Longe
quanto do futuro estamos; onde os especialistas, ou seja, as pessoas que passam
uma vida toda centrada tão somente em meia dúzia de assuntos - inclusive
exclusivamente domésticos - que os suportem por toda uma vida; ainda será
possível ou continuará sendo viável a uma sobrevivência razoável como
indivíduo social minimamente autossuficiente, a partir do agora?
*
A morte do
escritor Umberto Eco chama a atenção também para isso. Pessoas que o conheciam
e o sabiam ler como indivíduo; ressaltam que seu ecletismo, sua leitura
generalizada, sua opinião ampla lhe permitia com propriedades que apontasse
tanto sobre o clássico quanto o folclórico ou do que é chamado de “pulp
fiction”; do Graffiti às obras mais
conceituadas dos maiores museus. Dos HQ´s, do boteco, do gueto, da política, da
economia, do cotidiano plural, a moda, ao cosmopolita que se quer soberbamente
singular.
Se
observarmos a crise, ou as crises do mundo moderno incluindo a do nosso país e
ler as barbaridades que pessoas letradas assumem em suas palavras. Justamente
aquelas que não foram enlaçadas por traiçoeiros tentáculos monetários, comum a
todos os governos; mas apenas por simpatia a esse ou aquele partido, ou devido
ao puro e simples ato de manifestar-se diante do tenebroso quadro exposto.
Cometem gafes, dizem sandices, fazem diagnósticos e pior, prognósticos
desprovidos de qualquer vínculo com a realidade.
Considerando apenas uma parte
do processo, sem a visão holística, externa, ampla, razoavelmente distante e
imparcial tão somente creditando esses disparates a seus parcos e centrados
conhecimentos, e a paixões frívolas; mas, a vontade de se expressar sem ter o
cuidado de onde, da extensão real do campo minado a ser pisado e daí a
realidade muito aquém da leitura quase romanceada da verdade que não tem nada a
ver com ficção há uma distância impar.
Chegamos
finalmente? Penetramos no monstro social que pensadores há séculos previram
como – espaço/tempo - apocalíptico, porém, e como sempre, poucos de nós estamos
preparados para ele!?!
Não apenas
continuamos pensando em células, em nichos – sociais ou profissionais - quando
esse analisar, visando uma sobrevivência condizente com os novos tempos exige,
provado por Eco, não apenas uma visão globalizada do mundo, se não do universo:
bastante mais atenta, mais aberta, ampla, menos cética e mais crítica, e mais
do que nunca buscando a comunhão com todos – no entanto, jamais as paixões tiveram
a obrigação de passar estrategicamente o mais longe possível. Devemos,
urgentemente, retomar a razão fria e calculista, porém dotada da mais arguta
inteligência.
É lícito
asseverar que amornamos, e muito, o envolvimento familiar, e que pouco nutrimos
sentimentos fraternos, porém nos agarramos as falsas paixões que entendemos
assegurar uma condição estável de sobrevivência, tão necessária quanto
conveniente ao meio. Contrariamente do que estamos fazendo com nós próprios:
bastante acomodados por nos entendermos maduros, prontos para o nosso tempo, ou
estamos dependentes do estado, ou da falsa confiança que o mundo hoje nos
proporciona; essa ilusão precisa ser combatida com a busca, com a procura, com
a pesquisa, com o interesse aumentado no; por que ainda que conquistamos
facilidades e comodidades jamais sonhadas por nossos ancestrais a sensação de
insegurança só aumenta.
E isso se
deve por estarmos muitíssimo enganados em relação ao que verdadeiramente
sabemos. Nosso conhecimento eclético é tênue e se quer sofisticado. Queremos,
comodamente, nos entender espertos e antenados, e pior, nos adulamos mutuamente
para assim, perigosamente, nos suportar, quando, se analisado condignamente, descobriremos
que, o que entendemos não nos livrará de perigo algum uma vez que com ele nos
deparemos.
Tornamo-nos
seres sintéticos. Somos apenas uma casca finíssima de suporte. Nossa psique vem
sendo moldada em frente às telas e é incapaz de mostrar a que veio se formos
surpreendentemente intimados em uma única das milhares de esquinas onde a
realidade espreita.
E enquanto
nos concentramos no pequeno, no núcleo, no íntimo, nas especializações –
confiando na asa mãe do poder. E de posse desse conhecer frágil nos entendemos
prontos o suficiente; o mundo, o universo e mais, a sobrevivência exige a
ecletia, a versatilidade, o diverso, o dinamismo, o rompimento de todas as
barreiras – o universo em contração exigindo, cobrando a expansão do indivíduo.
Mesmo em estado de retração o universo permanece mais ativo do que nunca. E nos
parece que por trás disso que todos entendem sobrevivência ao cotidiano, reside
a pior das apatias consensada jamais vista. Ela é silenciosa e covarde, e basta
observarmos nas entrelinhas dos noticiários para entender como ela tem feito
suas vítimas, as milhares, todos os dias pelo mundo.
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