sábado, 18 de janeiro de 2014

Homem satélite





         Alguns de nós não descendemos do macaco e sim do porco. Somos fuçadores natos. Pairamos diante ou além, e como perdigueiros, esquadrinhamos o sito e acabamos por levantar a lebre mais esperta. Por melhor que seja seu disfarce, seu silêncio, sua mimetização em meio ao caos estranho ao que parece ser um ser externo; a descobriremos. Ao menos: sentiremos sua presença. E ainda que sem dono, ou senhor que nos prestigie, que prestigie, que perceba o faro apurado do material, porco, cão, humano que tem à mão, por si só, continuaremos com nossos sentidos todos, voltado em direção a caça; é instintivo.

        Este tipo diferenciado de indivíduo pode ser chamado de; “Homem Satélite” [1]. E ele ocorre, aparece, acontece, em todo e qualquer ambiente, porém, o homem objeto/alvo aqui: é aquele que pensa a natureza humana.

        Este ser que voltará a fazer parte das páginas mitológicas do amadurecer do homem não apenas para preencher a lacuna da história, como a demonstrar que existiram pessoas preocupadas em fazer diferente. Ainda que, evidentemente, em seu tempo, apenas tenha pairado, sobre tudo, sobre o mundo humano, e o mundo do homem em evolução ou do mundo em evolução do homem: observando em silêncio, muitas vezes, - mesmo tendo muito a grasnar – como a ave de rapina que raramente é vista entre o, ou em meio ao comum ordinário.

Quem inspirou este preâmbulo foi o senhor Edgar Morin. Não sei se ele é uma ave de rapina, - um Humano Satélite incógnito - mas é certo que se trata de um ser diferenciado.

Estudado, cita que os prospectivistas dos idos de 60 “erroneamente”, “Construíram um futuro imaginário a partir de um presente abstrato”, observando primeiramente a segurança destes especialistas que se baseavam em palavras como: “passado arquiconhecido”, o presente era “evidentemente conhecido”, e que os alicerces de nossa sociedade eram “estáveis”. Pouco li, desse verdadeiro Satélite, porém não mais preciso para entender o fato que se trata de um inconformado e mais do que isso, percebe que as lebres hoje, pululam como baratas em restaurante gordurento da praça, e ainda assim, nada pode ser feito porque os “alicerces”, os “especialistas”, os “prospectivistas”, não combinaram com o gênio humano, com a voluptuosidade humana, com a liberdade humana de se crer insuperável: que são e sempre foram necessárias, medidas que equilibrassem o querer, o descobrir, o imputar leis ou o legislar desmedido, pois, nem os melhores videntes poderiam prever os efeitos da globalização, por exemplo, ou a interdependência entre os povos, - algumas inquietantes - ou que a evolução desequilibrada de alguns destes, poria em risco, mesmo sem um único apontar de armas, a estabilidade do outro.

        Da minha parte insisto sempre na surrada crença, repito; particular: do homem crente que se crê infalível, imbatível (prepotente e nada razoável), que então, de maneira alguma precisa radicalizar em suas ações de contenção do estado desequilibrado vigente, mas sua segurança reles somado aos interesses escusos é patente; e por inúmeros motivos é esta espécie de homem que vem ditando as regras há muito. Ainda que contrafeito, entendo, através de um refletir ponderado, que é perfeitamente aceitável e necessário o ponto de vista onde: ao final, é bom que isto não aconteça; pois estamos na dependência destes senhores retrógrados – especialistas orgulhosos do que (não)aprenderam - que em muito falham em tomar ou não tomar decisões, o que fatalmente ocasionaria, resultaria, - se tentassem alguma medida abrupta - em um quadro futuro de constatações ainda mais catastróficas frente ao já articulando, ou, em suma, qualquer um que sabe entende que a solução se distancia a cada dia mais.  

O marasmo dos panos quentes, do em-cima-do-muro, da cada vez mais obrigatória[2] política de boa vizinhança. Tem demonstrado que se avizinha uma cobrança que, repito, embora deva ser paga pelo tomador devido, em muitos casos, parceiros, (vizinhos, ou amigos comerciais) sentirão os estilhaços ou mesmo os estrondos provocados, - isso a despeito das mais traiçoeiras precauções tomadas - e ela se deve a uma espécie de união aliada de causas naturais, por conta da fragilidade das fronteiras hoje que envolvem as negociatas, e por isso, pode ser sentido também, muito além do epicentro da crise, ou do estresse gerado.
         Mas isso tudo são elucubrações mentais de uma velha ave de rapina que procura sua montanha para finalmente descansar em paz.



[1] Entendido também assim, não apenas por ser um esquadrinhador nato; como um satélite, pouco pode fazer além de observar – é e sempre será um objeto.
 
[2] Somente em termos negocistas
 
056.g cqe