Quanto ao mais importante dos nossos sentidos – o nosso
senso interno do intervalo entre desejo e posse, que nada mais é que o sentido de
duração, aquele sentimento do tempo que antes se comprazia com a velocidade dos
cavalos -, ele agora considera os mais velozes trens vagarosos em demasia, e
nos afligimos de impaciência entre um telegrama e outro. Ansiamos pela sucessão
dos eventos como se fossem comida que nunca está suficientemente condimentada.
Se não há, todas as manhãs, um grande desastre no mundo, sentimos um certo
vazio: “Não há nada hoje nos jornais”, dizemos.
Paul Valéry (1935)
Do Livro das Citações
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