terça-feira, 28 de junho de 2022

Xexinha

 















































“Adoro quando a Xexinha caminha pra minha caminha”

 

Acordamos sem você hoje. O despertar não é leve nem pesado, comum a todos os dias ordinários aqui – ainda mais sem graça a partir de hoje – e, antes que a razão ataque para o afazer cotidiano, o peso instintivo se apresenta como uma carga insuportável: de agora em diante você não estará mais entre nós. O choro da noite anterior junto ao seu corpinho na caminha que a mãe preparou com tanta dedicação, ecoará como um monumento não apenas a você, mas a todos os teus amiguinhos que jazem nesse plano, fruto da maldade e descaso com os seres inocentes.






























Seguimos com nosso triste existir, agora ainda mais triste; sem sua patinha no peito do pai sentado à mesa, um toque sutil – como se fosse preciso - para não esquecer da sua menininha “ei, você viu que estou aqui?”. Seu “piado” à porta, tão baixo quanto podia, mas o pai sempre ouvia. Sempre senhora de si, não precisava mais do que um piado para o pai correr. Não mais veremos sua silhueta por entre as folhas do bambuzinho no tablado que fizemos apenas para ela tomar sol. Como viver sem você me “enchendo o saco” na cozinha, já cedo querendo um pouquinho de leite misturado ao iogurte da granola? E depois de toda a atenção dos primeiros minutos da manhã, sumia por mais alguns, e logo estava de volta a procura do colo do pai junto ao computador. Eleita Mascotinha da Turma da Escrita, entendo que agora também faça parte em definitivo do Mundo das Escritas.





























Na cama um capítulo especial. Quantas vezes acordei com você me encarando frente a frente; a mãe ralhava, mas no dia seguinte estava ali, novamente. Em algumas situações a gente enganava a mãe, ficando quieto até que a mãe acordasse e a tirava do nariz do pai. Mas nada se comparava ao seu lugar preferido para dormir: entre as pernas do pai. Mesmo nas noites mais sufocantes ela aí permanecia por toda a noite, o pai que se exploda para encontrar uma forma de dormir com aquele “carvãozinho” entre as pernas; “pegajosa com esse pai”, dizia a mãe.






























Durante seus quase vinte anos fazendo parte da nossa família, escrever com ela por perto era um sacrifício, até que encontrasse um canto da mesa para ficar; subia no teclado ou ia se chegando devagarinho, e quando via, algumas teclas precisavam ser encontradas embaixo dela, até que o texto fosse preenchido por uma letra só, então era preciso intervir; “pai insensível que não para pra brincar com a ‘xinha’”.

































Se roçava toda quando o texto era escrito no papel. Adorava que forçasse a ponta da caneta contra seu queixo e pescoço para coçar, acredito que era mais para chamar atenção enquanto o pai dava um tempo na escrita – adeus ao pensamento que passava urgente a mente; seria preciso revisar o texto. Passava tudo na cara e barba do pai, cabeça, tronco e rabo... pra cá e pra lá, até que após um par de vezes tentando a acalmar no colo, não havia saída, seria como ela quisesse e então ao coloca-la em um canto da mesa, finalmente desistia do pai “insensível” àquele instante. Que maravilha e com que tristeza lembrar que isso foi.


























Nos raros dias de churrasco estavam todos ali, já na hora que me posicionava para organizar a churrasqueira. Jabulinho, Xão, Xexinha e a Milza. Disfarçados, como quem não queriam ser notados, entendiam o que iria acontecer: a mãe os trataria um a um com pedacinhos de carne levemente mastigados. Nos últimos anos, a mãe, caprichosamente vem preparando um pedaço especial, sem sal, para dividir entre todos, fora a Milza que sempre ficava com um osso cheio de carne em volta; como serão nossos churrascos agora? Como será tudo?




























Nunca, jamais falarei para alguém que entendo o que ou a tristeza que está sentindo; é mentira. Ninguém sabe a falta que a Xexinha faz para nós dois.
















Xexinha. Nosso “biscuizinho”; “carvãozinho do pai”; “baguinho preto do pai”; “pentelhino branco do pai”; “mascotinha da Turma da Escrita”; ontem à noite, durante uma chuvinha providencial, você partiu para o Universo dos Seres Amados. Durante uma semana a mãe lutou com todas as forças para que você reagisse, mas tenho certeza, você só ficou por mais uma semana para se despedir; um Mantra de preparação, uma Meditação em Família. Acredito que já há alguns meses você sabia que nos deixaria. Você, inteligentemente nos preparou; ao se manter mais reservada e nos deixar pensar que era você se tornando mais adulta. Nada. Você só estava arquitetando. Você foi linda até o final. Mas não adiantou nada, nós estamos desolados aos mesmo tempo que muitíssimos felizes por toda a alegria que predominou entre nós enquanto você reinou e reinará para sempre como a “Deusinha” da casa.







Você me mostrou que existe um sentimento dentro de mim que não conhecia, e apesar de toda a dor que estou sentido, estou feliz por tê-lo descoberto. Tê-lo despertado. O pai vai te Amar pra sempre, Xexinha.















 

 

 


Amada Xexinha (in memorian)

Descanse nos braços da mãe natureza. Que ela acolha o seu corpinho delicado e acalente sua alma nesse momento de morte, como em vida você foi acolhida e amada. Você passou por todas as estações da vida. Na primavera era uma filhotinha cheia de vida, energia e curiosidades e foi crescendo dia após dia. No verão chegou à juventude, explorando, brincando e aprendendo com todo um jeitinho de patricinha, princesinha. Aprendeu a amar a sua família humana e a se adaptar aos ritmos da vida.





Dos dias quentes de verão ao frescor do amadurecimento do outono, você foi nossa amada amiga, nossa “parça” e companheira fiel em seu amor verdadeiro em seu coração, leal em sua amizade, ofereceu a todos nós, amor incondicional e nos protegeu de todos os perigos visíveis e invisíveis.

Um dia o inverno chegou. Os seus passos foram ficando mais lentos, sua energia ficando mais fraca. Com a idade seu amor se sublimou e tornou-se mais puro, mais maduro, mais precioso.







Agora o inverno acabou Minha Xexinha.

Precisamos libertá-la para que encontre outra primavera. Que sua alma se eleve e encontre os braços da Natureza.

Que os Espíritos do Fogo iluminem o seu caminho nesta nova jornada.





Que os Espíritos do Ar a acompanhem com uma canção leve e alegre.

Que os Espíritos da Terra a libertem das Areias do Tempo.

Que os Espíritos da Água suavizem sua transição.

Que as Forças das Divindades abrandem a dor do nosso coração e nos ajudem a nos adaptar à sua ausência. Que sua alma possa voar livre e brilhar com as estrelas do céu. Se você ainda sofre com o apego aos amores terrenos, saiba que estamos bem, pode descansar o seu espírito. E quando sua alma estiver renovada você poderá voltar e compartilhar o seu amor com sua nova família e irá amar e será amada, muito amada, como foi aqui amada por nós nesses 17 anos – felizes anos, que vivemos juntos.




Saiba que nossos corações e nossos espíritos estarão sempre esperançosos caso você queira nos visitar espiritualmente.

Abençoada seja nossa amada e Eterna Xexinha.


Homenagem da sua Mãe e seu Pai

que tanto te amam

e vão Amá-la para Sempre.

 



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Alguém muito consciente falou: “A única verdade? Iremos morrer, e não nego que venho me preparando, mas, antes, preciso passar pelo processo da vida”












































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À Xexinha, com Amor

Uma lenda élfica descoberta em papiros que remontam eras inexploradas conta  que nos primórdios, durante a criação dos Três Reinos, o Reino Humano requereu uma atenção especial de Deus, por conta de suas peculiaridades; e os Seres do Reino Elemental que faziam parte desde o início dos tempos participaram diretamente da criação dos dois reinos seguintes.

Após deliberações e concessões exaustivas o Reino Humano ficou pronto, então um pequenino ser, lembrando um minúsculo Dragão Dourado Cintilante, que acompanhava os trabalhos e que trazia em sua linhagem - apesar de apresentar uma fragilidade visível, mesmo frente a seres tão belos -, poderes herdados dos elementos Fogo, Terra, Água e Ar, questionou Deus sobre o caminho triste do ser humano que paradoxalmente seria mais melancólico quanto mais sábio se tornasse.

Deus em sua soberania ficou intrigado com a observação do serzinho que pouco se manifestara durante a criação dos Reinos Angelicais e Humano e questionou; "o que Devo fazer?" Foi então que Deus, após as últimas deliberações permitiu ao homem que tivesse acesso aos Animaizinhos de Estimação que estão diretamente conectados e sob a regência deste Elemental Dourado que é o protetor deles desde sempre.



























































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