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Quando Parsifal encontrou
pela primeira vez o Castelo do Graal, se viu diante do Rei Mutilado, assistiu à
procissão das sacerdotisas levando o Cálice Sagrado, mas não fez a pergunta:
Quem sou eu, que estou fazendo aqui, que tudo isso tem a ver comigo e qual é
minha responsabilidade? A resposta, se encontrada, devolverá ao humano a
inteireza de ser.
Merlin, o representante simbólico arquetípico do “eu superior” ou do próprio Self, criatura transcendente do reino do inconsciente, é a possibilidade da inteireza de ser. Para encontra-lo, necessário se faz que o confronto com a Sombra demoníaca aconteça. No reino do inconsciente estão nossas grandes preciosidades. Merlin é o desejo de ser e o ser atualizado, o conteúdo e o próprio Cálice; a busca e o objeto procurado.
O reino do inconsciente exige do explorador ética acima de tudo: esse é o problema de todo analista. Não é só o mergulho e o trabalho com o inconsciente mas o que fazer com o conhecimento integrado e o proveito que se tira dele. Merlin dizia que não bastava o confronto com a sombra ou o mergulho no inconsciente, mas era necessário um retorno criativo.
Quando se faz o confronto
com o inconsciente, não há como retornar sem as transformações e a modificação
ocorrida só poderá ser comunicada a outros iniciados. O uso que se pode fazer
das descobertas é perigoso e cruel: atuar a dinâmica do coração é como usar
energia atômica como bomba.
“A quem
serve o Graal”
Maria
Zélia de Alvarenga
Psiquiatra
Em
Coleção
Guias da Psicanálise Vol.1
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