“Inversão de
todos os valores”. Quando o assunto é inversão de valores sempre me vem à mente
um dos princípios elementar do pensamento nietzschiano – por motivos que não
cabem aqui comentar os valores mudam com o passar de gerações; o autêntico
estará sempre lá, e a conveniência das convenções recentes sempre encontrarão
uma forma de negociar o inegociável. Ontem terminamos de assistir a série
Inventando Anna (Inventing Anna, 2022) e alguns pontos mereceram atenção;
lições complicadas ou que não aprendemos, e uma delas é; mesmo que as ações da
farsante eram envelopadas com as melhores intenções e amarradas com fitas e
sedas de grife - não seja pêgo já não é suficiente: não seja pêgo em hipótese
alguma; o meio/aparelhamento te destroçará.
Isso sim é vida real, porém aqui nesse exercício vou mesclar as coisas e digo que, ao contrário do que parece ter sido tentado no seriado, a personagem não foi amável com nenhum daqueles que, ainda na derrota, diziam amá-la ou lhe ter sentimentos de irmandade; me parece que na sociedade industrializada aflora uma generalizada Síndrome de Estocolmo.
Entre a história da golpista Anna Sorokin e o que assistimos há muito de ficção, é óbvio. E uma vez mais fica evidente o manjado e legítimo; “a realidade desse mundo é cruel”. Não podemos fugir a verdade, afinal, se as pessoas veem um futuro diferente; o agente a ser agarrado, o galho da vez a se pendurar, pode-se cometer indelicadezas inaceitáveis em uma amizade sob o véu de interesses; e na série o autor carregou nas tintas. Vendo de fora, Anna era artificial e escrota, mas tudo se aceita quando se está ao lado de alguém que é notícia, que está em evidência no grupo ao qual pertence, e aqui estamos falando de boa parte da Fina Estampa de NY.
Os banqueiros
se resguardaram, o advogado se deu bem e a repórter salvou sua reputação dando
a volta por cima. Não podemos tirar o mérito do trabalho dos dois últimos.
Banco, advogado, imprensa; curioso?!?
Uma das conclusões finais que compartilhamos após a película diz respeito às leis que independentemente das gerações millennials, Y ou Z – que pouco sabem sobre o ABC - são aplicadas por anciões que foram outorgadas por gerações ainda mais velhas, significando que a vontade e o que as gerações atuais que nada entendem de sistemas; pregam a liberdade, quando pouco sabem sobre se estar preso a leis retrogradas; o que ainda é providencial em muitos casos. Prova disso temos em um comentário da repórter sobre a condenação da pirigueti, patricinha mimada; “os bandidos que quebraram as bolsas na Wall Street pegaram penas mais leves”. Significando que as leis duras de séculos passados estão vigentes, mas sempre é possível que interesses em comum interpretem-nas em acordo com as oportunidades ou melhor: tendências oportunas.
O que significa “escribéria”? É a decrepitude. O limbo do sistema que se diz vivo e que precisa manter as pessoas que não venceram na vida ao se ocupar apenas em ser mais um tijolo no muro. Não entenderam ser interessante fazer o jogo para se tornar ricas. Não acertaram a mão ao lançar livros que se tornassem Best Sellers, ou algumas músicas que lacrassem. Não foram premiados ao entortar alguns ferros e armar concretos medonhos e ter a sorte de encontrar um marchand ladino e por aí vai. Não se acovardaram politicamente. Falaram o que pensavam ou foram traídas etc... Estas pessoas existem, tem uma contribuição a dar enquanto não desistem de vez. Elas são relegadas aos cantos, às salas ao fundo, próximo a cozinha ou às passagens dos banheiros. São, na maior parte das vezes inteligentes, mas não tem dinheiro, portanto!?! Muitas são suportadas por se levar em conta o conjunto da obra, são os oscarizados por dó ou pena ou até mesmo por um reconhecimento qualquer, uma dívida de vida, ou uma obrigação que pesa e se mantém incomodamente pousada na mente de seu mantenedor. Todos irão morrer, mas esses farão menos falta se partirem primeiro.
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