sábado, 14 de outubro de 2017

Iscas


Avesso a rótulos gratuitos, tenho comigo que se fossem categorizar-me como algum tipo de pensador, aceitaria, como gracejo, ser definido como o filósofo do “não sei”, por entender que, enquanto tivermos ou pudermos repetir com seriedade “não sei”, no mínimo teremos o tempo a nosso favor para cuidarmos das nossas vidas. O “sei”, o conhecer: nos chama à responsabilidade. Não mais nos governamos ou no mínimo ao fazê-lo, precisamos observar uma série de pontos que se interpõem entre nossa vontade, nosso querer e a realização efetiva.


Um exemplo simples, tosco e rápido, para ilustrar esta observação; se nossos avós, vindo de não sei onde do mundo, se instalassem no interior do país, e a vontade, explorassem a região por mais de duas décadas, de posse que, em determinado momento algum tipo de autoridade chegasse até eles no intuito de demarcar verdadeiramente sua propriedade em algum pedaço de papel. A partir de então, qualquer exploração, derrubada de árvore ou caça além de suas reservas será considerada ilegal, enquanto, antes da cotização, eles poderiam responder com tranquilidade: “não sei até onde vão minhas terras”, “não sei quais são meus limites”, “não sei o que aqui me pertence ou pertence ao governo”; sem nenhuma consequência. Aqui, no entanto, considerando tão somente a arena material - fora dele a história é outra.


Observado sob o aspecto da consciência, as ações são empanadas com ingredientes mais sutis e, não se enganem, muito mais importantes. Quando, ainda naqueles cafundós, conhecendo agora as delimitações e observando que por milhas de raio não vive uma viva alma, nossos ancestrais resolvem fazer um galinheiro, então, sabendo dos limites da reserva e entendendo da impunidade devido a solidão e a falta de vigilância do estado, nosso antepassado se joga para além deles para derrubar determinada árvore, própria, justamente para aquele tipo de construção; enquanto na sua vasta propriedade possui centenas de árvores da mesma espécie. Mas ele o faz, afinal a lei jamais o apanhará, e, também, o que é uma árvore a menos em centena de quilômetros de florestas! Porém o que vale aqui é falar a si próprio; conheço meus limites. Agora ele sabe; ele os conhece. Este é o ponto.


Determinado colega mais atencioso interpela sobre o que significa a advertência: “Este espaço é uma experiência pessoal e pode ser prejudicial a um que outro que por ventura venha a decifrá-lo”, sobre seu acesso a algumas de nossas ideias. Inicialmente imagino os motivos que me levaram a anotá-la, mas, antes, não sei, ou melhor, não tenho certeza da porcentagem que acudiu-me ao entende-lo como uma isca. E peço perdão por isso - no momento é meu dever registrar esta observação, principalmente por conta do teor desse texto. Pensar com sinceridade uma resposta ou mesmo assinalar isto, talvez, como uma pilhéria. Porque não posso negar que sei o quanto uma advertência incita à causa do efeito contrário em nossas decisões, ao provocar exatamente o resultado oposto à ação proposta justamente por conta do desafio que provoca. No entanto, prontamente abandonei este pensamento assim que imaginei aqueles que apenas movidos por entusiasmos irrefletidos pudessem insistir nas leituras; então voltei ao ponto original. Portanto é acertado concluir que a partir de então, em algumas situações de maior atenção em se entendendo o enunciado, não se pode mais valer do “eu não sabia”, ainda que a forma escrita crie um anteparo por si só a insistência curiosa. Ao final, a advertência serve de alerta a estes que ultrapassam o crivo desta fronteira.


Todo caminho tem retorno, no entanto o caminho que escolhi; ao menos até minha morte – respeitando o fato do nosso conhecimento pífio sobre o depois – não há esta possibilidade. Escolhi agir de acordo com a consciência trabalhada no que diz respeito a minha vida pessoal; e o que significa isso? Que respeito minhas crenças, o humano e todas as formas de vida, e quando não posso fazê-lo, prefiro me afastar a levar uma vida de conveniências. Temos aqui um problema muito sério em relação ao que está fora destas margens, onde, então, preciso me valer das leis, e o faço; dedicando a maior atenção possível onde o cotidiano exige a presença constante. 


Portanto preciso estar muito mais atento e antecipar-me a todos aqueles que não o fazem, para que não me envolvam em assuntos aos quais determinadas regras precisam ser evitadas ou burladas e, para tanto, procuro manter-me o mais longe possível de qualquer engenho que possa daí partir convites ou até mesmo ser cogitado; aventado tais aspectos.


Talvez por conta da escolha deste caminho, minhas inspirações, na sua grande maioria são anotadas na forma de apontar onde, cotidianamente, os homens ultrapassam as fronteiras mesmo que sabendo que ao fazê-lo estão burlando leis e convenções sociais, territoriais, morais ou éticas e insistem em dizer que não o sabia; quando, há milênios, têm ao seu dispor informações suficientes para, uma vez conscientizados, - e todos estão – positivamente responder: “eu sabia”.


Com certeza absoluta, o nosso mundo é uma grande isca, tudo nos é dado, mas, inegavelmente, nossa inteligência e criatividade, sempre presente em nossas decisões, estão a nossa disposição para o bem e para o mal. E nós a utilizamos de forma majestosa para, invariavelmente repetir ao fim da vida; “eu sobrevivi maravilhosamente bem”. Esquecendo-se de executar uma releitura mais afinada sobre a força e o verdadeiro teor desta afirmação, no entanto, ainda que muitos possam se vangloriar disto, não se demorando em nenhum julgamento prévio, preferem reclamar; estes talvez estejam ainda em pior condição.


Portanto, retomando a questão; sou mais um a anotar resultados, e de posse desse conhecimento, todos que por esta via conseguir interpretá-los estão sendo avisados de antemão que não o façam, embora, ao final, isto de pouco adianta, porque, neste espaço de exercícios, somente terão exemplificados o que de real todos nós temos feito; truísmos redundante. Pouco há a se fazer – também aqui – para desagarrar da isca.


Da série; o que tentei dizer

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