(...)
Foi então
que falamos sobre “As três verdades”.
Argumentamos,
inicialmente, sobre as duas mais prementes; de mais fácil abordagem. Em
seguida, diante da estranheza do que para ele não passava de uma cogitação
bastante original - que penso, pouco estava realmente assimilando -, misturada
a curiosidade -; desenvolvemos a terceira.
A primeira,
afirmei, é o estado do “Clip da Enia” – mesmo que pouquíssimos a conheçam ou
possam ligar esta expressão ao verdadeiro significado. Dentro de uma
representação bastante simbólica remete ao todo maior que, envolvido com seus
afazeres momentâneos seguem tocando a vida sendo um “doutor, padre ou policial,
contribuindo para o belo quadro social” como diria o poeta. Presos as suas
convenções obrigatórias, trabalho, sustentos, coexistência e/ou sobrevivência
pura e simples.
Em certos
casos; uma vez de saco cheio ou injuriado com a pasmaceira corrente, nos
envolvemos com a revolta – ou não, necessariamente; existe ainda o limbo do
outsider. “Espera aí; c...! Que tipo de otário eles pensam que sou para engolir
toda essa M...? Diz; uma vez tomado de uma revolta um pouco mais refletida ao
enxergar a falta de bom senso em como a sociedade é formada e, por conta do
ignorar o todo a que está inserido decide-se ao combate, à revolta
desarrazoada, no entanto, a partir deste quadro; não há alternativa a não ser
se associar a incoerência desvelada, pois, ao não se vender, o indivíduo apanha
até voltar ao estado anterior ou desistir, ainda contrariado.
Ou não.
Alguns se recusam. “C...! Não é possível. Pra trás não volto; o que temos
então?”.
A terceira
verdade. A Transcendência; o transcender.
E aqui uma
fenda abissal é aberta... impossível de ser transposta.
Costumo
representa este estado como uma ponte, um portão, e, me ocorre também; a “Corda
estendida sobre o abismo” de Nietzsche. Fato é que finalmente entramos no
“Limbo da Existência”, e se você chegou aqui meu amigo, vibre, porém o primeiro
alerta: a maioria não suporta. Proporcional ao exame de DNA para provar a
paternidade; em 99,9% das vezes a corda arrebenta, dá-se meia volta antes de
chegar ao meio da ponte. E os portões, quando escancarados, como cartão de
visitas: o desavisado é recebido com o hálito jamais provado do desconhecido;
do incógnito; do ignorado; em forma de lanças invisíveis arremessadas de todas
as partes, dignas de estremecer qualquer um que tente transpô-lo – e esta é a
parte fácil.
Porém você
já foi inoculado por perdigotos e babas aspergidas do ladrar infernal proferida
do acoo sobrenatural das cabeças do Cérbero que, ao contrário do que
entendemos, ele se apresenta sempre que precisamos tomar decisões as quais
somos prensados e, uma vez ultrapassado ou acessado seus domínios, o que
entendemos por dúvida atroz se instala em nosso ser que, ao não avançarmos, o
máximo que conseguimos retroceder é ao “Limbo da Existência”. Não será mais
possível retornar a monotonia social fingindo que nada aconteceu, você
tornou-se um zumbi desperto - atento, desconfiado, inquieto, enjoativo e
nauseante – sem nada poder fazer – que sente, vestido de uma paixão que não
sabia existir: que não é possível enfrentar o que assiste; ao mesmo tempo em
que, ainda ignorando, está praticando, maturando a coragem necessária a abrir
outros portões periféricos essenciais.
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