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Quase ao
final do livro, 21 lições para o século 21, Yuval como sempre é bastante
assertivo ao abordar a mentira que nos acompanha ao longo da história; fazendo
uma relação com o que entendemos agora como Pós Verdade ou Fake News. Faz uma comparação as nossas velhas conhecidas – em
algum instante já abordado neste espaço: mentiras previamente arquitetadas ou
trabalhadas convenientemente ao longo dos séculos e obrigatoriamente
sustentadas para o bem da humanidade no quesito sociedade e, de quebra, o bem
viver de alguns poucos que se mantêm abastados com o único propósito de
mantê-las ativas. Que profissão! Viver uma vida de sobras, - de opulência –
enquanto mantém mentiras como verdade para aqueles que vivem das sobras
(observações nossas).
O autor de
“Sapiens”, tanto quanto nós; concorda que as mentiras precisaram existir para
construir uma narrativa humana minimamente aceitável - política, corporações,
religião, cooperativas, e mais recentemente, famílias.
Ousamos
apontar neste espaço, que mentira e verdade devem ser classificadas também na
mesma ordem das seculares discussões genealogicamente filosóficas do bem e mal.
Estes dois
últimos caminham emparelhados há milênios fazendo parte de congressos e
conselhos; avolumando repartições com as mais aborrecidas teses, sufocando
escaninhos de instituições como livrarias, bibliotecas públicas e particulares;
universitárias ou religiosas – algumas não acessíveis a qualquer um – na sua
maioria: rodando em círculos de inépcia e interesses frívolos, no mais das
vezes, apontando o narcisismo comum e sempre impróprio presente na porcentagem
maior de seus agentes.
Podemos, ou
até onde podemos afirmar ou inferir que as determinações, as narrativas, os
algoritmos acurados como mentira são dignos de atenção maior, diria até,
orbitarem em um universo de responsabilidade social tão importante quanto à
verdade; e, definitivamente: não sendo apontada somente como objeto de
discussão onde a tratemos categoricamente como nociva ou ruim!?!
E, se
ultrapassarmos as regras da dita sanidade social para falar em respeito à
devida, ou seria obrigatória, importância universal da ficção, devemos prestar
infindáveis reverências a esta inseparável companheira, afinal é muito mais
fácil que todo o humano suporte o existir muito mais sob os pilares da
dubiedade do que certezas sobre seu existir.
Estamos tão
envolvidos com enredos e ficções lendárias, falhas e falsas, que podemos
afirmar que aprendemos a suportar com muito mais simpatia a mentira que a
verdade. Isto, logicamente, não é um mal; até por que mal e bom estão na mesma
condição. Mas era preciso aguçar a busca por conhecimento para ao menos saber
que em algum instante este entendimento é necessário.
O campo é
vasto e do ponto de vista técnico é perfeitamente possível – dispomos de
técnicas inteligentemente eficazes a nos mostrar a verdade através da ficção.
No entanto o ponto alto a discussão é a ética, aqui, obrigatoriamente
precisamos entender ou aventar para o fato de que, sem abrir esta Caixa de
Pandora, sem o enfrentamento desta questão, não sairemos do vórtice humano em
que nos colocamos enclausurados e assim permaneceremos, ainda e até o despertar
para novas leituras e apreender sobre a importância e a necessidade do enredo.
A mentira é
uma cola, uma liga. O amalgama que sustém pessoas presas em situações cômodas
ao ser humano comum que entende, percebe, acredita na necessidade de manter o
equilíbrio de seu grupo, de seu estado social. Sem ela isto não é possível.
Esta é uma mentira que poderíamos apontar como ética, uma espécie de mentira
construtiva, aquela que suporta os mitos que aglutinam pessoas socialmente, ou
melhor, arrebanham construtivamente indivíduos e comunidades próximas de uma
vontade sã, cordial e objetiva, e isto assim precisa ser por conta da
disparidade humana.
Já o que
podemos chamar de mentira não ética é a do engodo orquestrado. Do aproveitar-se
da credulidade alheia baseada na inépcia, na laicidade e na escusa falta de
conhecimento. No enganar com propósitos em benefício próprio, antissociais, com
requinte de ganância, de posses, de sobressair-se além de todos aqueles que
foram ludibriados.
O embuste
com o qual procura obstinadamente o mentiroso separar-se do lugar comum por
conta da mesquinhes recalcada do espírito embrutecido que se autodenominando
superior acaba por macular com esta atitude reles a essência do existir humano;
aí sim, há o ardil nocivo.
A partir
daqui, ou seja, deste pensamento; a mentira não pode ser taxada sempre como um
mal, nem mesmo como um mal necessário. Aqui ela é elencada a uma condição
normal da nossa sobrevivência e mais, da evolução do homem que busca o conhecimento.
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Detalhe do exercício de 24/02/2019
“Tudo é verdade”
"Não existe essa coisa chamada sociedade. Há [uma] trama viva feita de homens e mulheres... e a qualidade de nossa vida dependerá de quanto cada um de nós está preparado para assumir a responsabilidade por si mesmo".
Margaret Thatcher
No livro 21 lições para o século 21
de Yuval Noah Harari
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