Avesso a rótulos
gratuitos, tenho comigo que se fossem categorizar-me como algum tipo de
pensador, aceitaria, como gracejo, ser definido como o filósofo do “não sei”,
por entender que, enquanto tivermos ou pudermos repetir com seriedade “não
sei”, no mínimo teremos o tempo a nosso favor para cuidarmos das nossas vidas.
O “sei”, o conhecer: nos chama à responsabilidade. Não mais nos governamos ou
no mínimo ao fazê-lo, precisamos observar uma série de pontos que se interpõem
entre nossa vontade, nosso querer e a realização efetiva.
Um exemplo
simples, tosco e rápido, para ilustrar esta observação; se nossos avós, vindo
de não sei onde do mundo, se instalassem no interior do país, e a vontade,
explorassem a região por mais de duas décadas, de posse que, em determinado
momento algum tipo de autoridade chegasse até eles no intuito de demarcar
verdadeiramente sua propriedade em algum pedaço de papel. A partir de então,
qualquer exploração, derrubada de árvore ou caça além de suas reservas será
considerada ilegal, enquanto, antes da cotização, eles poderiam responder com
tranquilidade: “não sei até onde vão minhas terras”, “não sei quais são meus
limites”, “não sei o que aqui me pertence ou pertence ao governo”; sem nenhuma
consequência. Aqui, no entanto, considerando tão somente a arena material -
fora dele a história é outra.
Observado
sob o aspecto da consciência, as ações são empanadas com ingredientes mais
sutis e, não se enganem, muito mais importantes. Quando, ainda naqueles
cafundós, conhecendo agora as delimitações e observando que por milhas de raio
não vive uma viva alma, nossos ancestrais resolvem fazer um galinheiro, então, sabendo dos limites da reserva e
entendendo da impunidade devido a solidão e a falta de vigilância do estado, nosso
antepassado se joga para além deles para derrubar determinada árvore, própria,
justamente para aquele tipo de construção; enquanto na sua vasta propriedade
possui centenas de árvores da mesma espécie. Mas ele o faz, afinal a lei jamais
o apanhará, e, também, o que é uma árvore a menos em centena de quilômetros de
florestas! Porém o que vale aqui é falar a si próprio; conheço meus limites.
Agora ele sabe; ele os conhece. Este é o ponto.
Determinado
colega mais atencioso interpela sobre o que significa a advertência: “Este espaço é uma experiência pessoal e
pode ser prejudicial a um que outro que por ventura venha a decifrá-lo”,
sobre seu acesso a algumas de nossas ideias. Inicialmente imagino os motivos
que me levaram a anotá-la, mas, antes, não sei, ou melhor, não tenho certeza da
porcentagem que acudiu-me ao entende-lo como uma isca. E peço perdão por isso -
no momento é meu dever registrar esta observação, principalmente por conta do
teor desse texto. Pensar com sinceridade uma resposta ou mesmo assinalar isto, talvez,
como uma pilhéria. Porque não posso negar que sei o quanto uma advertência
incita à causa do efeito contrário em nossas decisões, ao provocar exatamente o
resultado oposto à ação proposta justamente por conta do desafio que provoca.
No entanto, prontamente abandonei este pensamento assim que imaginei aqueles
que apenas movidos por entusiasmos irrefletidos pudessem insistir nas leituras;
então voltei ao ponto original. Portanto é acertado concluir que a partir de
então, em algumas situações de maior atenção em se entendendo o enunciado, não
se pode mais valer do “eu não sabia”, ainda que a forma escrita crie um
anteparo por si só a insistência curiosa. Ao final, a advertência serve de
alerta a estes que ultrapassam o crivo desta fronteira.
Todo
caminho tem retorno, no entanto o caminho que escolhi; ao menos até minha morte
– respeitando o fato do nosso conhecimento pífio sobre o depois – não há esta
possibilidade. Escolhi agir de acordo com a consciência trabalhada no que diz
respeito a minha vida pessoal; e o que significa isso? Que respeito minhas
crenças, o humano e todas as formas de vida, e quando não posso fazê-lo,
prefiro me afastar a levar uma vida de conveniências. Temos aqui um problema
muito sério em relação ao que está fora destas margens, onde, então, preciso me
valer das leis, e o faço; dedicando a maior atenção possível onde o cotidiano
exige a presença constante.
Portanto
preciso estar muito mais atento e antecipar-me a todos aqueles que não o fazem,
para que não me envolvam em assuntos aos quais determinadas regras precisam ser
evitadas ou burladas e, para tanto, procuro manter-me o mais longe possível de
qualquer engenho que possa daí partir convites ou até mesmo ser cogitado;
aventado tais aspectos.
Talvez por
conta da escolha deste caminho, minhas inspirações, na sua grande maioria são
anotadas na forma de apontar onde, cotidianamente, os homens ultrapassam as
fronteiras mesmo que sabendo que ao fazê-lo estão burlando leis e convenções
sociais, territoriais, morais ou éticas e insistem em dizer que não o sabia;
quando, há milênios, têm ao seu dispor informações suficientes para, uma vez
conscientizados, - e todos estão – positivamente responder: “eu sabia”.
Com certeza
absoluta, o nosso mundo é uma grande isca, tudo nos é dado, mas, inegavelmente,
nossa inteligência e criatividade, sempre presente em nossas decisões, estão a
nossa disposição para o bem e para o mal. E nós a utilizamos de forma majestosa
para, invariavelmente repetir ao fim da vida; “eu sobrevivi
maravilhosamente bem”. Esquecendo-se de executar uma releitura mais afinada
sobre a força e o verdadeiro teor desta afirmação, no entanto, ainda que muitos
possam se vangloriar disto, não se demorando em nenhum julgamento prévio,
preferem reclamar; estes talvez estejam ainda em pior condição.
Portanto, retomando
a questão; sou mais um a anotar resultados, e de posse desse conhecimento,
todos que por esta via conseguir interpretá-los estão sendo avisados de antemão que não o
façam, embora, ao final, isto de pouco adianta, porque, neste espaço de
exercícios, somente terão exemplificados o que de real todos nós temos feito; truísmos redundante. Pouco há a se
fazer – também aqui – para desagarrar da isca.
Da série; o que tentei dizer
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