“O verdadeiro
filósofo não é aquele que julga e condena e sim aquele que tem a ambição de
entender tudo inclusive aquilo que é contrário a razão”; essa é uma colocação
atribuída a Hegel.
No momento em
que anoto estas observações, estamos passando de duas semanas da guerra do
Putin contra a Ucrânia (em 19.03 já entramos na quarta semana). Tenho ouvido muita
coisa; ao filtrar os ruídos oportunizados, é difícil imaginar alguém, em sã
consciência, impassível a não o julgar como um ditador tão perturbado quanto
todos os outros; e me pergunto, ainda que algum desavisado possa entender suas
razões, nenhuma delas é salvo conduto para o massacre, para a devastação, para
a humilhação a que se dignou esse infeliz contra um país constituído.
Lavradora de Irati |
A Rússia, a Coreia do Norte, a Síria, a Turquia, o Iran, a Belarus, e outros de ainda menor importância que essa última, afora a Síria que foi varrida do mapa; são países
fortes, não apenas por si só, e sim por conta de uma intrincada malha de
dependência econômica inflada com o que foi ganhando força no início dos anos
90 como o milagre da política mundial; a transformação do antagonismo
internacional em irmandade planetária; a globalização.
Nossa interdependência é indiscutível ao ponto de, em pleno Sec. XXI, assistirmos a covardia desse e de outros massacres localizados, que, aos poucos, se tornaram lugar comum ao longo das últimas décadas sem que se possa fazer mais nada que sentar-se à mesa. E enquanto a pauta é discutida, maníacos, assim como o Putin: já bombardeou e assassinou mais uma centena de pessoas; e ao final da rodada de negociações outra cidade foi arrasada e nada se pôde fazer.
Sanções, sim, a perda política e econômica da Rússia é visível; porém a que custo? Leis mais enérgicas deveriam antever que, ao primeiro bombardeio, aliás, antes do primeiro bombardeio o autor precisaria saber que não poderia acionar o segundo por conta de leis de irmandade mais duras; no entanto o que assistimos - afinal alguém já disse: "países não têm amigos, têm interesses"? Que um arsenal desproporcional está sendo despejado contra a Ucrânia até que o insano pare por conta própria e não por conta das dezenas de rodadas de negociações que não pouparam uma única vida, mas renderam milhões aos interessados coparticipes no levante; nas atrocidades.
Durante essas
duas semanas assisti a centenas de especialistas de toda ordem. Mestres,
professores, analistas, armeiros, instrutores, estrategistas, estagiários, coaches, religiosos de
todos os credos, filósofos, articulistas e âncoras efusivamente inflados entre
alarmados e simulados e suas opiniões pomposas dando seus pitacos sobre o
assassínio em massa, todos ou ao menos a maioria deles, querendo “lacrar” e
sair do conflito com as honras de seus grupos exclusivistas, no entanto é
unanime, há ao final dos embates o nítido viés autopromocional.
O que realmente importava saber sobre esse novo massacre além de ter ouvido, já na primeira semana, que o Putin havia sido silenciado? Nada. Tudo o mais que estamos assistindo são conjecturas muito mais voltadas a exploração que interesses sérios – ou ganhamos algum com as ocorrências ou estamos totalmente assoberbados para um pensamento mais honesto sobre assuntos externos.
Em empresas realmente profissionais, após uma ocorrência desastrosa, a busca frenética é para estancar o problema, porém não é o que estamos assistindo afora as cenas lamentáveis que movimentam as câmeras do mundo. Com a atenção devida, veremos exatamente o contrário: uma máquina mundial a se alimentar do massacre; e apenas fatos como o acolhimento dos refugiados, a valentia ou pretensa valentia dos ucranianos que foram obrigados a permanecer em seu país são motivos mais que suficientes para todo o estardalhaço das diferentes mídias.
Podemos observar também que, nas últimas guerras, travadas ao longo de vinte ou trinta anos, o que aconteceu foi a espetacularização da guerra, dos bombardeios e é claro, os estragos que causavam. Sabíamos até os nomes das bombas. Todos entendíamos dos mísseis Patriot e Tomahawk. Em menor grau, nessa presepada também temos isso, mas a imprensa e os governos ao que parece estão ainda mais midiáticos. Os Senhores da Guerra de hoje, também querem aparecer nas telinhas – a guerra em si que aconteça; os soldados(?); que se explodam. O que me vem à mente são os teatros televisivos promovidos por nossos juízes do STF. O mundo se tornou um imenso STF ao descobrir o poder que aparecer na tela agrupa iguais catapultando suas promoções políticas.
É triste
criticar aqueles que parecem estar demonstrando uma vontade de fazer alguma
coisa. Minha indignação reside no fato de não entender e perceber então o ato falho em muito do que observo. Me perdoem se estou errado. Fato é que estou indignado ao não assistir
uma única dessas reuniões ter rendido um definitivo: #CalaBocaPutin. Não posso afirmar que sei da dor dos
ucranianos, porém sei da imbecilidade geral do planeta nesse instante, ao
permitir esse massacre.
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