sábado, 23 de abril de 2016

O Corpo







Preservamos o carro imaculado, a casa. Não doamos ou emprestamos uma peça de roupa insubstituível, um bem estimado. Defendemos uma amizade, uma companhia; sem saber exatamente se ela merece toda a confiança depositada. Rezamos à alma, ao espírito, - também aqueles que não duvidam da comprovação de sua existência para além do agora; conscientes, portanto, que teremos oportunidades outras de resolver negócios pendentes, mesmo nos milhares de casos onde a ordem é desrespeitada - porém, ainda que perecível e mesmo mortal, o inigualavelmente precioso veículo posto a nossa disposição e aquele que mais depende das nossas vontades, sempre obrigado a seguir exclusivamente as nossas escolhas para vencer bem ou mal sua perecividade; uma máquina precisa a nossa disposição, com falhas ou não: o corpo simplesmente nos foi dado, - ou para os darwinianos evoluiu primorosamente - portanto, a despeito de tudo: é nosso maior patrimônio e, no entanto, tão obrigado quanto impossibilitado de responder as nossas vontades para com ele devido justamente ao contrassenso com que é tratado, segue a revelia seu ofício, porém, esquecido.

Independentemente tanto da sua quanto da nossa condição. Único; é o condutor, o invólucro, o veículo que possibilita, tornando-o, obviamente, co-partícipe incondicional do nosso desenvolvimento na Terra. Fabricado com perfeição, se mostra ainda mais, a despeito de todo o nosso relaxo, de toda a velhacaria praticada contra ele.

Teremos nosso pensamento, nossas lembranças, nosso conhecimento, nossa alma, porém jamais nosso corpo.

Comida ou falta dela em excesso – com ou sem condição -, sol, esforço físico, riscos os mais diversos, bebidas no mais alto grau de perniciosidade, estresse físico, mental e psicológico, e o pior; drogas – as mais variadas e criativas; oficiais ou não. Forçamos nosso corpo a exaustão. O expomos aos mais exaustivos testes sem nunca olharmos para ele com gratidão, apenas com vaidade. Encontrando seus mínimos defeitos, quando, a maioria deles foi causada por nossa displicência; ou nosso déficit de consciência crítica. 

Seria de suma importância que ao primeiro apontar; ao primeiro aflorar do indivíduo para a consciência, lhe fosse empregada com o máximo rigor a necessidade real de ver no corpo seu maior bem, seu maior amigo – o corpo é a essência da matéria.

Seria importante que todos aprendêssemos, como exercício, a imaginar na hora de nossa morte o sair do corpo, e ao olhá-lo, perceber que nunca mais o veremos. Aprendermos a imaginá-lo com a mesma força; como um bem precioso, um amigo, um filho que dele nos despedimos para sempre e que jamais se tratou ele de um estorvo em nossa breve existência. Deveríamos aprender a amar e respeitar nosso corpo também por conta de sua utilidade.

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O corpo é o único bem que realmente podemos afirmar nosso. Nada mais, materialmente falando, possuímos, que realmente nos pertença. Porém, o corpo é matéria, e matéria se decompõe. Ainda em vida isso acontece. A medida do estrago, de quão ulceroso chegaremos a hora derradeira depende única e exclusivamente da conscientização da importância e também, da total dependência nossa – ou seria mutua - desse bem tão precioso que conhecemos como Nosso Corpo.   


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