sábado, 27 de fevereiro de 2021

Amor a Coisa


Nós que escrevemos por amor as palavras, amor às coisas; a coisa da escrita; em algum momento acessamos definitivamente o poder, a força das palavras e mais: sua independência.


Acredito em instantes, palavras e textos completos que são inspirados sob os holofotes; sob a regência das energias do Reino das Escritas. Eu, como um autor/ferramenta; posso aglutinar palavras e ideias sob o viés do meu entendimento, no entanto em algumas situações é nítida certa ocorrência ao se encerrar o processo e por dias, ou em um espaço de tempo maior, apreender que não posso me apropriar com exclusividade do resultado; isso quando bom. Porém esta ausência é entusiasmadamente evidenciada quando insistimos em rebuscar carregando nas tintas exclusivas do limitado entendimento pessoal. Se me deixei levar por empolgações próprias sem ater-me a concentração inspiradora do instante.

Para muitos que amam de verdade a escrita, esta percepção pode até fazer sentido; quando não faz sentido ou é quase imperceptível àquele que desenvolveu o dom, o tino meramente comercial do assunto.

Esta semana, em seu seriado, ouvi a Fran Lebowitz dizer que parou de gostar de escrever quando precisou fazê-lo por dinheiro.

Sempre tive comigo que escrever comercialmente tolhe nossa liberdade, mas isto se daria no meu caso. Insisto que toda a afirmativa dos parágrafos anteriores ocorre também na escrita comercial. Reafirmo aqui que usei “Reio das Escritas”, plural, portanto a abrangência é total, ainda que nem todos, - é preciso ponderação, sempre – percebam ou possuam humildade suficiente para declarar que legiões extra matéria estejam ou são capazes de influenciar suas ocupações comerciais.




Também por percepção, penso que em algum instante vou me tornar um com, ou um membro; um partícipe deste reino metafísico, - acredito em muito mais, mas é certo que este não é o momento para discorrer sobre o assunto. Quando isto se der, algo que ainda instiga (ou intriga) insistentemente sobre o universo de dúvidas que ocorrem, mesmo durante este quarto de hora que escrevo este exercício, mira a Evolução Consciente da Escrita. Ao observar alguns textos de décadas é fácil apontar ou pontuar diferenças ou formas onde foram encrustadas séries de palavras que destoam do mote razoável. Não entendo ser possível desfazer nenhuma sequer. É certo que, mesmo tentado, não aprovaria tal medida, afinal é um registro que conta minha história e consequentemente pode ser um balizador do caminho percorrido; porém, como no cotidiano poderemos ser observados por uma ou outra ação executada ou não, imagino que meu conscientizar racional ao ser apurado poderá sofrer deméritos em respeito às formas como esparramei palavras “emprestadas” – foram poucas que inventei – assinalando, obviamente, a singularidade do histórico.



Após quase três décadas de exercícios é natural que a consciência inicial tenha se lapidado e muito da impetuosidade inicial cedeu lugar a ponderação e agora durante as inspirações que se dão a qualquer hora do dia, existe uma preocupação maior com a força que cada palavra imprime ao texto. E caso um que outro venha decifrar o que tentei deixar claro descubra tão somente que desta busca o que se detecta inicialmente: é sua particularíssima abrangência genérica.



Utilizando o jargão comercial, não fujo a pecha do “estilo”, e não há aqui a veia radical que possa insinuar que os autores perdem o plano principal ao assumirem que um universo paralelo age, até interferindo, na vontade daqueles mais combativos a divisão de suas ideias. Aqui é explicitado com uma seriedade responsável que não estamos sós quando criamos. Os vendedores de livros, ou os “gastadores de tinta” como se refere Schopenhauer, insistem em romancear as Divas, as Ninfas, as Nereidas ou Virgens Vestais etc... como seus Espíritos Inspiradores - quando muitos de nós sabemos o que isso significa. É certo que elas existem e faz parte de todo o processo da escrita TUDO o que envolve a escrita, obviamente; porém há muito mais.



Trazendo para o meu universo bastante peculiar, entendo que todas as personagens anônimas que “não aparecem” nos textos são reais. Busquei-as na cotidianidade diária - tão brutal quanto prazerosa -, aleatórias, uso um modelo para parafrasear muitos outros. “Seria um ataque, uma revolta vazia, desforra, vingança; desatino de uma tresloucada?” Não. Nunca. Jamais. É tão somente um exercício, um passatempo. Meu hobby. Antes; muito antes de tudo, tenho a consciência arduamente trabalhada a respeito da nossa “borota da piada” como se referem ao Plano Terra um grupo de “Defuntos”, a que tenho afinidades.

Estamos aqui, muito para nos divertir respeitando, sempre; mas, se podemos clarear nossa consciência sobre o que não é daqui. Melhor.




“Acredito que as ideias querem nascer; elas têm consciência e circulam pela Terra à procura de um ser humano para colaborar, para fazê-las nascer (...) E para conseguir ouvi-las você precisa ter suas prioridades definidas, precisa ter seus limites, precisa de tempo e energia para escutar a ideia quando elas vem sussurrar em seu ouvido – e isso é Magia. E você precisa se aproximar dela como se aproxima do supernatural. Torna-se um servo desta relação.” – Elizabeth Gilbert

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