Pensei
bastante e falei então a ele, estava mais uma vez tentando, - sempre imaginando
se não prestaria atenção na minha impertinência, afinal ele não respondia quando
entendia que a curiosidade se fazia presente ou era mais forte que o desejo de
aprender – através de meu mestre, entender se haveria a possibilidade de virar
o jogo, mudar, abrangendo um número maior de pessoas, no que ele chama de
Corrente de Entendimento do Existir Terreno, onde sua definição dispensa explicação por estar, logicamente, inserida na própria proposta.
Uma
breve ilustração sobre o significado de Corrente de Entendimento do Existir
Terreno: tem a ver com a conscientização do que realmente importa para o homem
saber sobre seu nascimento neste planeta - o saber inserido aqui não tem nada a
ver com o nosso saber comum, de aprendizado, tem a ver com sentir que se é
mais, tem a ver com sentir que há mais, tem a ver com sentir mesmo que por um
único insight (e então agarrar-se a este momento) que tudo o que aprendera até então
foi importante, porém a pessoa, por si mesma, entende, sem que ninguém o
transmita diretamente: que somos essência e ao mesmo tempo entende a essencialidade
de aqui estar; e como assim finalmente nos descobrimos, passamos a compreender
todo o processo de existência com outros olhos, com outra importância, com o que
o mestre diz ser: “o primeiro toque da verdadeira luz sobre o néctar adormecido
do sentimento de exclusividade diante do Todo”. Mas não podemos nos enganar, -
nós, mero ouvintes deste acontecimento - ensina o mestre, que esta
exclusividade o mantém egoísta como sempre foi, ao contrário, ao tocar sua
exclusividade interior ele se vê igual a todas as criaturas e também criadores
do universo, e complementa: “é neste momento que todo o universo volta-se para
este pequeníssimo ser, e esta ínfima partícula que foi finalmente tocada, dá um
gigantesco passo em direção ao todo universo”.
Uso
aqui, porém: “um maior no úmero de pessoas”, apenas como ilustração, afinal a
informação que se tem a este respeito é que este número é muitíssimo reduzido;
seus registros apontam que um dos maiores empecilhos para tal entendimento se
dá pelo fato de que a maior abrangência de indivíduos que aplica uma disciplina
mínima em entender realmente o porquê aqui está, está diretamente vinculada a
alguma instituição religiosa ou algo que a isto remeta, o que o mestre entende como
perfeitamente normal. Diz ele que para nós esta é a maneira mais fácil, embora
não precise ser assim para que as pessoas aos poucos entendam a continuidade da
vida e que não julguem o estar aqui apenas como uma evolução calcada em
princípios de realização pessoal.
O problema reside no fato de que, com o
passar dos anos a instituição, assim como pensa o homem, - pois ele é o comando
de tudo - se quer maior que a obra ensinada, e isto nunca será algo bom para o
nosso despertar; nunca, e para ninguém. Portanto, ao longo de um período
qualquer a ideia inicial continua inicial, se perde, ou é direcionada para
outros interesses totalmente avessos a proposta que mesmo sendo ainda utilizada
como a correta, há tempos foi desviada de sua rota original. Por outro lado,
diz o mestre, este desvio é prejudicial principalmente porque muitas portas
para novos entendimentos são trancadas para sempre, ensina ele que mesmo que o
aprendizado se baseie em um ponto principal, primordial, essencial, e é a
partir de então que se forma todo um complexo de ideias, estudos e iniciações:
todo esse processo não é somente isto, (ele é infindável, não é possível que
pare; pode ser parado, mas não existe um fim como nós o conhecemos) e aí está a
pior perda: a falta de entendimento sobre a continuidade eterna e perene de
todo o processo.
Há,
conclui o mestre, uma perda descomunal ao ficar-se martelando apenas a ideia inicial,
acreditando que o cerne é o mais importante ou a única fonte que importa, o
cerne; a semente é o princípio; ela invariavelmente brota e morre, o que vale é
a continuação da proposta de o que existe dentro da semente, isto, aqueles que
se dizem maior que o processo não ensinam porque também não buscaram sair da
semente.
É
importante lembrar aqui que não estamos falando em graus inalcançáveis que
remetem a disciplinas duríssimas. O conteúdo aqui remete única e exclusivamente
ao fato de que aos poucos nos entendamos superiores em essência, acordados no
que diz respeito à continuidade de uma existência calcada em seguir o fluxo
porque uma serie de outros entende que assim sempre foi e assim sempre será,
esta máxima não é necessariamente mentira ou inventada, afinal é preciso que compreendamos
que tudo continuará sempre sendo como sempre foi. O que busca a Corrente de
Entendimento do Existir Terreno, é que se faça; que se trilhe o caminho deste “sempre”,
com uma chama acesa no peito, a chama de que se é especial, de que temos todo
um universo a ser desbravado, na continuidade do existir como ser, mas
principalmente não na esperança terrena, mas na certeza alinhavada nada menos
do que pelo universo, pois devemos acreditar que, como somos parte do universo
o universo pode se comunicar conosco, então avalizados pelo universo entendermos
finalmente que: há mais.
Há
mais e nós todos podemos tê-lo. Podemos a partir de então ser mais ousados contextualizando
o que todos nos dizem sobre o fato de que podemos alcançar as melhores notas,
os melhores cargos, fazermos os cruzeiros mais fantásticos por todos os mares
conhecidos e possíveis, podemos ser o ator, o cantor, o diretor, o cientista
que irá ser o primeiro a pousar em Marte, mas, a partir do “há mais”, nós poderemos
ser ainda superior ao cientista, ainda superior mesmo ao presidente, porque
todas estas situações nos limitam a leis relativas e necessárias apenas a nós
agora, então nós podemos ser tudo isso e ainda imaginarmos que depois de
vivermos como a maior dos atores, poderemos, não descansar, mas sim continuar
imaginando e concretizando vontades ainda a nós inimagináveis, e tudo isso vem
apenas de um ponto bastante comum que é buscarmos entender, realmente, como e
porque estamos aqui agora.
E a
resposta mais rápida e simples para esta conscientização está no fato de que o
universo não é uma matéria estática; parece brincadeira colocar assim, porém
este é um dos pontos chave a ser explorado na busca para um entendimento pessoal
interno.
É
importante fazer mais um aparte aqui lembrando que alguns estudiosos insistem
que o primeiro e melhor processo de resolvermos nossos problemas é descobrir-se
com o problema, ou seja, na maioria das vezes não temos a real dimensão do que
estamos enfrentando, de com o que estamos verdadeiramente lidando.
Voltando.
A partir de então, o mestre se vale da constituição do universo que bem sabemos
está em expansão constante e eterna. Insiste ele, perguntando: “como se é
possível que um ensinamento se mantenha estático por milênios quando tudo no
mundo é relativo se partirmos do ponto de vista da evolução perene e eterna?”,
e aqui dá uma alfinetada; “afinal alguns cientistas já provaram a ocorrência
desta expansão”; o que significa que devemos entender que especialistas
autorizados já avalizaram esta informação, portanto, ela é verdadeira, basta
aplicá-la em sua abrangência levando em consideração cientistas outros que
descobriram o intrincado processo de que toda a estrutura a nós importante é um
universo em miniatura, ou seja, ela repete o universo maior (pelo menos aqueles
a eles revelados), porém para isso, é preciso que vença-se a inércia pessoal,
outra lei facilmente explicada pela ciência.
Finaliza
afirmando que é este processo de entrar em um tipo de módulo de espera, onde é
pior, não se sabe o que esperar, e ainda muito pior, não se sabe que se está em
módulo de espera, tudo é mostrado como se aquele fosse o processo normal, como
se é assim que é, quando ele e sua equipe de mestres insistem sempre: jamais é.
A estática é importante, porém nunca na evolução do aprendizado, na evolução do
seguir em frente descobrindo o que realmente há por trás da próxima de milhões
de cortinas que somente se desvelará se este continuar que deveria ser comum e
de fácil entendimento acompanhasse o pulsar do universo.
Sempre,
tudo, me parecia tão claro, porém eu não estava ali para ouvir uma vez mais o
que já aprendera, assimilara e repassara para mais de uma centena de pessoas, e
embora soubesse da dificuldade que é aplicar esta ideia, estava novamente
tentando encontrar uma forma de melhorar, pinçando argumentos, palavras
impregnadas de energias que ao serem formuladas atingisse o objetivo maior que
era fazer com que as pessoas mais próximas mesclassem a seu existir cotidiano,
principalmente ao seu querer, ao que buscaram até então, alguns novos
interesses. Que fosse neles despertada a semente do depois. Embora entendendo
que o importante é o agora; minha intenção era que este agora ficasse mais
interessante quando estas entendessem o real significado de aqui terem nascido.
“Acalme-se
meu filho,” disse-me ele, “tudo está certo como está. Quantas vezes terei que
explicar que a tudo há seu tempo. Esta lição é mais antiga que andar para
frente, iremos mais uma vez gastar energia com isto? E mais uma vez: não existe
fórmula mágica para o despertar, isto é exclusivo, único e distinto para cada
um. Eu poderia enumerar mais uma série de palavras que designam unidade, porém
acredito que não preciso, certo! Cada qual tem seu momento, não tem nada a ver
com o querer, tem a ver com o sentir. É claro que não é por isso que deixarás
de praticar a tua vontade de mostrar o que agora vês, mas pensa: de que adianta
levares uma criança ainda de colo para ver um filme infantil que desperta o fascínio de seus irmãos mais
velhos? Não raro ela acabará por incomodar todos os demais, e por outro lado,
não existe todo o processo que já foi lhe explicado centenas de vezes com
relação a evolução constante do universo! A partir deste conhecimento, - vamos
voltar ao filme infantil - é certo que aquele que não puder assistir o filme
hoje, poderá fazê-lo outro dia e sentirá com certeza o mesmo que todos
sentiram, por outro lado se isto se der muito além do nosso agora,
provavelmente outros diretores construirão filmes ainda superiores que
despertarão emoções ainda mais forte que o anterior, e então, pode que a
criança tenha crescido ao ponto de poder ou se interessar também por este tipo
de filme.”
“O
processo é lento”, continuou, “e isto é somente aqui, este é o seu plano atual,
não há o que se possa fazer, muita coisa mudou. Praticamente todo o processo
inicial foi corrompido, o planeta Terra tomou outros rumos, porém nada está
realmente perdido. O que é “isso tudo”, que você diz, frente ao universo que
apenas o homem conhece? Digo apenas porque me refiro a mente atrofiada do
homem, e quando digo atrofiada não me refiro de modo pejorativo, é assim porque
se fosse diferente seria ainda pior, alguns que aqui vieram com mentes mais
desenvolvidas acabaram não suportando a pressão ou mesmo não souberam como
lidar com a diferença, porém todos a terão um dia em algum lugar, na sua
plenitude, e acrescento: somente se assim o desejar. Ao final de alguns pontos
a partir daqui, as escolhas tomam rumos tão diversos quanto o número de
estrelas que existem no céu; tanto teu quanto meu, diga-se de passagem.”
O
que eu iria dizer então, mais uma vez saí com uma mão na frente e outra atrás,
não adianta, pensei, minha ânsia deve ser acalmada por si só, porém mesmo não
parecendo, é tão bom reviver ensinamentos, e pensei mais uma vez o quanto somos
egoístas, mesmo que pareça estarmos buscando algo para todos, não raro, ao
final, saboreamos felizes e sozinhos o que conseguimos para nós.
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