sábado, 10 de agosto de 2019

As três verdades



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Foi então que falamos sobre “As três verdades”.

Argumentamos, inicialmente, sobre as duas mais prementes; de mais fácil abordagem. Em seguida, diante da estranheza do que para ele não passava de uma cogitação bastante original - que penso, pouco estava realmente assimilando -, misturada a curiosidade -; desenvolvemos a terceira.

A primeira, afirmei, é o estado do “Clip da Enia” – mesmo que pouquíssimos a conheçam ou possam ligar esta expressão ao verdadeiro significado. Dentro de uma representação bastante simbólica remete ao todo maior que, envolvido com seus afazeres momentâneos seguem tocando a vida sendo um “doutor, padre ou policial, contribuindo para o belo quadro social” como diria o poeta. Presos as suas convenções obrigatórias, trabalho, sustentos, coexistência e/ou sobrevivência pura e simples.







Em certos casos; uma vez de saco cheio ou injuriado com a pasmaceira corrente, nos envolvemos com a revolta – ou não, necessariamente; existe ainda o limbo do outsider. “Espera aí; c...! Que tipo de otário eles pensam que sou para engolir toda essa M...? Diz; uma vez tomado de uma revolta um pouco mais refletida ao enxergar a falta de bom senso em como a sociedade é formada e, por conta do ignorar o todo a que está inserido decide-se ao combate, à revolta desarrazoada, no entanto, a partir deste quadro; não há alternativa a não ser se associar a incoerência desvelada, pois, ao não se vender, o indivíduo apanha até voltar ao estado anterior ou desistir, ainda contrariado.

Ou não. Alguns se recusam. “C...! Não é possível. Pra trás não volto; o que temos então?”.

A terceira verdade. A Transcendência; o transcender.

E aqui uma fenda abissal é aberta... impossível de ser transposta.







Costumo representa este estado como uma ponte, um portão, e, me ocorre também; a “Corda estendida sobre o abismo” de Nietzsche. Fato é que finalmente entramos no “Limbo da Existência”, e se você chegou aqui meu amigo, vibre, porém o primeiro alerta: a maioria não suporta. Proporcional ao exame de DNA para provar a paternidade; em 99,9% das vezes a corda arrebenta, dá-se meia volta antes de chegar ao meio da ponte. E os portões, quando escancarados, como cartão de visitas: o desavisado é recebido com o hálito jamais provado do desconhecido; do incógnito; do ignorado; em forma de lanças invisíveis arremessadas de todas as partes, dignas de estremecer qualquer um que tente transpô-lo – e esta é a parte fácil.

Porém você já foi inoculado por perdigotos e babas aspergidas do ladrar infernal proferida do acoo sobrenatural das cabeças do Cérbero que, ao contrário do que entendemos, ele se apresenta sempre que precisamos tomar decisões as quais somos prensados e, uma vez ultrapassado ou acessado seus domínios, o que entendemos por dúvida atroz se instala em nosso ser que, ao não avançarmos, o máximo que conseguimos retroceder é ao “Limbo da Existência”. Não será mais possível retornar a monotonia social fingindo que nada aconteceu, você tornou-se um zumbi desperto - atento, desconfiado, inquieto, enjoativo e nauseante – sem nada poder fazer – que sente, vestido de uma paixão que não sabia existir: que não é possível enfrentar o que assiste; ao mesmo tempo em que, ainda ignorando, está praticando, maturando a coragem necessária a abrir outros portões periféricos essenciais.


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