sábado, 24 de fevereiro de 2018

Socialismo Capitalista - Conversa!* II


Observações (im)pertinentes  



Sentimento de posse - Qual é a opção mais acertada; atingimos, ou com sorte ainda temos chances a algum tipo de retorno -, quando, naturalmente, tudo tende a transformação - inclusive o sentimento humano, do nosso agora? Acertadamente podemos afirmar que vivenciamos a normalidade de consumo como um estado de sentir alcançado, assimilado; não é possível que contestemos a vontade adquirida de obter, de comprar. Condição esta que inadvertidamente corrobora que são as marcas ostentadas que definem grupos sociais, e, portanto, perfeitamente aceitável e intocável, isto é, um estado tornado normal. Era preciso que estendêssemos este assunto, elevando esta discussão para além do discurso meramente contrário, bairrista, da contestação retórica e intelectual filosófica. Será somente com o rompimento desta barreira que poderemos atingir o dano fisiológico de toda a esfera social organizada hoje.


O que está faltando? Admitir. Uma vez que a sociedade atinge o ponto de aceitação inquestionável, estado este em que a condição adquirida, abraçada, converteu-se no assim ser; aceitável – “natural”; portanto, não sendo mais possível aventar qualquer mundo diferente e muito menos questionar o tornado hábito; é correto afirmar que obtemos a segurança inegociável concretada e selada por conta, tão somente, do epistemológico subjetivo?


Deuses capitalistas – O Deus, há muito conhecido, adorado e sagrado já não mais existe. Em seu lugar foram forjados os deuses capitalistas. Estes são os verdadeiros detentores da vida humana. De suas mãos, de seus poderes construídos são ditadas as leis do consumismo materialista e, portanto, do bem viver do planeta... diretores, CEO´s, designers, autores, comunicadores, celebridades e marqueteiros.



Inicialmente, e como em todas as situações em busca de acertar; sob a razão das boas intenções e necessidades voltadas ao bem viver social até atingir alguma estabilidade, seguiu-se sem pesquisa alguma ou mínimo cuidado com os desmembramentos possíveis, mas, no entanto, precocemente, a despeito do mal; dos alertas sobre o apocalipse profetizado quanto à continuidade, não foi dada atenção alguma no sentido de aplacar a política predatória anunciada, e, por conta das mais variadas razões, ainda que pensadores e estudiosos, observando o abismo a que se dirigia a humanidade apontassem um futuro perigoso; por conta das obrigações tão atropeladas quanto desordenadas do passado ecoando no agora somando as imposições do sistema, ou seja, da não precisão lá, do crescimento desordenado por conta da má distribuição de rendas, os mandatários não se preocuparam em optar por via alternativa alguma – a metodologia se mostrava perfeita; e ainda assim é vendido – e portanto não diminuiu-se, e mais, buscou-se formas de aumentar a pressão para alavancar um sistema totalmente faccioso e egoísta.

Sim, é fácil narrar uma história de derrotas. Porém este não é um texto romanceado, trata-se de uma constatação atenta, portanto, é nossa história, e estamos em plena caminhada; há um propósito aqui. Chutar cadáveres é fácil. A impossibilidade reside em acordá-los.



Valor - Toda a atenção hoje está voltada para a depreciação, o esquecimento, o negligenciar dos verdadeiros valores ainda que eles figurem em todos os banners empresariais que alardeiam ali estarem presentes como seus verdadeiros princípios. Não se trabalha mais para uma filosofia onde qualidades como a dignidade, por exemplo, precisa ser defendida – estar implícito é suficiente, mesmo que seja uma mentira. Entre nós foi plasticamente convencionado; há um acordo velado de que ela existe realmente e ninguém contesta esta versão - valorizada e jamais esquecida. Nada. A única coisa hoje que mede; o gabarito, o padrão de referência; a obrigação única e principal do indivíduo a ser observado é a condição monetária – o quanto sua movimentação é valorada. O que nos nivela é a nossa situação econômica – movieconônica; nossa movimentação econômica. Primeiro, é claro, o poder do indivíduo de fazer dinheiro, de aumentá-lo – seja de que forma for. Isto é, no mundo mecanicamente econômico a desonestidade não é propriamente um mal se ela encontrou mecanismos para tão somente movimentar e gerar mais dinheiro de formas diversas que não incomode o processo e também, que esta garanta lucros a qualquer preço, portanto, se o grupo principal não participar do processo e tão somente receber os dividendos não lhe interessa a forma como ele é executado. Existe um véu finíssimo separando estes indivíduos ainda que estejam por anos a fio na mesma corporação ou grupo investidor, mas, ambos não se tocam.




Desde este pico gerador investidor a pirâmide descende até a base conforme a graduação “movieconômica” do indivíduo social.


Possuir - Não possuir praticamente aliena o indivíduo de condição alguma de atenção - uma ou mais casas, carros. Nas férias, frequentar alguma praia popular ou um resort de luxo, um churrasco com os amigos bebendo ou um open bar sofisticado e assim por diante – tudo muito bem amarrado às marcas de suas roupas e, ultimamente, ao modelo do membro estendido: iphone, por exemplo. E não interessa de quão pouco você dispõe; a filosofia do consumo cria uma falsa sensação de medição subentendida onde o sujeito auto posiciona-se – ilusoriamente satisfeito – ao se observar acima de qualquer alguém outro dos seus. A prática aprendida e fartamente utilizada como uma mecânica, auxilia bastante nesta fase de aceitação – esta escolha é mais psicológica que arrazoada e, portanto, totalmente aleatória. E de modo intrínseco, no seu consciente consumista, por conta deste aceitar, foca no próximo objetivo; imaginando agora, superar o seu vizinho, o primeiro da lista, e assim sucessivamente.


Condicionou-se isso a uma filosofia de estar bem; não precisamos mais dos enfadonhos costumes cavalheirescos ou respeito formal; independentemente do clima da empresa, a frase, “não é pessoal” prepondera e todos engolimos o indesejado por conta de uma convivência plástica; esse é nosso modelo de hedonismo. Encontrar ou se encaixar em uma forma palatável de existir. E, atingida, ou lutando por toda uma vida para beliscar a laje tão esperada, todos somos suportados num jogo de incentivos dos mais utópicos... surreal... ou mesmo... insano.



Os melhores avalistas - O plano físico, obviamente, por ter sido a única opção palpável que temos – e os motivos por não ser diferente estão aqui inseridos e são facilmente detectáveis -, é manuseado para o bel-prazer humano tornando-se uma máquina de deleite econômico que, ajustado – aliando energia humana manipulável (força e pensamento) a manancial manuseável (física e química) - para dele se obter rendimento fácil a poucos, sob a ciência da possibilidade de incontáveis situações e combinações; uma vez que estes auto eleitos, com poderes de interferir modificando e arbitrando regras que lhes favoreçam, quando, uma vez encontrada as formas mais escusas de proteção, ocupam-se exaustivamente no intuito de viciar o jogo.

Toda nossa estrutura basilar histórica, paulatinamente, ao longo de centenas de anos, vem se desmantelando por conta única e exclusivamente do defender-se e proteger a base econômica. Filosofias, pensamentos estruturados, família e religiosidade foram relegadas a apêndices, quando possível: manipulados para se tornar economicamente explorados – quando não, são tolerados e sobrevivem de suas próprias forças, como é o caso da boa e sempre imparcial filosofia. A nova cultura não permite desperdício, a não ser que ele se torne fonte de riqueza futura. Todo o processo vem sendo armado para que a atenção se volte unicamente ao plano físico molecular sujeito a plasticidade tornada simples, ou leviana. Tudo está voltado ao aqui agora material. Não existe mais a preocupação com o depois, com o vir a ser pessoal individual – nos entendemos ultra especiais para ferrenhos envolvimentos em intermináveis exercícios de planejamentos honestos. A ocupação primordial a ser observada, esta sim, pretendendo-se a um poder que não possuímos é desenvolvida tão somente visando à existência física tangível conquistada a qualquer custo o mais rápido possível; o estar bem economicamente. Mas o vencer agora, imediato, está sempre atrasado, então, não raro, pelo meio do caminho – independentemente da ciência sobre este ou qualquer assunto do tipo - contenta-se em sobreviver, ajustado ao que foi arranjado, afinal, nada que um bom verniz fosco temporariamente não esconda, ao se exibir imaculadamente, camuflando o desserviço com marcas forjadas, mesmo que sejam produzidas pelo trabalho escravo de países exóticos como a Indonésia, por exemplo, ou contrabandeadas do Paraguai e também de uma China, transformada em manancial econômico do mundo por conta do secular desrespeito aos direitos humanos ou coisa que o valha e todas as demais regras, ao inacreditavelmente ser elencada finalmente como uma parceira viável, quando, de uma hora para outra, em um alinhamento oportuno que beneficia tão somente o aprofundar do escuso comerciar inominavelmente defendido: permitiu a continuidade, a sustentação econômica do processo todo – direitos humanos estes, claro, criado, e chanceladíssimo, por conta do próprio processo.

Talvez aqui outra demonstração prática de que todo o inimigo poderá um dia ser aliado do processo, independentemente do preço a ser pago na súcia, afinal o que são princípios se o que está em jogo é um lance oportuno à sobrevivência econômica de alguns poucos,


Tudo é transformado em um produto - Na arte temos um exemplo bastante claro. Representação fácil do apreçamento tornado valor de sentimento; quando não é mais possível entende-la apartada de valor. Tudo hoje é valorado. A pergunta que se segue, verbalizada ou não sobre uma nova opção que pode ser de alguma forma transformada em produto é: qual é o valor venal do que está sendo discutido? A fatídica expressão, “tempo é dinheiro”, é tão icônica quanto danosa; ao final todos acabamos nos medindo em valor de tempo gasto – Quanto custa o seu tempo? “não há mais tempo a perder” – com o que? “O que eu ganho com isso?” ou “Eu vou ganhar dinheiro com isso?”. A expressão “fazer dinheiro”, choca por sua precocidade; por estar a cada geração antecipando o acordar adulto deste querer em suas vítimas. Hoje é possível observar crianças falando sobre seu futuro observando tão somente o fato abjeto de fazer dinheiro; o frívolo fator econômico. Ele sempre esteve presente, mas há pouco ainda havia algum resquício de altruísmo na carreira a ser escolhida.


Imediatismo - Não podemos fugir ao clichê barato do contexto, por sua pertinência, observando novamente que o tempo que pensamos estar ganhando (recebendo por); estamos perdendo em qualidade de vida, em dedicação a ações altruístas. Sejam elas externas ou para o nosso desenvolvimento – não aos estudos para receber mais, mas para o desenvolvimento mental e consequentemente adquirir uma consciência que fuja a este padrão insano que nos metemos.


Observada sob esta via de raciocínio, voltando à ideia da arte. Perdeu-se completamente a referência da beleza, da realidade e sensibilidade trazida à tona por gênios que visitaram este plano com seus mantras de exaltação ao Belo; a Arte Verdadeira. Através deste raciocínio, é fácil compreender o absurdo do nosso, hoje, pensar transformado. Tudo o que é criado é associado ao consumo, a alguma espécie de consumo, alguma via de consumo imediato, doentio. E se a isto não se valer; simplesmente todo o processo está fadado ao esquecimento. Classificado como entulho – no máximo será reciclado entre as classes apequenadas, que se prestam aos trabalhos degradantes, obrigadas, a fazer algum com os rejeitos das castas consumistas.

Não existe mais o espírito da arte, do belo, da beleza por si só. A visão é tão somente de ganho. Fazer dinheiro, honrarias e figurar entre aqueles que fazem a diferença, ou seja, ultrapassar a barreira do social comum (socialista) e participar do seleto grupo de comando (capitalista).




O esconder, o camuflar, para a governança – mesmo quando descoberto e isso leve a todos a questionar o que vem sendo praticado - faz parte da estratégia, ao contrário da massa de sustentação que deve deixar tudo as claras, nada pode ser feito que a lei não obrigue a ficar a mostra e portanto passível de ser discriminado, censurado ou classificado como ilegal, e seja monitorado com a precisão cirúrgica em seus inomináveis detalhes, onde qualquer atitude captada por estes radares tecnológicos ultra avançados condena o autor às masmorras sob o um comando nada evoluído.

Poderes efêmeros - A diferença do socialismo propriamente dito é que o indivíduo não tem voz alguma; ele simplesmente se submete e é submetido. Já o sistema atual vendido, em sua similaridade intrínseca, - tão somente um espelho surreal - dá a entender que é permissivo em algumas situações onde penosamente, de forma ilusória, todos se veem como donos de algum poder momentâneo, obviamente ilusório e jamais garantido, onde não é percebido que apenas corroboram com a ideia comprada de que são dele proprietários como um todo; em pé de igualdade, par e passo com os comandantes, caso erguessem a cabeça para alguma reclamação neste sentido; afora isso, o discurso da confiança cumpre eficazmente o papel da sossegada continuidade assegurada. É dado a entender que se faz parte, no entanto é só, e agarra-se a isso - uma espécie de colete salva-vidas -, a despeito de todos os heróis, lembrados apenas nas páginas de um histórico esquecido, quando membros tidos como partidários, amigos e conhecidos, se expuseram a um querer mais justo ou alguma adequação qualquer, uma reivindicação mais acalorada, de um momento para outro foram calados e tiveram seus direitos a justiça negados; ou foram burocraticamente negligenciados até serem demovidos de suas vontades. Entendendo que qualquer insistência maior poderia reverter contra a pessoa, ou grupo ou até familiares. Camuflado sob um discurso nem sempre polido, mas sempre ardiloso; insinuando que todas as ações são necessárias; fazendo menção à continuidade e à eficiência do processo.



Faz-se parte, mas, tão somente do jogo de cena. Não é possível que uma única mente sã entenda realmente estar integrada ao processo por si só – tão somente por seu existir puro e simples. Toda a estrutura de suporte que assim se entende é, claramente – e tão somente -, a energia e obrigatoriamente a sustentação deste processo e, ofuscados, entendem ser peças importantes que, se assim procederem – neste pensar - manterão com fidedignidade tudo funcionando da forma arranjada. Nessa constituição, é evidentemente desnecessário aludir a uma revolta maior, e quando em algumas ocasiões esporádicas por conta de um acirramento qualquer ele aconteça, o futuro o classificará como: possivelmente oportunizado, mas não negociado, por exemplo; demonstrando que elas são – foram – permitidas. A história poderá até adjetivar o evento com alguma espécie de honra, ou até mesmo desagravo aos próprios carrascos; jogo de cena comum, sempre oportuno, e muito apropriado.

Hemorragia secular - Vive-se um arranjo muito mal organizado, onde são visíveis e risíveis ate: permissividades compadrescas, uma espécie de bate/assopra. Um distúrbio aqui é deixado passar em branco a luz do dia, uma agressão acolá é amainada com panos quentes. Um grito de ordem mais alto é abafado com um cargo melhorado; um líder é convidado a um cargo junto à prefeitura, se for confiável ao comando, adestrado, passará a um ministro ou mesmo ao senado e galgará o caminho rumo ao coronelato.

Ameaças veladas ou um cala-boca vez por outra faz com que a paz volte a reinar. Afinal não pode ser considerado socialismo quando se há tanto capital em jogo e este vem sendo distribuído de forma que todos possam viver como iguais e com um conforto jamais imaginado nos tempos de escuridão, dirão; dizemos não. O igual é limitado e há um abismo abissal entre este e aquele grupo, muito além do lugar comum, que, distante, concede não apenas as permissões, mas dita as regras bem ou mal arranjadas que mesmo o mais apto a este entendimento dirá não a ele, insistindo que esta é a forma mais inteligente de manter uma espécie de equilíbrio social hoje. Não discordamos, mas a omissão, a passividade e a permissividade secular é a razão do estado atual – e este, não é exemplo de orgulho e temos certeza de que não possuem as rédeas sobre um futuro tragicamente incerto que o estado comanda consciente da certeza de que o dia será pequeno ao muito que não se conhece para administrar algum planejamento razoável. E tão somente o que buscamos com a pontuação de nossos estudos é estanca-la; clareando algo que ninguém quer assumir. Se isto acontecesse, somente daí, poder-se-ia negociar algum tipo de distribuição mais inteligente - e não falamos aqui, apenas de renda.

A ilusão de fazer parte - Comprar a ideia de que se mantém; de ser um membro nas colunas do mesmo pensar coletivo é o segredo para assegurar tudo funcionando do jeitão que está. Um sistema pronto e inegociável. Destarte, não há uma revolta maior, pois em doses anódinas pequenas regalias são ministradas e uma que outra ação mais contundente é permitida. Escusadas e paulatinamente aplicadas ao longo dos séculos, nem sempre precisam de severidade. O tempo mostra; mesmo aos seres ignorantes, formas de melhor execução. O preço, bem, este faz parte do processo e pode ser pesado também ao legislador. Mas eles se multiplicam danosamente ou não e aprendem juntamente com a evolução de suas sanhas. No melhor estilo do príncipe Machiavelli; ministra-se uma pequena dose de benesses alardeando uma quantidade muitíssimo maior juntamente com a dificuldade do espetacular pacote enquanto um iceberg pútrido passa ao largo deixando a mostra somente a ameaça visível que está sendo devidamente tratada. Que não seja estragada a festa; profissionais muito bem preparados estarão trabalhando incansavelmente para que ninguém perca as comemorações. Aqui está encerrada toda a magia, a luta e tranquilidade proposta e a postos do Socialismo Capitalista.




Todos os mecanismos, todos os subterfúgios; eventos inventados, homenagens e destaques que farão parte de alusões extraordinárias extensamente comemoradas com distribuição de prêmios e participantes em geral - não apenas aos vencedores -, serão tratados como todos devem ser tratados, e nestas ocasiões, indistintamente, claramente, o conjunto todo assim se sente. Todos são contagiados com as energias da confraternização da vez. Em meio a tudo isso é eleito um que outro que se destaca; um em milhões, um ícone, pertencente à multidão, do povo. Intenção nítida de dar prova. E convencer; iludir sobre o fato de que a probabilidade existe; tudo é possível – todos podem ver, assistir, sentir que ela é palpável. Apoderados e dominados sobre essa possibilidade. Vendida a ideia: estes eventos mantêm a todos distraídos na ilusão a que se presta; outra de tantas. Fazendo com que a atenção do público seja desfocada de algo que será descoberto ser uma trampa, um engodo, mas isso, somente muito tarde, quando já não se possui mais forças para lutar.



Impositividade ofertadaSob protestos; doutores em biologia contestam o humor ácido daqueles que insistem na correlação onde a condição peculiar da hiena, por conta de sua constituição natural se obriga, fora do bando, ou em pequenos grupos: chafurdar os despojos abandonados e restos desprezados e ainda assim suas investidas se dão sobre sons que mais parecem risadas. Assumimos, apreendemos, assimilamos que não devemos olhar apenas para o próprio umbigo na situação de mendicância a qual vivemos, devemos sim, olhar para o outro, não o outro que está bem, o outro que está mal, aquele que está pior que a gente. Ficamos procurando alguém que esteja em pior condição para avalizar a nossa condição de indigência e então aceita-la. Este acaba sendo o procedimento padrão, espiar a claudicância alheia.

Somos treinados a especular sobre aquele que está bem, no sentido de entender que podemos chegar lá. Observá-lo, acreditando sem reservas que podemos objetivamente nos espelhar neste; que podemos chegar ao mesmo nível, no entanto, ao examinar o depauperado estamos culturalmente condicionados também, a necessidade de compreender que a atual situação complicada não está tão difícil assim se analisada sob o prisma do miserável. E a sociedade insiste, com doutores, especialistas, amigos, parentes e psicólogos; a importância de entender que este estado não passa tão somente de um processo; afinal tudo poderá mudar em um instante – porém nunca muda; ao menos para a imensa maioria de nós – e acabamos por aceitar esta condição nada ideal como uma premissa de tranquilidade futura. É sim, uma filosofia aceita e aprendemos a entendê-la como um estar bem, um estar equiparado a todos, portanto, nada de mais em continuarmos rindo, farreando. Afinal, em algum grau, não há um que não sofra as agruras do existir humano e, se uma solução melhor não é encontrada, acabamos por entender este processo como natural. E é natural, porém existe uma força humana que carrega nas tintas, dificultando a caminhada, isto deveria ser compreendido para contrabalançar minimamente o ponteiro da balança.




Aprendizado - Veladamente convencionou-se que tudo o que diz respeito às necessidades pode e precisa ser negociado. Aprendemos e assimilamos muito bem esta lição. Tudo, repetimos, possui uma medida de valor; é valorado e, valendo-se ainda mais da necessidade, quanto mais sensação dela é criada, quanto mais os mecanismos consigam fabricar a ilusão de que é preciso forjar na população a sensação de necessidade: tudo é selado com a essencialidade que o produto passa a ter em nossas vidas. Quanto maior for a ideia individual ou coletiva que se consiga gerar, fabricar o mito da obrigação, maior valor monetário terá seu preço final. E mesmo quando esse valor é intrínseco, inegociável, ou não pode aparecer por conta da natureza do negócio, de alguma maneira ele ronda a se apossar das almas, espíritos e mentes dos envolvidos. Exemplo clássico é o que muitos compram por fé. Quando podemos observar que até ir a Deus, há milênios, foi transformado em um balcão de negócios. Onde o valor pago - com a vantagem de que aqui não há reclamação alguma em dispor de parte do soldo -, uma vez mais não beneficia o contribuinte, e tão somente catapulta social e economicamente os déspotas vigaristas que insistem ser: os indicadores do caminho.


Dependência e justiça – Quando alguém comete algo que não é condizente com o que determina a lei máxima da sociedade; a carta magna, a lei pétrea; ele é condenado e exemplarmente executado e expurgado do convívio social desde que não pertença ao primeiro grupo. Caso aconteça de assim ser imaginado ainda que alguma celeuma ou distúrbio qualquer seja aventado como agressão a este grupo ou venha ameaçar minimamente o estado garantido, ou perturbação a “paz social”, por exemplo. Se for necessária à correção em nome de uma lei ainda não promulgada, a ideia será rechaçada ainda nos porões vindo ou não à tona dependendo da necessidade de ser mostrado o exemplo; na maioria das vezes, percebido tão somente aos órfãos idealizadores ou para que alguém outro mais ousado seja demovido de qualquer ânimo de verdadeira justiça.




Nota: Enquanto escrevo mil ideias entendidas como apêndices vêm a mente. Todas interessantíssimas e impossível de serem descartadas. Coleto apenas o que minha mente retardatária consegue. Ao final digo que o texto é mais uma colagem do que algo dissertativo, tornando-se assim não um plano único e sim um apanhado de ideias e aforismos que foram minimamente ordenados e aglutinados sob um único título.






“O poder tende a corromper, o poder absoluto corrompe absolutamente."

Lord Actonz



*“Socialismo Capitalista”; 
é o mais novo capítulo a ser inserido 
na próxima edição de “Conversa!”.






076.n cqe









Socialismo Capitalista - Conversa!*



Socialismo Capitalista

Das permissões, assim não percebidas, que mantém equilibrada uma sociedade suportada com o devido verniz para tanto.


Pá de cal
A esperança está morta 
– Nietzsche matou Deus, porém, 
estou matando a esperança.
Quem sabe agora!?!



Do abrir das cortinas

É certo que o equilíbrio aparente é o melhor balanço até agora conquistado. Ainda que a um preço absurdo o processo todo vem funcionado; é preciso admitir isso, e ir além... ou ficar aquém, e aceitar. Quanto a isto; não há o que ser feito. Apelamos tão somente para a educação paulatina do cidadão para o que ele está vivenciando sem nem mesmo dar-se conta: que não há teto, na cabine há um total descontrole e estamos sem chão.






Acreditamos que no caos é possível abrir-se para oportunidades outras, porém, se se partisse de informações pensadas e dosadas, ainda que críticas; muito poderia ser feito em meio à tão irrefutável quanto eminente tragédia. 


ABSTRACT - O poder que assumiu a parte economicamente viável do planeta tem em mente, - ou ao menos parece ter - por se entender superior também em inteligência e, portanto os únicos com o conhecimento: o saber necessário a lançar mão das riquezas extraídas. Uma vez associados, criaram mecanismos para se apossar da parte maior como se – investidos tão somente de ideias - tomassem para si a paga a que tem direito por se entenderem: homens de nata proeminência, e desta feita: os únicos capazes para tal governança...   aos demais, cabe aceitar com passividade, afinal “aprendemos” – em alguns estados; sob coação - que poderia ser pior, então, o naco reservado a estes vêm com o carimbo de prêmio digno – aceito, comprado como um merecido sossego. Este é nosso caminhar; o resumo da ópera: esta filosofia, este implante, esta súcia – as denominações podem ser as mais variadas: tornou-nos tão insossos e passivos ao ponto da obrigação prostrada; do aceitar de bom grado o pouco que nos é separado.

Qual é a possibilidade de o sistema voltar-se à parcela maior da sociedade; nela investir, educando-a a ponto de torna-la co-partícipe de ações revolucionárias na busca honesta no sentido de otimizar a evolução social como um todo? 

A que nível um homem precisa se enfronhar para concordar que aceita sem perceber que seus direitos ao que é extraído não são distribuídos de forma equânime e ainda pior, paga muito caro para reaver o que lhe foi tomado, quando contrariamente seu comportamento natural o instiga a pactuar com a insistência de que isto é justo porque devemos confiar nos personagens por trás das propostas apresentadas – verdadeiras apólices carregadas de letras miúdas, notas de rodapé e entrelinhas?

Para tanto, ao longo de muitos séculos não apenas aceita como acolhe o que veio daí se desenhando, ou seja, que há todo um processo que exige que assim seja; que este é o único caminho para o equilíbrio desta sociedade, de modo a nos fazer acreditar que participamos como membros principais. E este pleito camuflado e carregado de obrigações, consiste em corroborar com a existência de uma mecânica para a tão ininterrupta quanto extenuante extração, e à fabricação, à manufatura, o armazenamento, o transporte e o lucro, por exemplo, e é tão somente por conta desta realidade que participamos e mais, e não é só, somos privilegiados; pagam-nos pelo tempo mínimo que nos privam da liberdade - nosso valiosíssimo tempo - ao recebermos soldos. No entanto não é apenas isso; esquecemo-nos, ao longo de jornadas intermináveis e outra distrações que: as riquezas extraídas nunca serão suficientes. Então todos precisam pagar taxas a outro grupo – tão necessário quanto caríssimo - que dá suporte as demais facções corporativas com discursos carregados de palavras prontas, - no nosso caso – alinhadas e alinhavadas minimamente. Vendendo ordinariamente a ideia totalmente arranjada e bastante inconsistente que: do pouco que a todos é reservado como salário, é preciso retirar um terço para sustentar tanto este grupo quanto os benefícios que promovem: hospitais, escolas, delegacias e algum entretenimento - ou muito, quando mais necessário... para eles.


Emboscadores profissionais - Assim, com este saldo no bolso vamos às compras, onde somos valorizados e muito bem recepcionados em uma arena onde leões famintos e doentes, acometidos de uma fome que não cessa; uma fome química. Verdadeiros viciados. Obsessivos obsidiados a nos esperar como se fossemos a droga a amainar suas fissuras. Zumbis escondidos em balcões ou biombos; vampiros ávidos a espreitar suas vítimas. Neste palco eles dominam. Imbatíveis, em bando e muito bem preparados. Dissimulados, nos disputam como carniceiros que enxergam uma carcaça depois de medonha estiagem. Ali temos valor – no bolso, ou com um mínimo de traquejo eles se apossam do nosso nome e nos concedem empréstimos; eles são fantásticos; são medonhos – ainda que, polidos. Dóceis; entregarão seu próprio dinheiro por muito pouco. 

Usaremos o crédito deles emprestado para comprar coisas deles mesmos. É uma festa; todos ficam felizes. Esta é a ocupação destes emboscadores profissionais – e uma espécie de alforria para nós. Uma demonstração de dedicação sem precedentes do ser humano. Jamais um grupo de caçadores fora tão dedicado a alimentar a família. O trabalho, o desprendimento dos grandes grupos sobrevive da busca frenética por pegar um naco dos quase dois terços do salário que resta ao trabalhador, ao proletariado, com exceção é claro, em alguns casos, da fatia que foi convencida sobre a inegociabilidade do preço da crença, que então é provisionada ao dízimo. Aliados protegidos, dominadores preparados multiplicam suas forças investindo em poderosos marqueteiros tão inescrupulosos quanto. Que se movem sobre a urdidura do: quem vender a melhor mentira tira uma fatia do saldo, já minguado, de um cardume cercado e fadado a retroalimentar este sistema.

Constituição familiar - Fundamentados em leis e escritas antigas insistem sobre a vantagem da procriação. Persistem; avalizados por crenças esquecidas e tão somente aí oportunizadas, até mesmo se mostrando crentes - se necessário for: que se tenham muitos filhos. Valorizam tão somente a instituição do casamento (o depois: separação, litígio, espólio e demandas neste sentido; movimentarão um mercado sempre promissor), insistem nisso fazendo alusão ao convívio familiar. Assim, sob auspiciosos e escusos verbos como, procriar, casar e se endividar, por exemplo, são massivamente estimulados e bem vindos. Sempre agregados com expressões que remetem à renovação, à esperança e à aquisição; quando todo esse corolário – invariavelmente desprevenido - prende o assalariado em um círculo vicioso onde a única saída que possui é se vender mais barato para saldar uma dívida que pode tornar-se insolúvel, e quando não, é dispendiosa e consome quase toda a energia do contribuinte, tornando-o mais um fiel desesperado e sujeito as agruras da entrega capciosa.

Que a instituição do casamento então seja salva em nome da nova ordem econômica; basicamente, é a partir daí que culturas que geram oportunidades continuaram a ser incentivadas. Que nos endividemos a vontade, e, ainda que seus incentivadores demonstrem uma espécie de preocupação fingida ao mostrar vez ou outra, formas para fazer com que controlemos estes apêndices adquiridos (leia-se, psicólogos, coaches e especialistas, por exemplo) devidamente honrados em suas datas de vencimento ou mesmo torturando os menos atentos - ameaçados com o que há de pior hoje no mercado: ter o nome sujo e consequentemente não ter acesso ao dinheiro disponibilizado a estes pobres desavisados. Tudo é bem vindo e estrategicamente negociado. Parece assustar, mas não. O imbróglio é de difícil mastigação e este expediente é proposital, ainda que não sintamos ou não desconfiemos de sua existência, ou seja, ele somente é de difícil degustação e impossível de entendimento, mas devidamente estudado para que assim se mantenha; incólume. Portanto, é uma fórmula vencedora que meticulosamente faz parte do negócio ao prender o assalariado em um círculo vicioso cuja saída mais viável é se vender mais barato para tentar saldar uma dívida que não termina nunca.


Enquanto isso, entre meios, o grupo dos governantes políticos – fartamente financiado - mantém tudo precariamente funcionando – saúde, educação, segurança, infra estrutura - em estados onde o ignorar do povo e a ignorância destes associados é maior, ao pensarem ser correto viver as voltas promovendo, articulando uma espécie de dança de cadeiras, e, somado a ela: uma burocracia de negociatas que não raro envolve escândalos sempre muito bem defendidos entre os acusados, cujo padrão é passar, quantas vezes for necessário, o bastão entre os cúmplices que conseguiram se arranjar mantendo-se às sombras.


Décadas de discursos e palavreados devidamente ajustados conseguiram aplacar o ânimo dos mais exaltados e descontentes, expurgando-os para o limbo dos pessimistas desajustados e por sua vez estas mesmas preleções foram amansando e contendo os acomodados em uma espécie de conforto necessário e na maioria dos casos bastante maleável; de fácil condução.

Se observado com carinho e atenção, por exemplo; a quantas andam: museus, bibliotecas, parques e o arquivo público! Que grau de atenção o poder instalado tem por estes espaços? Quase nenhum; e alguns sobrevivem por conta da iniciativa privada. E qual é o por quê? Não há interesse por espaços que não estimule o lucro. Manter uma biblioteca é dispendioso e não dá retorno – melhor que, por conta disto, temos menos zoológicos. Vide o buraco negro do tráfico de animais!?!

Que não se folgue aquele que defende a dificuldade do processo, pois em situações inacreditáveis muito bem camufladas; parte da estratégia da geração de um estado caótico onde o poder não apenas é necessário, mas o único a estabilizar as forças, protegendo assim os desassistidos; temos que: tudo é permitido por ele próprio; isto é fato. O estado hoje estabelecido tem força suficiente para não apenas debelar protestos contra a forma de governo constituído como também possui efetivo para coibir definitivamente toda organização do tráfico, toda espécie de desmatamento e ataques contra o planeta. O roubo e a violência, o contrabando, as facções, os radicais de toda espécie e até um ditador investido ou mesmo países inteiros, a questão que não cabe responder aqui é; e porque não o faz?


A propaganda marqueteira política vem de tempos; não é mesmo, um produto contemporâneo. Elogios, exaltações, prêmios, condecorações a pequenas sociedades cujas visitas anunciadas do grupo maior, ainda que fosse por um dos seus menores em grau de importância, era propagandeada aos quatro ventos com meses de antecedência atingindo todas as glebas até chegar, reparado, ao estado atual ainda que nada seja realmente percebido – nem mesmo que este expediente continua sendo utilizado.

Heróis duvidosos serão para sempre comemorados; marcas de renome mundial foram cunhadas, guerras foram ganhas, revoluções aplacadas, a paz foi garantida – muito por conta de propagandas sobre como era - e a comunhão entre os grupos é mantida de uma ou outra forma – sempre com algum inimigo em evidência - a vender ao povo a imagem de preocupação e intranquilidade, isto é, o histórico mostra que o poder maior, incansável, estará a postos para defender os direitos daqueles que permanecerem fiéis ao estado; independentemente de qual seja o inimigo – eleito - da vez a ser mostrado como ameaça.

Universos paralelos - Sob o mote de que todos são iguais: sócios, associados e seus garantidores, por exemplo, serão mostrados como indistintos. Corporativos bilionários, proprietários de marcas tornadas mito na mente culturalmente consumista instalada, lançam mão de todos os artifícios não ortodoxos para que seus produtos, supervalorizados, ao ser consumido a exaustão no mundo milionário como símbolo de status, encontrem nestes expedientes nada convencionais ou a “margem” da lei, ocasiões, formas, brechas, até finalmente fazer parte do cotidiano familiar. Configurados finalmente como itens básicos a ser utilizados também pela classe social proletária, através de grandes fábricas que se utilizam do trabalho escravo, do contrabando convenientemente não combatido, ou da montagem de estruturas fabris em países onde as leis não respeitam os direitos humanos e por aí vai. Universos paralelos; onde não há limites e as regras não são aplicadas, ou seja, é coibida qualquer agressão que por ventura venha à tona - ou quase impossível -, venha a ser denunciada. Deste modo todos podem estampar no peito – inclusive o pobre, ardilosamente incentivado a ostentar -; marcas mundialmente famosas, símbolos de status que remetem às marinas de grandes Resorts e praias paradisíacas frequentadas somente por aqueles que permitem que tudo continue assim funcionando “perfeitamente”; lugares como Hampton, Riviera francesa, Monte Carlo...



*“Socialismo Capitalista”; 
é o mais novo capítulo a ser 
inserido na próxima edição de “Conversa!”.







O rei não está nu; ele jamais esteve vestido – sempre envolvido a comandar tapados.








076.o cqe