Alguns de nós não
descendemos do macaco e sim do porco. Somos fuçadores natos. Pairamos diante ou
além, e como perdigueiros, esquadrinhamos o sito e acabamos por levantar a
lebre mais esperta. Por melhor que seja seu disfarce, seu silêncio, sua
mimetização em meio ao caos estranho ao que parece ser um ser externo; a
descobriremos. Ao menos: sentiremos sua presença. E ainda que sem dono, ou
senhor que nos prestigie, que prestigie, que perceba o faro apurado do
material, porco, cão, humano que tem à mão, por si só, continuaremos com nossos
sentidos todos, voltado em direção a caça; é instintivo.
Este tipo diferenciado de indivíduo pode ser chamado de;
“Homem Satélite” [1].
E ele ocorre, aparece, acontece, em todo e qualquer ambiente, porém, o homem
objeto/alvo aqui: é aquele que pensa a natureza humana.
Este ser que voltará a fazer parte das páginas mitológicas do
amadurecer do homem não apenas para preencher a lacuna da história, como a
demonstrar que existiram pessoas preocupadas em fazer diferente. Ainda que,
evidentemente, em seu tempo, apenas tenha pairado, sobre tudo, sobre o mundo
humano, e o mundo do homem em evolução ou do mundo em evolução do homem:
observando em silêncio, muitas vezes, - mesmo tendo muito a grasnar – como a
ave de rapina que raramente é vista entre o, ou em meio ao comum ordinário.
Quem
inspirou este preâmbulo foi o senhor Edgar Morin. Não sei se ele é uma ave de
rapina, - um Humano Satélite incógnito - mas é certo que se trata de um ser
diferenciado.
Estudado,
cita que os prospectivistas dos idos de 60 “erroneamente”, “Construíram um
futuro imaginário a partir de um presente abstrato”, observando primeiramente a
segurança destes especialistas que se baseavam em palavras como: “passado
arquiconhecido”, o presente era “evidentemente conhecido”, e que os alicerces
de nossa sociedade eram “estáveis”. Pouco li, desse verdadeiro Satélite, porém não
mais preciso para entender o fato que se trata de um inconformado e mais do que
isso, percebe que as lebres hoje, pululam como baratas em restaurante
gordurento da praça, e ainda assim, nada pode ser feito porque os “alicerces”, os
“especialistas”, os “prospectivistas”, não combinaram com o gênio humano, com a
voluptuosidade humana, com a liberdade humana de se crer insuperável: que são e
sempre foram necessárias, medidas que equilibrassem o querer, o descobrir, o
imputar leis ou o legislar desmedido, pois, nem os melhores videntes poderiam
prever os efeitos da globalização, por exemplo, ou a interdependência entre os
povos, - algumas inquietantes - ou que a evolução desequilibrada de alguns destes,
poria em risco, mesmo sem um único apontar de armas, a estabilidade do outro.
Da minha parte insisto sempre na surrada crença, repito;
particular: do homem crente que se crê infalível, imbatível (prepotente e nada
razoável), que então, de maneira alguma precisa radicalizar em suas ações de
contenção do estado desequilibrado vigente, mas sua segurança reles somado aos
interesses escusos é patente; e por inúmeros motivos é esta espécie de homem
que vem ditando as regras há muito. Ainda que contrafeito, entendo, através de
um refletir ponderado, que é perfeitamente aceitável e necessário o ponto de
vista onde: ao final, é bom que isto não aconteça; pois estamos na dependência
destes senhores retrógrados – especialistas orgulhosos do que (não)aprenderam -
que em muito falham em tomar ou não tomar decisões, o que fatalmente
ocasionaria, resultaria, - se tentassem alguma medida abrupta - em um quadro
futuro de constatações ainda mais catastróficas frente ao já articulando, ou,
em suma, qualquer um que sabe entende que a solução se distancia a cada dia
mais.
O
marasmo dos panos quentes, do em-cima-do-muro, da cada vez mais obrigatória[2] política
de boa vizinhança. Tem demonstrado que se avizinha uma cobrança que, repito, embora
deva ser paga pelo tomador devido, em muitos casos, parceiros, (vizinhos, ou
amigos comerciais) sentirão os estilhaços ou mesmo os estrondos provocados, -
isso a despeito das mais traiçoeiras precauções tomadas - e ela se deve a uma espécie
de união aliada de causas naturais, por conta da fragilidade das fronteiras hoje
que envolvem as negociatas, e por isso, pode ser sentido também, muito além do
epicentro da crise, ou do estresse gerado.
Mas
isso tudo são elucubrações mentais de uma velha ave de rapina que procura sua
montanha para finalmente descansar em paz.