sábado, 28 de março de 2020

"O Castelo do Graal"



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Quando Parsifal encontrou pela primeira vez o Castelo do Graal, se viu diante do Rei Mutilado, assistiu à procissão das sacerdotisas levando o Cálice Sagrado, mas não fez a pergunta: Quem sou eu, que estou fazendo aqui, que tudo isso tem a ver comigo e qual é minha responsabilidade? A resposta, se encontrada, devolverá ao humano a inteireza de ser.





Merlin, o representante simbólico arquetípico do “eu superior” ou do próprio Self, criatura transcendente do reino do inconsciente, é a possibilidade da inteireza de ser. Para encontra-lo, necessário se faz que o confronto com a Sombra demoníaca aconteça. No reino do inconsciente estão nossas grandes preciosidades. Merlin é o desejo de ser e o ser atualizado, o conteúdo e o próprio Cálice; a busca e o objeto procurado.









Não adianta, entretanto, que um só consiga; antes, é necessário que o coletivo se humanize, individuando-se. Todos que fazem o mergulho em busca do confronto correm o risco de enlouquecer ou retomar a consciência fazendo mau uso das descobertas encontradas.








O reino do inconsciente exige do explorador ética acima de tudo: esse é o problema de todo analista. Não é só o mergulho e o trabalho com o inconsciente mas o que fazer com o conhecimento integrado e o proveito que se tira dele. Merlin dizia que não bastava o confronto com a sombra ou o mergulho no inconsciente, mas era necessário um retorno criativo.







Quando se faz o confronto com o inconsciente, não há como retornar sem as transformações e a modificação ocorrida só poderá ser comunicada a outros iniciados. O uso que se pode fazer das descobertas é perigoso e cruel: atuar a dinâmica do coração é como usar energia atômica como bomba.

“A quem serve o Graal”
Maria Zélia de Alvarenga
Psiquiatra
Em
Coleção Guias da Psicanálise Vol.1


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