociedade, vendido ao homem e imposto ao planeta.
Trechos
“Ondas maciças de fome ainda atingem algumas regiões de tempos em tempos, mas são exceções, quase sempre provocadas por políticas humanas e não por catástrofes naturais. Não ocorrem mais surtos de fome por causas naturais; há apenas fomes políticas. Se pessoas na Síria, no Sudão ou na Somália morrem de fome, é porque alguns políticos querem que elas morras.” p.14
“Não é preciso esperar pela volta de Cristo a Terra para superar a morte. Alguns nerds num laboratório podem fazer isso. Se a morte era tradicionalmente a especialidade de sacerdotes e teólogos, hoje são os engenheiros que estão assumindo o caso."
Sem ciência - “A consciência é o
subproduto biologicamente inútil de certos processos cerebrais. Motores a jato
roncam ruidosamente, mas o ruído não impele a aeronave para a frente. Humanos
não precisam de dióxido de carbono, contudo toda expiração enche o ar ainda
mais com esse composto. Da mesma forma, a consciência pode ser uma espécie de
poluição mental produzida pelo disparo de redes neurais complexas. Ela não faz
nada. Apenas está lá. Se for verdade, isso implica que toda dor e todo prazer
experimentado por bilhões de criaturas durante milhões de anos são apenas
poluição mental. Essa é uma ideia na qual vale a pena pensar, mesmo que não
seja verdade. Mas é bem surpreendente constatar que, em 2016, trata-se da
melhor teoria relativa à consciência que a ciência contemporânea tem a nos
oferecer.” – p.124
Muitos povos ancestrais, a sua
maneira, afirmavam que relâmpagos, trovoadas ou eclipses ocorriam por conta
direta de seus deuses, os antigos acreditavam que na ciência há resposta para
tudo, hoje, o orgulho dos especialistas, a empáfia do universo científico é tão
exacerbada que eles simplesmente não admitem que algumas situações pudessem ter
relevância, apostando inclusive no prematuro descarte – no desvendar ou
elucidar - devido a não necessidade de manter o que “ainda” não pode ser
explicado, ao invés de admitirem o quão ínfimo é nossa sabedoria ou descabida a
nossa falta de abertura para aceitar que respostas e soluções possam ser
aventadas, ventiladas, sopradas, ditadas por conta de seres de planos
superiores talvez até, mensageiros do próprio Deus – ou, que alguns mistérios
devem assim permanecer.
Agradecido por não ter nascido cientista
*HOMO DEUS
Livro do autor de Sapiens,
Yuval Noah Harari
Companhia das Letras
Contribuição da
Minha Sempre Bem
Amada
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