Ao tomar
conhecimento do “exemplo de Mirabeau”, me ocorre a utópica possibilidade da
soma dos bens individuais de cada homem em um único ser; como isso seria
possível e para que serviria aqui? Uma possível congruência de decência, caráter,
ética, amor e valores, por exemplo.
Se o outro
tem algo bom, se um terceiro singular é uma espécie de modelo a ser seguido,
como faço para ser exemplo somando então todos os exemplares... de bondade, de
respeito, de compaixão, de perspicácia, de tomadas inteligentes... A que sorte
de situação atingiríamos ao culminar este indivíduo de razões singulares com o
avanço da ciência na correção das patologias?
“(...)
E o próprio
ressentimento, quando se apodera do homem nobre, esgota-se numa reação instantânea;
por isso não envenenas ademais, em
inúmeros casos, o ressentimento não explode, o que entre os fracos e impotentes
seria inevitável. Não conseguir levar durante muito tempo a sério seus
inimigos, suas infelicidades e mesmo suas más
ações, eis o sinal característico das naturezas fortes, em pleno
desenvolvimento e de posse de uma superabundância de fôrça plástica,
regeneradora e criativa que leva até ao esquecimento. (Um bom exemplo dêsse
tipo, tomado do mundo moderno, é Mirabeau, que não tinha a memória dos
insultos, das infâmias cometidas contra êle e que só não podia perdoar porque
esquecia). Um homem dessa envergadura com uma simples sacudidela se livra da
piolhada que noutros se instala para sempre; é sòmente aqui que se torna
possível o ‘amor aos inimigos’, admitindo-se que seja possível sôbre a terra.
Que respeito pelo inimigo tem o homem superior! – e uma tal respeito já
constitui um caminho aberto para o amor... Pois se assim não fôsse como poderia
êle ter um inimigo próprio, um inimigo seu ùnicamente, se só pode suportar um
inimigo em que nada haja a desprezar e se encontre muita coisa digna de admiração? Ao contrário, se nos representamos
o ‘inimigo’ tal como o concebe o homem do ressentimento, verificamos que se
trata de uma criação sua, tôda particular: concebe êle o ‘inimigo mau’, o
inimigo com um ‘astucioso’, conceito fundamental para o qual êle concebe uma
antítese, ‘o bom’, que não é senão êle próprio. (Genealogia da Moral)”. [sic]
p89/90.
Em Os Imortais do Pensamento Universal - Nietzsche
Homenagem à Honoré
Gabriel Riqueti de Mirabeau
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