“Parece evidente que a definição de existência se complica cada vez mais. Se reconheço que há coisas não materiais que existem, então tenho de mudar de critério para reconhecer as coisas que existem. Já não basta dizer que só existem as coisas que podem ser percebidas através dos sentidos. Poderia dizer, por exemplo, que existem todas as coisas, materiais ou abstratas, que inflem neste mundo. Isso significa que as ideias não são materiais, mas influem em nossas ações, portanto, existem. Inclusive uma ideia que não influi em nosso comportamento pode existir. Basta que se possa penar nela. Chegando a esse ponto, começamos a nos surpreender de fato. Parece que a existência das coisas depende de nossa capacidade de pensar nelas.” p24
“Hoje sabemos que a natureza não é sempre a mesma. Os animais evoluem, o clima muda, os continentes se deslocam. Talvez a humanidade também seja capaz de mudar...” p28
“Tudo brilha, sabemos eu o mundo não é assim, mas voltamos sempre, mesmo que seja somente para passear, fascinados pela ilusão que esse meio provoca.” p36
“A sociedade
de consumo em que vivemos é o exemplo mais claro da ilusão que é agora nossa
vida cotidiana. A publicidade tenta nos convencer de que tudo está a nosso
alcance, quando na realidade são objetos que ela nos fez aprender a desejar.” p36
A Ilusão Vital “A ilusão é necessária para viver. Mas, enquanto Pascal procura refúgio na religião, o alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900) afirma que não existe nenhum refúgio possível para aquele que entendeu que tudo é ilusão. Tudo o que os homens admiram eram simples ilusões que compensavam nossa impotência para suportar a vida. Nietzsche propões que aprendamos a assumir a presença das aparências. Procurar a verdade é procurar a segurança, mas as coisas não têm por que nos transmitir segurança. Saber viver num mundo somente de aparências exige um valor especial.” p37
Confirmar uma teoria – “Costuma-se pensar que a experiência pode confirmar uma teoria científica. Quando as consequências deduzidas da teoria são contrárias aos fatos observados, torna-se evidente que a teoria se encontra assim invalidada. Mas, se quisermos ser rigorosos, teremos de aceitar que nenhum experimento pode confirmar definitivamente uma teoria. Esta só resiste um tempo aos experimentos realizados para refutá-la. Além disso, para confirma-la teriam de ser realizados experimentos em todas as circunstâncias possíveis, o que representa um trabalho infinito e, portanto, irrealizável.” p43
Racionalidade e liberdade - “O homem pode tomar decisões mesmo que não perceba nenhum estímulo proveniente de seu meio. O uso da razão que o homem faz lhe permite construir mentalmente um mundo possível, o mundo em que desejaria viver, e todos os seus atos terão como objetivo transformá-lo em realidade. Talvez a liberdade do homem não consista tanto em procurar a melhor forma de adaptar-se a seu meio, mas em adaptar o mundo a seus próprios desejos, mediante a habilidade da razão.” p47
Racionalidade e história – “Pensar que a filosofia deve tentar explicar tudo em termos racionais não implica que tudo seja razoável e que tudo o que ocorre no mundo esteja justificado. Portanto, não se trata em nenhum caso de justificar ou legitimar as atrocidades da história, mas de entender que inclusive nas ações humanas nada é casual. Sempre se pode encontrar uma lógica naquilo que aconteceu. Mas se trata de saber o que pensar de nossas motivações, se são razoáveis ou não, e também de saber se somos capazes de conhecer todas as causas que nos movem.” p47
Racionalidade e realidade – “Podemos afirmar, como acreditavam os gregos, que o mundo é racional? O mundo está feito na medida de nossa capacidade para entende-lo? Depende de nós crer que nossa racionalidade corresponde à ordem real do mundo ou é tão-somente uma maneira mais de vê-lo. No início do século XIX, Hegel denunciava o racionalismo estreito do Iluminismo que zombava da religião e das superstições do passado em nome da razão. Hegel considera que o verdadeiro filósofo não é aquele que julga ou condena, mas aquele que tem a ambição de entender tudo, inclusive aquilo que parece contrário à razão.” p47
“No final do século XVIII, Kant propõe outra teoria. Todos os homens estão dispostos a viver em sociedade, mas essa tendência natural entra em conflito com outra tendência que faz com que cada indivíduo pretenda impor sua singularidade. Todos sentem a necessidade da vida em sociedade, mas a ambição pessoal faz com que cada um aspire a desfrutar de privilégios que os outros não têm. Segundo kant, essa astúcia da natureza faz com que todo indivíduo se veja obrigado a superar sua tendência à preguiça pela alta estima que tem a si mesmo e por aquilo que acredita que merece.” p69
No século
XIX, o poeta americano Henry Thoreau preferiu o cárcere a pagar os impostos a
um Estado em que não acreditava. p71
A tentação do
poder – No Evangelho está escrito que Jesus, ao ser tentado pelo demônio no
deserto, este lhe propôs todas as riquezas do mundo se ele o adorasse. Jesus
resistiu e entendeu que seu poder não devia ser uma superioridade sobre os
outros, mas uma grande responsabilidade. p73
Para Nietzsche, todas as ideias são puro engano. A única coisa autêntica que podemos sentir é a força da vida em nós, entendida como vontade de poder, como afirmação de si mesmo. p73
Um dos exemplos mais claros do poder da vontade no-lo dá a tradição grega do estoicismo. É conhecida a capacidade do sábio estoico de aguentar os sofrimentos e as desgraças da vida com a mesma serenidade. O fatalismo dos estoicos é a aceitação da necessidade. Não se deve ver nessa atitude uma forma de resignação, mas uma força guiada pela razão. O mal não está nas coisas que nos acontecem, mas em nossos desejos. Trata-se de aprender a desejar o que existe, ou seja, transformar a natureza de nossos desejos em vontade do que deve ser. p87
Descartes vai se inspirar na atitude estoica ao considerar que é preferível mudar seus próprios desejos a muda a ordem do mundo. p87
No livro; Atlas Básico de Filosofia
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