Individualidade
ultra dependente
Muito
seriamente, estamos tão somente nos encapsulando de uma forma psico-negativa,
jamais por razões de auto recolhimento contrito; em busca do autoconhecimento.
Mais por opção inerente aos novos caminhos direcionados por uma sociedade
perdidamente em polvorosa que muito rapidamente guinou do conceito de tribo,
feudo, família, grupo, etnia, totalmente despreparados, para o: vencer
individualmente, do universo-corporativo-industrial-tecnológico-globalizado;
paradigma que não passa de mais um slogan matreiro do mundo contemporâneo que
nos quer apartados de qualquer sociedade material com vontade própria, ou
pensando por si mesma.
Inscientes,
destituídos de um grupo formador responsável, fomos apanhados: somos agora domesticados
ou aculturados caçadores tribais de gravata por nossa conta e risco; novos
escravos abolidos escravizados. Não desacoplamos, não perdemos totalmente o elo
de ligação com nossa ancestralidade sobrevivente, enquanto nos queremos
superiores - quando não entendemos que somente nosso ego o é. Daí é que
mantemos a ideia comprada de que tudo podemos sem precisar nos manter
enraizados aos nossos pais, a nossa casta.
Com o advento
da tecnologia da volatilidade; da coisificação, mas também por já não mais
sabermos como pedir ajuda – e não há a quem; não nos entendemos como pessoas
que podemos – e devemos - nos ajudar; perdemos a humildade; que substituída,
deu lugar as: vergonha vaidosa e presunção mesquinha. Essa individualidade
forçada direcionou o indivíduo ao nada modesto “vença por si mesmo”, e o que
lhe resta é que, enquanto brinca de “fodão”, inventa meios de sobreviver em um
meio que finge estar ao seu lado; que apenas ilude companheirismo ou proteção
quando o que espera é a ética conveniente do “fique na sua”, “vire-se” – pois
quem pede ajuda é perdedor -, quando devemos mostrar nossa capacidade de
sobreviver sozinhos e nos adaptar nos arrastando em uma sociedade instantânea.
... ou
pior, nossa carapaça de superior, mesmo na dificuldade, se por uma hecatombe
catastrófica nuclear universal encontrar alguém disposto a ajudar sem algo em
troca, ou sem a vaidade que faz com que muitos busquem o altruísmo perverso do
voluntariado mascarado; nos pomos armamos – emerge o velho guerreiro selvagem
arisco e desinformado - imaginando ser outro desse segundo grupo.
*
A carne já
não está mais morna... nós sim.
A que preço
hoje nos dizem que são – vendem-se como - nossos amigos e parceiros? Quanto
ficamos devendo por um favor tido a luz da solicitação como uma obrigação de
conivência entre ambos?
*
Despreparados
outros, escondidos entre máscaras transparentes ao superior atento, ainda pedem
ajuda com suas rezas, porém nem aí relaxam e o fazem como se os santos fossem a
isso obrigado.
*
Enquanto
isso nosso casco-ego nos protege, – nesse
confiamos por ser apenas isso que
possuímos - servindo como um
colarinho de penas eriçado intencionado a parecermos maior; esconda-o e não
passamos de pardalocas em disputa a escrutinar
vermes nas bostas depositadas ao longo da estrada.
*
“Sou o
bicho humano
que habita a concha
ao lado da concha
que você habita”
Caio Fernando de Abreu, escritor gaúcho.
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